A Premier League e o futebol inglês são conhecidos por estar um passo à frente das restantes ligas. Apesar do muito que é feito no desporto inglês em geral, e muito particularmente no futebol, ter uma conotação direta com marketing e publicidade, a ideia por trás de cada campanha é, claramente, educativa. Uma organização mede-se em grande parte não só pela sua capacidade de adaptação mas também de reeducação. E uma sem a outra, normalmente não têm o desfecho ideal.

A constante adaptação do futebol inglês ao mercado e o contínuo esforço para educar os participantes, diretos e indiretos, no espetáculo são de louvar. Da fomentação do futebol jovem à luta pela igualdade de oportunidades para todos, da celebração e consequente chamada de atenção para os direitos LGBT às inúmeras campanhas contra o racismo. Do apoio a pacientes com doenças terminais a campanhas de apoio a países em situações vulneráveis, podíamos escrever um artigo inteiro apenas sobre os esforços da Premier League e da Football League em se educar a si e aos consumidores do seu produto e, consequentemente, poder progredir e continuar a crescer como organização.

Hoje, apesar de não falarmos diretamente da Premier League e da Football League, falamos de algo que não é indiferente à cultura inglesa e que vai ao encontro da preocupação, educação e progresso. Além disso, o clube em questão participa na League Two, liga organizada pela Football League.

Dale Vince e o Forest Green Rovers

Forest Green Rovers
créditos: GEOFF CADDICK / AFP

Habitualmente, a cultura futebolística e as preocupações ambientais não andam propriamente de mãos dadas, mas há quem esteja determinado em mudar tal situação. Dale Vince é um empresário inglês de 57 anos apostado em mudar o mundo para melhor. Em 2010, o já proprietário de uma empresa de “energia verde”, a Ecotricity, resolveu investir parte da sua fortuna num clube de futebol. Mais do que tornar o clube num projecto vencedor, Vince quis fazê-lo em grande estilo e à sua maneira, aplicando a sua filosofia de vida. Tornando-se, na altura, o proprietário maioritário do Forest Green Rovers, tornava-se, em apenas três meses, no Presidente Executivo do clube e abria portas à mudança que viria a correr as bocas do mundo.

Vejamos então o que veio mudar Dale Vince e como está ele a alterar, de forma radical, a visão de negócio e a maneira de estar de um clube de futebol.

"Moneyball"

A primeira grande mudança foi a forma como o Forest Green Rovers adquiria jogadores. O novo modelo foi inspirado pela equipa de baseball Oakland Athletics e pelo filme - "Moneyball" - que deu a conhecer a forma como estes revolucionaram a forma de contratação de jogadores através de dados estatísticos. Em sete anos o Rovers passou do clube que mais tempo passara na Conference, a divisão abaixo do futebol profissional, à equipa da mais pequena vila, de todos os participantes, na Football League. Em Maio de 2017, após sete anos de mudanças e apostas muito diferentes da norma, o Forest Green Rovers conseguia a promoção ao futebol profissional e à League Two (quarta divisão inglesa), onde se encontra hoje, num sólido oitavo lugar.

Um relvado orgânico e eficiente

Outra das mudanças, parte novamente da filosofia do seu proprietário, foi a forma como a manutenção do relvado era feita. Em 2012 o clube ganhou mesmo um prémio reconhecendo tal feito. O relvado do Forest Green Rovers é o único relvado no mundo do futebol a crescer sem recurso a pesticidas, o que é um marco e o primeiro grande reconhecimento público do trabalho que o clube estava a realizar. Ainda quanto ao relvado, as águas da chuva eram, e são, aproveitadas. Em dias de chuva intensa, a água é encaminhada para um depósito onde é mais tarde utilizada para a rega do mesmo, funcionando praticamente como o ciclo da água.

forest green rovers
créditos: GEOFF CADDICK / AFP

Electricidade

As ideias e planos de Vince têm o objectivo de tornar o clube num organismo auto-sustentável e para isso a implementação de ideias inovadoras, para a área de negócio de que falamos, foi e continua a ser constante. Segundo o próprio, a energia utilizada no clube é 100% de origem renovável. Grande parte da energia, 80% para ser mais preciso, tem origem em painéis solares e moinhos de vento espalhados pelo país, propriedade da empresa de energia de Dale Vince, sendo que os restantes 20% são produzidos em casa, literalmente em casa. O clube tem já a sua própria rede de painéis solares, que utiliza para produzir grande parte da energia que consome. São detalhes como os próprios cortadores-de-relva, utilizados nos relvados do clube, que geram a sua própria energia - através, também eles, de painéis solares - que fazem toda a diferença.

Carros eléctricos

Sendo as emissões poluentes provenientes dos automóveis parte do problema, o clube é o primeiro a encorajar os seus funcionários e adeptos a pensar e a transformar a sua forma de encarar a sustentabilidade do planeta. Algumas medidas passam por disponibilizar carregadores eléctricos no parque de estacionamento do estádio, chamando a atenção dos seus adeptos para a importância de reduzir as emissões de CO2. Os adeptos que possuam um carro eléctrico poderão assim beneficiar, também eles, da energia produzida no clube.

Menu 100% Vegano

Como não poderia deixar de ser, a consciência do impacto ambiental na produção de produtos alimentares de origem animal é uma realidade no Forest Green Rovers. De pequena em pequena mudança o clube transformou o seu menu, passando a servir desde atletas, funcionários e adeptos, um menu 100% de origem vegetal. Mudanças que nem sempre foram aceites de ânimo leve, mas que acabaram por, não só ser acolhidas, como a serem também ‘hasteadas’ como uma das bandeiras de orgulho dos próprios adeptos do clube.

Forest Green Rovers
créditos: GEOFF CADDICK / AFP

Prémio Momentum for Change

Todas estas mudanças levaram ao reconhecimento do clube por todo o mundo, principalmente após o seu mais recente sucesso: a subida ao futebol profissional. Com o passar do tempo as escolhas feitas pelo clube têm vindo a revelar-se únicas e inspiradoras. Mais uma prova disso, e a razão que me levou a falar hoje deste projecto, foi a atribuição de mais um prémio aos “Diabos Verdes”, alcunha pela qual é conhecido o clube.

Na passada terça-feira, na COP24 - vigésima quarta conferência das Nações Unidas para assuntos relacionados com as alterações climáticas - que se realizou na Polónia, Dale Vince foi convidado a discursar e o clube foi mais uma vez agraciado, agora pelas Nações Unidas, com o Prémio Momentum for Change, na categoria “Climate Neutral Now”.

A distinção foi feita no âmbito das preocupações do clube com as mudanças climáticas através da UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change), mais conhecida pela criação do Acordo de Paris que terá como objectivo, a partir de 2020 reduzir drasticamente as emissões de gases dos países de todo o mundo.

Este é um prémio que reconhece o Forest Green Rovers como o clube mais ‘verde’ de todo o mundo e que o coloca num novo patamar de notoriedade e sustentabilidade.

Eco Park, a nova casa do Forest Green Rovers

Se já muito está a ser feito pelo clube, muito mais está planeado. Para isso, e como base desse mesmo projecto, está o Eco Park, aquele que será, em breve, o novo estádio dos “Diabos Verdes”.

O projecto está no papel faz já um par de anos, sendo que paulatinamente tem vindo a dar passos na direção certa. Ainda que sem data de início de construção, a nova casa do Forest Green Rovers é praticamente uma realidade. Com o projecto de arquitetura ganho pela Zaha Hadid Architects, espera-se apenas pelas diversas autorizações e propostas das entidades reguladoras.

O objectivo do clube é dar um passo à frente no seu caminho de sustentabilidade e construir o estádio de futebol mais ‘verde’ do mundo. O Eco Park terá capacidade para aproximadamente cinco mil espectadores e será construído, quase na totalidade, em madeira. Situado em Gloucestershire, assim que a permissão para a construção do mesmo for dada, este promete ser um projecto inspirador para outros clubes que pretendam fazer da educação e do progresso constante e em todas as áreas, parte fundamental da sua forma de estar no desporto.

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