“A liga portuguesa é a que tem menos tempo útil de jogo das principais ligas europeias, cerca de 49 minutos, quando na Liga dos Campeões, em média, nos últimos quatro anos, tem 60 minutos, mais 12 de tempo útil, cerca de 20 minutos de tempo total”, disse o técnico, que encerrou o Fórum de Treinadores de futebol/futsal, organizado pela Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), em Braga.

Rui Vitória apelou a treinadores e dirigentes uma reflexão sobre o tema para que o tempo de jogo aumente.

O técnico bicampeão dos ‘encarnados’ começou por dizer não se rever no mote da palestra – “os caminhos para chegar a campeão nacional” – porque, por vezes, “há trabalhos mais valiosos que o título de campeão nacional em grandes clubes, com grandes treinadores”, como manutenções e subidas de divisões.

Rui Vitória contou que, quando era jogador, gostava sobretudo de duas características nos seus treinadores que tenta reproduzir agora: confiança e coerência.

“Um jogador com confiança é meio caminho andando e ser coerente é ser justo. Importa também perceber que um jogador, por mais dinheiro que ganhe, é um homem, com família, têm filhos, mulheres. Os jogadores agarram isso, preocuparmo-nos com o filho, se está bem instalado, quando um jogador se sente bem de cabeça o resto é mais fácil”, disse.

Na semana de treino idealizada por Vitória tem que estar presente “alegria: os jogadores sentirem prazer no que estão a fazer”.

“Há alguma coisa de arte [no futebol], não podemos mexer nos horários dos jogos e temos que criar condições para que a arte possa estar nos terrenos, isto sem esquecer a parte do trabalho, porque o jogador tem que sentir a dureza, a rusticidade do treino, não se ganha sem sofrimento”, disse.

Rui Vitória disse ainda privilegiar “sessões curtas, intensas, com duas ou três indicações apenas” e considera que um treinador deve sobretudo “selecionar, aplicar e corrigir, ter a perspicácia do que está mal”.

Para se manter na “crista da onda”, como lançou o moderador Rui Quinta, Rui Vitória disse tentar estar sempre atualizado.

“Ler, ver muito o que se passa no estrangeiro, não só o jogo. Uma coisa que tento cada vez mais nos últimos anos é autorregular-me, tentar distinguir o que é importante e o que não é, selecionar, quebrar e ter tempo para estar com os filhos e a família”, explicou.

Sobre o futuro do futebol, o técnico ‘encarnado’ disse esperar que caminhe para “jogadores mais inteligentes”.

“O futuro vai passar por voltar atrás um pouco, ter a capacidade de perceber o jogo, ser cada vez mais culto, perceber os diferentes momentos do jogo”, disse.

Rui Vitória afirmou ainda que não se preocupa sobre onde estará daqui a cinco anos.

“Há cinco anos não tinha por objetivo chegar ao Benfica. Vou trabalhar dia a dia, tenho uma grande paixão pelo treino, por liderar os jogadores, mas não tenho que estar a apregoar a ambição, não me preocupo nada com isso, tenho que estar sempre proativo, à procura de novas coisas, novos exercícios, estou sempre em cima do acontecimento”, explicou.