À primeira vista, era um sonho. E o sonho transformou-se realidade. Aconteceu. E agora esse mesmo sonho deverá continuar e perpetuar-se-á na cabeça de Nuno Borges. O tenista português de 27 anos venceu Rafael Nadal no ATP 250 Nordea Open, Bastad, na Suécia. O sonho é real.

“É aproveitar o momento. Estou aqui a segurar o troféu e o ténis é de loucos. Porque não continuar a sonhar?”, questionou Nuno Borges, número um nacional, vestido de camisola amarela, nas últimas palavras proferidas no court central do torneio sueco.

Chegou, pela primeira vez, a uma final de um torneio ATP. Entrou no reduzido leque de portugueses a atingirem o último jogo de um torneio do principal circuito de ténis mundial. João Sousa venceu quatro em 12 finais, Pedro Sousa (derrotado por Casper Ruud, em Buenos Aires, em 2020) e Frederico Gil (Estoril Open, 2010, perdeu frente a Albert Montanes) chegaram, mas não venceram. Hoje, Borges juntou-se a Sousa, o melhor de todos os tempos do ténis luso, na lista de vencedores do ténis nacional.

Vence a primeira final ATP (6-3 e 6-2) e logo diante do Rei da terra batida, Rafael Nadal, à procura da melhor forma. O tenista maiorquino perdeu apenas a nona final em 72 jogadas na superfície de pó de tijolo, enquanto Nuno Borges passa a configurar ao lado dos dois maiores monstros do ténis mundial Novak Djokovic (4), Roger Federer (2) e outras duas grandes figuras da bola amarela, Andy Murray (1) e Horacio Zeballos (1).

Instantes depois de um Ás ter colocado fim aos 88 minutos da partida e ter dado o primeiro título ATP – e 80 mil euros de prize-money e 250 pontos ATP -, Nuno Borges, de voz embargada, enfrentou o microfone da consagração.

“Parte de mim queria que o Rafa vencesse”

“Já sonhava com este momento há muito tempo, mas no ténis, por vezes, as coisas não acontecem sempre como queremos. Sei que todos queriam que o Rafa ganhasse e uma parte de mim também. Mas alguma coisa ainda maior dentro de mim empurrou-me para conseguir vencer, pelas emoções e pelos altos e baixos”, começou por dizer ainda no court.

“Não se tratava de jogar o meu melhor ténis, tratava-se apenas de chegar aos grandes momentos e não poderia ter jogado melhor. Estou muito feliz e muito emocionado”, continuou.

O nome do seu opositor, a grande estrela, permanecia no verbo. “Foi uma ótima atmosfera. Sei que todos queriam que o Rafa ganhasse, mas não me deitaram abaixo. Vieram ver ténis. Joguei bem, estou feliz e adoro Bastad”, acrescentou Nuno Borges, tenista que jogou pela primeira vez no exato local onde 10 anos antes João Sousa perdera com o espanhol Pablo Cuevas.

Duas vezes mencionado, Rafael Nadal respondeu. “Em primeiro lugar, tenho de dar os parabéns ao Nuno, mereceu vencer. Diverte-te, porque mereces viver este momento que é sempre especial. Desejo-te o melhor para o resto da época”, disse na cerimónia final o tenista de 38 anos em contagem final da preparação para os Jogos Olímpicos Paris2024.

“Vim aqui jogar e durante a semana divertir-me muito. Tive uns jogos melhores, outros piores, mas foi muito bom. Hoje não foi o meu melhor dia, mas todos os créditos para o Nuno. Jogou muito bem e foi muito difícil para mim, por isso, muito bem”, disse, sem esquecer de elogiar a organização de um evento onde tinha estado, pela última vez, em 2005 e onde, “muito provavelmente” não regressará, terminou. Sorriu e devolveu “a voz” ao vencedor do torneio.

“Já estava nervoso e depois do discurso do Rafa ainda mais. Nunca pensei jogar num estádio cheio frente ao Rafa. Estou a viver nas nuvens, não há muitas hoje”, frisou o número um nacional que, após este triunfo, deverá alcançar o seu melhor ranking de sempre, 42.º da hierarquia ATP.

“O Rafa não estava no seu melhor, mas toda a gente adora-o ver competir onde quer que vá, as pessoas seguem-no, é uma grande inspiração para todos, incluindo os jogadores que estão a começar e olham para ti e para tudo o que fizeste”, referiu.

“Aqui, dão todas as hipóteses aos jogadores para estarem aqui e poderem competir. Agora vou desfrutar. O ténis é de loucos, porque não continuar a sonhar?”, finalizou.