O livro, publicado pela Oficina do Livro na terça-feira e hoje apresentado no Porto, reúne as ideias principais de um projeto lançado em 2016 por Tarantini, nome pelo qual é conhecido o futebolista Ricardo José Vaz Alves Monteiro, de 34 anos, que alinha no Rio Ave desde 2008/09.
“Este projeto incide em despertar uma geração de pessoas para o problema que são as transições de carreira, principalmente a transição de final de carreira”, referiu à Lusa Tarantini, que destacou o peso que a “ilusão de chegar ao topo” tem na tomada de decisões de jovens jogadores e profissionais de futebol, acabando muitas vezes com dificuldades financeiras depois de abandonarem os relvados.
A ideia de publicar o livro surgiu “numa das palestras” que costuma ministrar junto de clubes, escolas e outras circunstâncias, na qual “um dos miúdos sugeriu a inclusão da mensagem no Plano Nacional de Leitura”.
Segundo o médio, “a partir dos 14 ou 15 anos já começam a perceber o problema, numa altura ideal não só para eles como para os pais”, mas o jogador do Rio Ave considera que um maior envolvimento dos clubes na gestão da vida pessoal dos atletas “era fundamental”.
“Não verem só o jogador como mercadoria e terem essa preocupação. Basta ver todos os jogadores que passaram pela formação dos clubes e ver o que estão a fazer agora. Se tanto falam que também se formam homens pelo desporto, vamos ver isso. É um indicador claro”, afirmou o futebolista, que explica que é essencial que os jovens se questionem “se vale a pena apostar tudo” no desporto como rumo para a vida.
Os clubes têm “um papel muito importante”, através dos dirigentes e treinadores envolvidos na formação e nos balneários das equipas sénior, das ligas profissionais aos amadores, mas também “os empresários e a família, que no caso dos mais novos são os mais influenciadores”.
Da parte de clubes, treinadores e professores, tem recebido “muito ‘feedback’”, mas menos contacto no que toca aos colegas de profissão.
“O menor que tenho tido, e deixa-me um pouco preocupado, é dos próprios profissionais, tirando o meu balneário. Levanto duas hipóteses: ou o problema não está a ser bem interpretado ou então a existência de algum distanciamento”, acrescentou.
Tarantini gostaria que o projeto evoluísse até “uma junção de forças, porque a causa precisa de mais gente”.
“Precisava de mais gente, com outro poder, e jogadores de outros níveis, para podermos mostrar que este problema é real”, atirou, explicando que é “diferente se for o Tarantini ou o Cristiano Ronaldo a falar disto”.
O projeto, a que chama a “causa” de sensibilização perante o futebol e o desporto em geral, assenta agora em quatro eixos, com as palestras e o livro a juntarem-se à investigação e à produção de documentários.
Depois de se tornar mestre em desporto pela Universidade da Beira Interior, o jogador já iniciou o doutoramento com o objetivo de “divulgar dados mais fidedignos sobre a vida dos jogadores portugueses” e o perfil de carreira.
No lado dos documentários, o objetivo é “fazê-los bem feitos, à imagem do que se faz, por exemplo, na liga inglesa, e que têm um grande impacto na sociedade”, ainda que acarretem “custos financeiros brutais”, o que o levou ao contacto com “várias televisões”.
O trabalho é, então, “uma bola de neve que vai crescendo”, para que as pessoas possam “perceber realmente a mensagem por detrás”, que se baseia nas "decisões tomadas para a vida".
“Infelizmente, conheci de perto o caso do Fábio Faria, que teve de abandonar a carreira aos 23 anos (por problemas cardíacos), e ele diz que, no fim, a vida é o mais importante de tudo”, concluiu.
Questionado sobre o arranque da época do Rio Ave, o ‘capitão’ dos vila-condenses, sextos classificados na I Liga, destacou um “arranque positivo” e com “muitos desafios, com uma ideia de jogo trazida pelo Miguel Cardoso que foi aceite pelos jogadores”.
“É uma ideia de jogo que nos valoriza enquanto jogadores, o que vem também na sequência do ano passado”, apontou o médio, que alinhou em 13 partidas esta temporada.
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