Felipe VI está a ser criticado por dirigentes da Unidas Podemos, a plataforma de partidos da esquerda espanhola que integra a atual coligação governamental liderada pelo Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) do primeiro-ministro Pedro Sánchez.
“Não falha. Onde quer que haja uma teocracia árabe ditatorial, assassina, sexista, homofóbica e ‘petrodólar’, os Bourbons são rápidos a ir”, escreveu na rede social Twitter o porta-voz no parlamento do grupo Unidas Podemos, Paulo Echenique, numa referência ao rei emérito de Espanha, Juan Carlos de Bourbon, que vive nos Emirados Árabes Unidos desde 2020, na sequência de investigações por suspeitas de corrupção, algumas delas relacionadas com Estados e milionários do Médio Oriente.
Outro dirigente da Unidas Podemos e deputado, Gerardo Pisarello, considerou na segunda-feira, numa conferência de imprensa, “lamentável” a ida de Felipe VI ao Qatar, um país que não respeita os Direitos Humanos.
“Este Mundial já tem perdedores”, afirmou o deputado, que referiu os milhares de mortos registados (e denunciados por organizações não-governamentais) na construção dos estádios para esta competição desportiva, mas também a violação dos direitos das mulheres e da comunidade LGTBI+ (lésbicas, ‘gays’, transexuais, bissexuais, intersexuais e outros).
Para Pisarello, os próprios adeptos do futebol também integram esta categoria, uma vez que veem como se está a usar “um desporto tão apreciado e passional para fazer dinheiro à custa dos direitos civis”.
Outra deputada, do partido de esquerda catalão Candidatura de Unidade Popular (CUP), Mireia Vehí, considerou uma “vergonha” e uma “deceção” a ida do Rei, chefe de Estado de Espanha, ao Mundial e criticou a própria participação da seleção espanhola depois de terem morrido milhares de pessoas a construir os estádios.
A porta-voz do Governo espanhol, a ministra socialista Isabel Rodríguez, considerou hoje “muito correto” que o Rei vá ao Qatar apoiar a seleção porque esse é “o sentimento da imensa maioria dos espanhóis”.
Isabel Rodríguez afirmou que o apoio à seleção une os espanhóis e saudou a deslocação de Felipe VI ao Qatar para o primeiro jogo, acrescentando que aquilo que o Governo deseja é “um bom campeonato e resultados, e a celebração de uma vitória” da equipa.
O Rei de Espanha tem de viajar sempre acompanhado por um membro do Governo e irá ao Qatar, na quarta-feira, não com um ministro, mas com o presidente do Conselho Superior do Desporto, segundo fontes oficiais citadas pela agência de notícias EFE.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, deverá ir ao Qatar se Espanha chegar à final do Mundial, que termina em 18 de dezembro, disseram as mesmas fontes.
A ida de líderes políticos e outros dignitários ao Qatar está ser alvo de críticas, sobretudo, na Europa, por causa do desrespeito dos Direitos Humanos no emirado.
O secretário-geral das Nações Unidas, o antigo primeiro-ministro português António Guterres, chegou ao Qatar na véspera do arranque da prova e outros chefes de Estado e de Governo já foram ou anunciaram a ida ao Mundial.
Mas também há outros que já anunciaram que não irão ao Qatar, como os quatro principais dirigentes da União Europeia (UE): os presidentes da Comissão da UE, a alemã Ursula von der Leyen, do Conselho da UE, o belga Charles Michel, e do Parlamento Europeu, a maltesa Roberta Metsola, bem como o chefe da diplomacia europeia, o espanhol Josep Borrell.
Em Portugal, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente do Parlamento, Augusto Santos Silva, e o primeiro-ministro, António Costa, já manifestaram a intenção de acompanhar os jogos da seleção portuguesa.
“O Qatar não respeita os Direitos Humanos. Toda a construção dos estádios e tal…, mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa”, disse Marcelo Rebelo de Sousa na semana passada, gerando críticas e pedidos aos três políticos que assumem os mais altos cargos da hierarquia do Estado para que boicotem o evento.
A sessão de abertura do Mundial, no domingo, contou com a presença de “uma série de Suas Majestades, Altezas e Excelências chefes de Estado e chefes de Delegações de países irmãos e amigos”, lembrou o canal de televisão Al Jazeera.
Além de Guterres, estiveram na cerimónia os presidentes do Ruanda, Argélia, Turquia e Egito, bem como o príncipe herdeiro saudita.
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