A relação do SL Benfica e os jovens guarda-redes é uma história que tem marcado os últimos anos dos encarnados. E num ano em que nada corre bem para os lados da Luz, parece que, ainda assim, se vai assinar mais capítulo nos pergaminhos do clube onde já constam nomes como Costa Pereira, Manuel Bento, 'Zé Gato' (José Henrique) ou Michel Preud'Homme.

A nova era dos guardiões da Luz começou esta década, na temporada 2010/11, quando o esloveno Jan Oblak chegou à Luz proveniente Olimpija Ljubljana. Por entre vários empréstimos — Beira-Mar, Olhanense, União de Leiria e Rio Ave —, Oblak assumiu as redes da equipa principal encarnada em 2013/14 e não se inibiu de brilhar. Nessa época os encarnados ganharam tudo o que havia para ganhar, a nível nacional, e ainda foram à final da Liga Europa, que perderam para o Sevilha.

Nesse verão quente de 2014 foram várias as estrelas que sairam em debandada de Lisboa e o esloveno seguiu o mesmo rumo, mudando-se para o Atlético de Madrid a troco de 16 milhões de euros. O legado foi curto, mas deixou os adeptos com saudades. Hoje em dia percebe-se porquê. Jan Oblak é um dos melhores guardiões do mundo. Em 87 encontros disputados pelos colchoneros, o esloveno manteve a equipa inviolável durante 50 jogos. Um registo notável.

Na era pós-Oblak, Júlio César, um veterano do futebol mundial, cumpriu o período de transição até ao dia 25 de março de 2016, dia em que o internacional brasileiro, devido a lesão, não pôde defender a baliza encarnada num encontro que viria a ser decisivo para a conquista do campeonato 2015/16. Na sequência, surge Ederson. O jovem brasileiro formado na Luz encantou com a sua velocidade, capacidade de reação e pontapé longo e bem colocado. No verão de 2017 saiu para o Manchester City e tornou-se do guarda-redes mais caro da história do futebol a troco de 40 milhões de euros.

Esta temporada, o lugar na baliza, onde os grandes clubes europeus tem posto os olhos quando vão à Luz, estava vazio. Rui Vitória começou por apostar em Bruno Varela, um jovem da casa. Mas a sequência de maus resultados e as exibições inconsistentes do guardião português, faziam adivinhar inevitável: o regresso de Varela ao banco. Assim foi até este último sábado, dia em que Mile Svilar se estreou pelo Benfica.

O belga, filho de Ratko Svilar, antigo internacional jugoslavo que participou no Mundial de 1982 e que defendeu a baliza do Antuérpia durante 16 anos, tornou-se o guardião mais jovem de sempre a atuar pelos encarnados. Esta quarta-feira destronou Iker Casillas e tornou-se o guarda-redes mais novo de sempre a defender uma baliza na Liga dos Campeões.

“Ele é mesmo muito bom, vocês vão ver aí em Portugal!"

Jean-Marie Pfaff, lenda da seleção belga e do Bayern Munich, no início desta época, em entrevista ao DN, disse que o jovem Svilar "tem tudo a ganhar por se treinar com um guarda-redes com a dimensão de Júlio César, alguém que certamente o irá ajudar muito". “Ele é mesmo muito bom, vocês vão ver aí em Portugal!", sublinhou.

Um belga a defender as redes encarnadas não pode fugir à comparação com Michel Preud’homme, lenda das águias. Aliás, a comparação já vem desde há alguns anos ele. Preud’homme e Courtois, será como eles, dizem na Bélgica. Até porque lá é tido pelos colegas de equipa como uma “máquina de trabalho”. Mesmo quando o plantel do Anderlecht folgava, não abdicava dos treinos personalizados, conta o SL Benfica num perfil do guarda-redes publicado no site do clube.

No entanto, os ídolos do jovem Mile são outros: Casillas, Manuel Neuer e Keylor Navas são guardiões que enchem as medidas, ou as luvas, ao belga.

Agora no Benfica, a única equipa que representou depois de sair dos belgas do Anderlecht, terá a oportunidade de se cruzar com Iker Casillas, a sua referência maior, mas a relação pode não começar com o pé direito uma vez que Svilar destronou esta quarta-feira um marco do espanhol e tornou-se no guarda-redes mais novo de sempre a estrear-se numa baliza na Liga dos Campeões com apenas 18 anos e 52 dias.

Já no passado sábado, dia 14 de outubro, tinha-se tornado no guardião mais novo de sempre a defender a baliza dos encarnados estreando-se na Taça da Liga frente ao Olhanense - curiosamente Oblak também se estreou com a camisola do Benfica contra o mesmo adversário - e mantendo a baliza inviolável.

Mourinho: Svilar? "É uma fera"

Agora o adversário foi outro, de gabarito mundial e a estreia não foi a melhor. O belga foi o responsável pelo golo da derrota do Benfica diante do Manchester United, na Luz. Um golo no mínimo caricato, após um remate forte, de livre, de Marcus Rashford, Svilar segurou a bola, mas deu alguns passos atrás e fez apitar o relógio do árbitro através da tecnologia da linha de golo.

O caminho a percorrer é longo e a pergunta impõe-se: é agora a vez de Svilar ser sinónimo de futuro? Mourinho, que fez questão de ir felicitar Rui Vitória ao balneário assim que se deu por terminado o encontro, parece não ter duvidas apesar do deslize de julgamento que deu a vitória aos red devils.

"Só um grande guarda-redes é que sofre este golo. Porque aqueles que não sofrem este golo, não saem da baliza. Eu costumo dizer que não gosto daqueles que não o fazem. É que a esses eu costumo dizer que se arriscam a que a trave lhes parta a cabeça. E, a este, a trave não lhe parte a cabeça de certeza. Porque o miúdo arrisca, arrisca posicionalmente e tem uma leitura de jogo fantástica. Cometeu um erro de julgamento no lance do golo — algo que acontece a todos. Mas este miúdo é fera, vai ser um grande guarda-redes", explicou o treinador português na flash interview no final do jogo.

Palavras e elogios que o treinador encarnado também reconhece, assim como acrescentou ainda um voto de confiança ao jovem belga.

"Não há qualquer problema em relação ao Svilar. É craque, é bom guarda-redes. Tem muito a trabalhar, evidentemente, [mas] vai ser um guarda-redes de grande nível e joga já no próximo domingo".