Os atletas Ana Catarina Monteiro (Natação), David Rosa (Ciclismo), Gabriel Lopes (Natação), Jéssica Augusto (Atletismo), Joana Castelão (Tiro), Joana Cunha (Taekwondo), Júlio Ferreira (Taekwondo), Maria Martins Ciclismo), Rui Bragança (Taekwondo), Susana Feitor (Atletismo) e Telma Santos (Badminton) subscreveram uma carta aberta ao primeiro-ministro António Costa.

Na carta, que começa pelo exercício de imaginar um país sem desportistas, os atletas sentem-se desiludidos quanto à ação dos governantes responsáveis pela área do desporto em Portugal durante a pandemia.

"Ora, se é unânime que quer um, quer outro, já demonstraram ser sensíveis às legítimas e fundadas questões que o movimento desportivo, sucessivamente, tem apresentado ao Governo, porquê esta ausência de respostas ou este vazio de medidas àquelas?", questionam dirigindo-se a Tiago Brandão Rodrigues, Ministro de Educação, e ao Secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo.

Os atletas olímpicos, cujo papel dizem não se resumir às prestações desportivas, pedem assim "medidas e soluções específicas" que "visem valorizar e garantir a sobrevivência" da atividade física e do desporto nacional. Já ao primeiro-ministro António Costa apelam que "não crie um país de sedentários".

Já esta quarta-feira, em audição na Assembleia da República, pela Comissão de Educação, Ciência, Juventude e Desporto, a requerimento do Partido Comunista Português (PCP), João Paulo Rebelo remeteu para “muito brevemente” a apresentação e execução das medidas governativas para o setor.

“O Governo está prestes a apresentar e executar um conjunto de medidas extraordinárias muito relevantes para este setor”, afirmou, acrescentando: “Quero tanto como as federações e os clubes que esses apoios apareçam. Garanto que vão aparecer muito brevemente”.

Leia aqui a carta aberta na íntegra:

"Imagine V. Exa. um país sem desportistas. Não falamos sequer de desportistas de elite, atletas Olímpicos. Referimo-nos ao cidadão que pratica uma qualquer modalidade desportiva nos seus tempos livres. Podemos aliás alargar o âmbito deste exercício. Podemos imaginar um país de pessoas que não praticam qualquer atividade física. Das crianças que mal conseguem andar ainda, àqueles que, por força da idade, voltam a sentir essa mesma dificuldade, num fechar de ciclo. Como seria um Portugal assim?

Durante milhares de anos, o ser humano foi paulatinamente construindo soluções, umas mais engenhosas que outras, desde a roda até à internet, que lhe permitisse melhorar a sua qualidade de vida, até ao ponto de, nos países industrializados, ser possível ter uma existência completamente sedentária. Paradoxalmente, essa busca incansável e permanente por um quotidiano liberto do esforço físico, trouxe consigo um enorme fardo, evidente nas manifestações associadas à inatividade física, desde a obesidade às doenças cardiovasculares, passando pelo cancro e pelas doenças do foro mental e, não menos importante, por um sistema imunitário muito mais vulnerável.

A resposta encontrada pelas sociedades modernas para combater os efeitos secundários de uma tendência para o sedentarismo, residiu na atividade física, que por sua vez conduziu à massificação do fenómeno desportivo. Com mais ou menos atraso, por razões que agora não vêm ao caso, Portugal seguiu essa filosofia. Pelo menos no domínio das intenções.

Quando V. Exª nomeou o Dr. Tiago Brandão Rodrigues Ministro de Educação, o movimento desportivo sentiu que haveria um interlocutor com sensibilidade para as questões relacionadas com o desporto. Mais não fosse porque o mesmo acompanhara a Missão de Portugal aos Jogos Olímpicos de Londres, na qualidade de Adido Olímpico. Por outro lado, o Secretário de Estado da Juventude e Desporto, Dr. João Paulo Rebelo, sempre mostrou total disponibilidade para auscultar as sensibilidades próprias do desporto. Por isso, certamente compreenderá V. Exª que agora, sintamos um certo desalento. Porque constatamos que aquelas personalidades não representam o desporto no seio do Governo da República. Antes representam este último no movimento desportivo. Muitas vezes, tentando justificar o injustificável, outras, remetendo-se a um silêncio ensurdecedor. Ora, se é unânime que quer um, quer outro, já demonstraram ser sensíveis às legítimas e fundadas questões que o movimento desportivo, sucessivamente, tem apresentado ao Governo, porquê esta ausência de respostas ou este vazio de medidas àquelas? Porquê apenas estas vagas referências ao papel que o desporto deve ter na sociedade, reconhecido por tantos organismos nacionais e internacionais? Só podemos depreender que tal fica a dever-se à importância que V. Exª atribui à atividade física e ao desporto em geral, residual e acessória.

Exmo. Senhor Primeiro Ministro, certamente V. Exª argumentará que foram acautelados os apoios aos atletas de alto rendimento e aqueles inseridos no Projeto Olímpico Tóquio 2020. Que houve sempre sensibilidade para estes nas medidas que, entretanto, foram sendo aplicadas para conter e mitigar a pandemia que o mundo atravessa. E tem V. Exª toda a razão. Mas estes atletas representam o topo da pirâmide do movimento desportivo. O que nos preocupa agora, são todos os restantes. Desde aqueles que aspiram um dia a ser atletas de alto rendimento e mesmo, quem sabe, olímpicos, até àqueles que fazem uso da atividade física precisamente para contrariar os efeitos referidos anteriormente.

Os diferentes níveis desta pirâmide não são estanques. Comunicam uns com os outros, contribuem entre si para a sua sustentabilidade. Pensar que, ao garantir-se as condições para que a última linha desta pirâmide continue a subsistir, todo o edifício manter-se-á, parece-nos uma visão redutora da realidade que todos os dias agrava-se, nomeadamente com a redução drástica de atletas federados, com o fecho de clubes, mas também com os indicadores que referem uma diminuição expressiva da atividade física da população, com especial incidência nos jovens.

O nosso papel, enquanto atletas Olímpicos, não se resume às nossas prestações desportivas, imbuídas que são de um enorme orgulho por representarmos o nosso país. É uma honra, mas também uma enorme responsabilidade fazê-lo. É precisamente por este amor a Portugal que entendemos, aliás, sentimos necessidade de contribuir para o seu desenvolvimento, por mais humilde que possa ser esse contributo. Temos plena consciência de que os nossos atos, a nossa forma de viver, são inspiração para milhões de pessoas. Essa inspiração move montanhas!

Porque acreditamos profundamente na importância da atividade física e do desporto na sociedade, apelamos a V. Exª que diligencie no sentido de serem encontradas medidas e soluções específicas, que visem valorizar e garantir a sobrevivência destes sectores.

Sr. Primeiro-Ministro: Não crie um país de sedentários!”

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