História enviada por Roberto Mateus

O melhor dérbi a que assisti foi o Sporting-Benfica da Taça de Portugal de 2008. Tinha apenas 8 anos, quando o Sporting bateu o Benfica por 5-3. Apesar de termos perdido, foi nesse jogo que me rendi à força enorme que é o Benfica. Na escola primária havia sempre aquela rivalidade saudável, em que sobreponhamos os nossos pais aos dos outros, do género "o meu pai é mais forte que o teu". Ora foi da mesma maneira que me apaixonei pelos encarnados. Um colega meu traz o cachecol do Sporting para a escola no dia do jogo e eu, claro, defendendo o clube do meu pai, aposto com ele em como o Benfica sai vencedor. No fim da primeira parte tudo corria bem, o Benfica ganhava por duas bolas a zero, mas, na segunda parte, tudo muda: o Sporting reduz a desvantagem e chega mesmo ao empate aos 76', por intermédio de Liedson. Mal sabia eu que se seguia o quarto de hora mais intenso da minha vida. Logo 3 minutos a seguir... o Sporting marca outro e começa o sofrimento. No entanto, o Benfica não se deixa desmotivar e, aos 82', faz o 3-3 e reabre a partida, provocando em mim uma chama imensa de alegria sem explicação, ao que o meu pai me explicou que "o amor não se explica, sente-se". O Sporting marcou mais 2 até ao final, mas fico grato por isso, pois foi esse sofrimento que me tornou benfiquista. Para esta partida, desejo que haja uma rivalidade saudável e um respeito ao adversário maior que a própria vontade de ganhar, porque isto... isto é o Benfica!

História enviada por Ana Simões

Com 6 anos fazia parte da classe de ginástica de competição do SCP, éramos os melhores. Clubes como o Porto ou o Benfica não entravam no nosso campeonato… estavam a anos “luz”, passo a expressão. Alvalade era a minha casa. Três vezes por semana, duas horas de treino por dia, seis horas por semana. A Mãe, uma das mais acérrimas benfiquistas que conheço lá estava religiosamente com o lanche à minha espera na bancada do ginásio do velhinho estádio… ahhh que saudades do velho estádio. Quem não sente saudades de uma casa onde cresceu? E eu cresci ali…

Em 1982 sob o comando do grande professor Carlos Manaça fomos campeãs nacionais, tinha 9 anos! Nesse mesmo ano, no Futebol, vencemos o Campeonato nacional, a Taça de Portugal e a Supertaça!!! Se me lembro? Então não? Chorava a cada derrota e a cada vitória como se chora pelas conquistas ou derrotas de um filho! Nesse mesmo ano o Carlos Lopes estabelece um novo recorde da Europa dos 10.000 metros em Oslo!

Não éramos os maiores… éramos os melhores… e para mim, como para muitos de nós, assim continuou até aos dias de hoje! Não sou nem nunca fui anti nada… sou do SPORTING, como sou filha da minha mãe e do meu pai… é assim! É inquestionável… não é uma escolha… alguém escolhe a família onde nasce?

Domingo à tarde era dia de futebol e lá ia eu com o meu pai pela mão a caminho de Alvalade. Pelo caminho a conversa era sempre a mesma: os prognósticos do jogo e o ponto de encontro na saída: Churrasqueira do Campo Grande. "Churrasqueira do Campo Grande" ia repetindo o meu pai, entre um cumprimento e outro pelos adeptos vizinhos habituais com quem nos cruzávamos pelo caminho!

Ficávamos sempre no peão (em pé), num peão que tinha tanta gente que era capaz de estar-se mais à larga numa lata de sardinhas. Eu conseguia esgueirar-me até às redes e era ali que assistia sempre aos jogos. O Sr. Júlio que vendia as “almofadinhas para a bola” e às vezes queijadas de Sintra (quando o stock das almofadinhas estava em baixo) cumprimentava-me com uma piscadela de olho e um encolher de ombros. O Sr. Júlio era do Benfica, mas era um segredo nosso. Descobri quando o apanhei com um sorriso rasgado em 84 quando o Benfica marcou o golo da vitória em Alvalade 0-1 e o Sr. Júlio não aguentou… não fosse a claque da Juve Leo ali bem ao lado estar a resolver um “pequeno incidente” próprio de quando se sofre um golo e o Sr. Júlio tinha sido catado!

Em 84 com a construção da bancada nova e dos ginásios foi a loucura. Claro que ajudou ter um presidente como o João Rocha! Os saraus de Ginástica exemplificavam a pujança do clube e em 1986 atingimos prestigio internacional, com um belo 3º lugar no campeonato Mundial de ginástica de competição arrecadado pela Rita Villas Boas. Sim, Mundial com as chinocas que parece que são feitas de borracha e tudo!

Nos anos seguintes a romaria a Alvalade ganhou novo encanto… os treinos eram uma maravilha porque a malta ia mais cedo e ainda dava para dar uma espreitadela aos treinos de futebol (época do Jorge Cadete, Peixe, Figo, Mourato e outros tantos giraços), aos domingos a claque da Juve Leo era o delírio… e sempre fomos bem recebidas… afinal éramos as miúdas da ginástica, a Rita era namorada do Cadete e a nossa presença era bem-vinda… para todos menos para o meu pai que nunca percebeu porque é que durante o jogo estávamos de costas para o campo! Lá se acabou a Juve Leo e fui de volta às bancadas!

Estive na Luz quando perdemos 5-0. Sai sozinha ao terceiro golo em direção à Churrasqueira do Campo Grande e a pé pela 2ª circular ouvi os gritos da Luz que evidenciavam os outros dois sopapos que levamos no estômago! Chorei baba e ranho, mas nesse mesmo ano também assisti ao 7-1 em Alvalade e esqueci as lágrimas passadas.

Hoje vou lá estar com o meu pai e a Maria que (graças a Deus) ainda não pediu para ir para a Juve Leo e que também não escolheu ser do Sporting como não escolheu a família que tem, lá estará orgulhosamente vestida de verde e branco a assistir a um jogo que se espera JUSTO, mas no seu lugar.... sim que a miúda já tem Gamebox, a mãe é que se deixou dessas vidas (às vezes)!

Prognósticos, como um dia disse um conceituado jogador, só no final do jogo!!! O meu desejo não é o de que o Benfica perca (alguns são narcisistas e acham que como são os maiores tudo gira em torno deles), o meu desejo é o de que o Sporting ganhe! Se não acontecer, por cá continuaremos cheias de orgulho de pertencer à família onde crescemos!

História enviada por Luís Fideles

Sou Benfica, sempre fui Benfica e sempre serei Benfica. Todos os meus amigos "verdes" são iguais e opostos (na cor). E são gajos 5 estrelas. Talvez porque durante anos e anos o meu pai, que tinha uma cervejaria em Benfica, me ensinou e me mostrou como discordando conseguimos ser amigos.

Os golos do Eusébio, as defesas do Damas, as fintas do Chalana e as traquinices do Manuel Fernandes fazem parte da minha vida. E tanto ri, como chorei. E cheguei a ter pena dos meus amigos ...

Tenho inúmeras recordações: de um 3-2 de uma final da Taça, com golo de livre do Eusébio no prolongamento, de um 5-0 na Luz com o presidente Eanes a acenar de mão aberta, de um 1-0 na Luz com o Vítor Batista a perder o brinco, de um 2-1 em que o Chalana nos fez chorar de alegria, de uma derrota por 7-1, de uma vitória por 6-3 ...

Histórias que ficam numa vida já de 50 anos em que tenho a alegria de ter 3 filhos que cantam o hino do Benfica comigo (se cantassem outro qualquer, adoravá-os na mesma) e que nutrem, como eu, aquele respeito para com os nossos irmãos sportinguistas.

E é isso que peço a todos. Respeitemo-nos. É isso que nos faz superiores, não as vitórias futebolísticas.

História enviada por Nuno Caetano

O meu primeiro derby

O meu Pai, filho de um benfiquista, mas que me passou (a mim e ao meu irmão que é mais velho) a "sportinguite" e que me levou a tantos jogos, a tantas tardes em Alvalade, no tempo em que ainda se apregoava o aluguer de almofadas de palha ao som do célebre grito (pouco politicamente correcto, é certo) de "É pró cu, é pró cu, almofadinhas prá bola", nunca me levou a ver "o" derby, aquele jogo sempre esperado.

E também tinha uma razão, quase tão velha quanto eu, pois fará no final deste mês 42 anos - no dia 31 de Março de 1974 - que foi assistir ao derby da 26.ª jornada do campeonato e jurou para nunca mais!

O meu irmão, na altura já com 11 anos, lutou até à exaustão para o acompanhar. Mas o meu pai, não se demoveu um milímetro - o jogo era de grande intensidade, a semana que o antecedeu foi pródiga na "guerra de palavras" entre ambos os lados, chegando o Sporting até a pedir um árbitro espanhol (algumas coisas nunca mudam!) e esperava-se milhares de pessoas no "velhinho" José Alvalade e, por isso, nada mais lhe restou do que ficar com o ouvido "colado" ao rádio no qual ainda cheguei também a ouvir alguns relatos.

E o meu Pai parecia que adivinhava.

Apesar de chegar cedo levou uns belos "apertos" teve de ficar lá nos "píncaros" do topo sul e só ao longe vislumbrou Marcelo Caetano a acenar à multidão, uns belos 80 mil espectadores, naquela que seria uma das suas últimas aparições públicas.

Mas o pior estava para vir.

O Sporting, que tinha tudo para arrumar com a questão do título, porque na altura já contava com 4 pontos de avanço (numa altura em que a vitória valia 2 pontos somente) e uma vitória "arrumava" com o seu velho rival desfalcado para o jogo (que não contava com Eusébio, Artur e Jaime Graça - um trio temível!), não soube aproveitar o belo início com um golo madrugador de Yazalde e, se não fosse novamente o Chirola a marcar mais um dos seus 46 golos dessa época a terminar a primeira parte, não tinha recolhido aos balneários a perder pela margem mínima (2-3).

Mas a segunda parte foi a "machadada final", Jordão (que, com Nené e Vítor Batista fazia outro trio de ataque temível nos encarnados!) e Vítor Martins colocaram o "eterno rival" a ganhar por uns rotundos 2-5 e nem o penalty de Dé, a terminar o jogo, e a reduzir o resultado final para 3-5, impediram as lágrimas do meu irmão em casa e que o meu Pai saísse de Alvalade a jurar nunca mais voltar lá para ver um derby, e nem a vitória no campeonato, a "dobradinha" no final dessa época, ou a bota de ouro do Chirola o fizeram demover e voltar atrás!

Por isso, o meu primeiro derby ao vivo foi visto graças à boa vontade dos pais do meu amigo Carlos (que Deus os guarde em descanso!) que me levaram a mim e a ele para debaixo da pala da bancada lateral, numa altura em que cabia sempre mais um ou até mesmo mais duas crianças, como nós que, naquela tarde opaca de Dezembro de 1986, protegidos de uma chuva "miudinha" irritante, vimos com os nossos olhos uma das maiores alegrias que tivemos nos cinco anos de escola que tivemos juntos.

Sim, o meu primeiro derby foram os inesquecíveis 7-1! E os pais do meu amigo Carlos proporcionaram-me, proporcionaram-nos, uma semana de grande desforra de todos aqueles anos de jejum que já vivíamos (e que ainda iríamos viver mais sem saber!) e de todas as "bocas" que ouvíamos.

Quanto ao meu pai... bom, sempre fiel como foi, e ainda é, à sua palavra, só voltou a ver um derby já no novo Estádio José Alvalade, e só à segunda época, depois de eu o convencer (acho) que o Estádio já não era o mesmo e que já podia ver de novo o derby.

Desta vez também não irá. Já disse que não ia, apesar de ter a sua Gamebox.

Mas sei que, como é costume, irá estar a sofrer. Com o rádio desligado e a TV também mas, como está "paredes meias" com o Estádio, sem poder se alhear do "bruá" costumeiro e a ralhar com a minha Mãe que, não consegue suster a curiosidade, e vai tentar perceber a que se deve o barulho dessa vez. E da outra. E de mais outra...

E é disto que um derby também é feito...

História enviada por Pedro Curveira

3-6

É raro ir ver um derby a Alvalade, mas naquele ano algo me levou a comprar um ingresso nas bilheterias de Alvalade e, sozinho, entrei naquela tarde chuvosa no estádio repleto de verde, manchado de vermelho algures no topo norte. À minha volta está uma claque pouco numerosa mas militante que me acolheu como se eu fosse um deles. Os gritos de guerra vinham de todo o lado, o ambiente fervia de expectativa e os verdes antecipavam uma vitória no jogo e, por consequência, no campeonato.

O jogo começou... e todos conhecem a história. Naquela primeira parte com 5 golos, oscilei entre a euforia e a depressão, não necessariamente por esta ordem, enquanto a chuva impiedosa caía sobre nós.

Quando tudo estava terminado, guardei  o cachecol por baixo do blusão e saí do estádio com um sorriso beato em direção ao carro, deixado algures. Foi difícil explicar a minha mulher donde vinha tanta alegria num fim de semana de maio chuvoso e triste. Força SLB.

A história não se repete, mas podemos sempre escrever uma nova.

Tem alguma memória especial, um episódio ou história sobre um dérbi entre Benfica e Sporting? Envie-nos o seu testemunho para conteudos@mail.sapo.pt