1. Quais são modalidades paralímpicas?
Os Jogos Paralímpicos de Verão disputam-se em 22 modalidades — menos 24 quando comparado com os Jogos Olímpicos.
São elas: Atletismo, badminton, basquetebol em cadeira de rodas, boccia, canoagem, ciclismo (de pista e de estrada), equitação, esgrima, futebol 5, goalball, halterofilismo, judo, natação, remo, rugby em cadeiras de rodas, taekwondo, ténis, ténis de mesa, tiro, tiro com arco, triatlo e voleibol sentado.
2. Há alguma exclusiva do desporto paralímpico?
Sim, duas. O boccia e o goalball.
O boccia tornou-se numa modalidade Paralímpica em 1984, nos jogos de Nova Iorque.
Portugal ocupa o segundo lugar do medalheiro paralímpico no boccia (1984-2016), com um total de 27 medalhas conquistadas: 8 de ouro, 10 de prata e 9 de bronze. O quadro é liderado pela Coreia do Sul, que, com menos medalhas no total (22), tem mais uma de ouro conquistada (9).
O boccia é uma modalidade praticada por atletas com deficiência motora - paralisia cerebral em cadeira de rodas ou doenças neuromusculares -, podendo ser disputado individualmente, em pares ou por equipas de três elementos, sem divisão por sexos. É um desporto de precisão, em que são arremessadas bolas, seis de couro azul e seis vermelhas, com o objetivo de as colocar o mais perto possível de uma bola branca chamada “jack”, ou “bola alvo”.
Já o goalball, destinado a atletas com deficiência visual, faz parte do calendário paralímpico desde Toronto1976.
A modalidade disputa-se num campo de 18 metros de comprimento por nove de largura, com marcações específicas através de linhas com relevo. Duas equipas de três elementos (com um máximo de três suplentes) disputam uma bola, cujo interior inclui placas metálicas para produzir sons, com o objetivo de a introduzir na baliza contrária através de lançamentos manuais.
No goalball, os atletas deficientes visuais das classes B1, B2 e B3, competem juntos e independente do nível de perda visual, utilizam uma venda durante as competições para que todos possam competir em condições de igualdade.
3. O que significam as letras e números das classes paralímpicas?
O Comité Paralímpico de Portugal (CPP) dá uma ajuda para perceber como se organizam as classes do desporto paralímpico:
"A lógica é simples e pode ser explicada com referência à modalidade de Judo. No judo os atletas competem por categorias de peso para tornar a competição mais justa – não seria razoável ter um judoca de 110kg a combater contra outro de 65kg visto que, à partida, seria uma luta desigual. No desporto paralímpico o raciocínio é semelhante: os atletas são enquadrados em classes desportivas em função do impacto que a sua deficiência tem no desempenho desportivo de determinada modalidade".
Qualquer atleta com deficiência só pode participar em competições internacionais depois de ser classificado e consequentemente integrado numa classe desportiva.
Esta classificação é atribuída por técnicos especializados, avaliadores, fisioterapeutas e/ou médicos, obedecendo a critérios particulares em função de cada modalidade.
É por isso que associada a cada modalidade há um "código", composto por uma letra e um número, que define a classe do atleta.
Vejamos os exemplos das duas modalidades com maior número atletas nacionais: atletismo e boccia, com dez atletas cada.
No atletismo, as provas são seguidas de um código com uma letra, que diz respeito à pista (T, track em inglês) ou campo (F, field), e um número, que indica o grau de deficiência do atleta:
- 11 a 13 - deficiência visual;
- 20 - deficiência intelectual;
- 32 a 38 – paralisia cerebral (com cadeira de rodas);
- 35 a 38 – paralisia cerebral;
- 40 – baixa estatura;
- 41 a 47 – deficiências nos membros, tais como amputações;
- 51 a 57 – competem em cadeiras de rodas.
Atletas portugueses a competir:
- Ana Filipe, Salto em Comprimento T20
- Carina Paim, 400m T20
- Claudia Santos, Salto em Comprimento T20
- Cristiano Pereira, 1500m T20
- Hélder Mestre, 100m e 200m T51
- João Correia, 100m T51
- Manuel Mendes, Maratona T46
- Miguel Monteiro, Lançamento do Peso F40
- Odete Fiúza, Maratona T11
- Sandro Baessa, 400m e 1500m T20
No boccia os atletas competem em cadeira de rodas e estão divididos em quatro classes:
- BC1 - podem competir com o auxílio de assistentes, que devem permanecer fora da área de jogo do atleta;
- BC2 - os atletas têm melhor controlo do tronco e funcionalidade dos braços do que os jogadores das classes desportivas BC1 e BC3. Nesta classe não podem receber assistência;
- BC3 - atletas com características funcionais mais limitadas e os jogadores utilizam dispositivos auxiliares, como calhas, capacetes com ponteiros e são ajudados por um acompanhante;
- BC4 - atletas com outras deficiências locomotoras, mas que são totalmente autónomos relativamente à funcionalidade exigida pelo jogo, não podem receber auxílio.
Atletas portugueses a competir:
- Abílio Valente - Individual BC2 e Equipas BC1/BC2
- Ana Sofia Costa - Individual BC3 e Pares BC3
- André Ramos - Individual BC1 e Equipas BC1/BC2
- Avelino Andrade - Individual BC3 e Pares BC3
- Carla Oliveira - Individual BC4 e Pares BC4
- Cristina Gonçalves - Individual BC2 e Equipas BC1/BC2
- José Macedo - Individual BC3 e Pares BC3
- Manuel Cruz - Pares BC4
- Nelson Fernandes - Individual BC2 e Equipas BC1/BC2
- Pedro Clara - Pares BC4
As classes das 22 modalidades podem ser consultas aqui.
4. Um atleta surdo pode participar nos Jogos Paralímpicos?
Não, os atletas surdos competem numa competição exclusiva: os Jogos Surdolímpicos.
Os Jogos Surdolímpicos de 2021, previstos para Caxias do Sul, no Brasil, foram adiados para 2022, devido à pandemia de Covid-19.
Em comunicado, a entidade organizadora do evento indica que a competição, inicialmente prevista para 5 a 21 de dezembro deste ano, deverá decorrer entre 1 e 15 de maio de 2022, no mesmo local.
Portugal, que se estreou em Jogos Surdolímpicos em 1993, conquistou um total de 11 medalhas (cinco de ouro, três de prata e três de bronze) em seis edições, a última das quais disputada em Samsun, na Turquia, em 2017.
5. Qual a história dos Paralímpicos?
Tudo começa a poucos quilómetros de Londres, em Stoke Mandeville, quando Ludwig Guttmann, um médico neurologista alemão, refugiado de guerra judeu, é nomeado diretor do centro nacional para as lesões na coluna.
Até então, os lesionados na coluna (espinal medula), eram tratados como irrecuperáveis. Algo que Guttmann quis mudar.
Obrigou as enfermeiras a mudá-los de posição a cada duas horas, tirou-lhes o gesso, fê-los sentarem-se e exercitarem as partes do corpo que controlavam. As enfermeiras e o próprio, como conta a filha, Eva Loeffler, em "Pódio para Todos" ("Rising Phoenix" no original), documentário disponível na Netflix.
Depois de ver alguns pacientes em cadeira de rodas a jogar hóquei com muletas, percebeu que o seu trabalho não passaria apenas por desenvolverem competência para reintegrar estas mulheres e homens, grande parte deles veteranos de guerra, no mercado de trabalho.
Incentivou-os a aprenderem arco e flecha e arremesso do dardo, e quando em Londres se competia nos Jogos Olímpicos de 1948, a cerca de 60 km de Londres, outra competição nascia apenas com 16 atletas: os Jogos de Stoke Mandeville.
O evento continuou a realizar-se todos os anos, tornando-se internacional em 1952, quando quatro atletas dos Países Baixos competiram.
Em 1960, os primeiros Jogos Paralímpicos tinham lugar em Roma, em 1976 as competições foram alargadas a atletas deficientes visuais e amputados e criados os Jogos Paralímpicos de Inverno (Suécia), em 1980 são incluídos no programa de provas desportistas atletas com paralisia cerebral, e em 1989 nasceu Comité Paralímpico Internacional.
Os Jogos Paralímpicos são definidos como o segundo maior evento mundial desportivo, depois dos Jogos Olímpicos.
Das 15 edições dos Jogos Paralímpicos, 10 realizaram-se na mesma cidade dos seus "irmãos" olímpicos: Roma1960, Tóquio1964, Seul1988, Barcelona1992, Atlanta1996, Sydney2000, Atenas2004, Pequim2008, Londres2012 e Rio2016.
Na capital nipónica, que pela segunda vez acolhe a competição (a primeira foi em 1964), vão marcar presença atletas de 131 países, uma delegação de refugiados e a representação da Rússia, que competirá sob bandeira do seu comité paralímpico, devido aos escândalos de ‘doping’ que ditaram a suspensão do país.
Em Tóquio, os 4.400 atletas vão competir em 22 modalidades, num total de 539 eventos, numa competição que tem crescido ao longo de 15 edições.
6. Quando é que Portugal participou pela primeira vez nos Jogos Paralímpicos?
A estreia dos atletas lusos ocorreu na quarta edição dos Jogos, em Heidelberg, na Alemanha, no ano de 1972, com a participação da equipa masculina de basquetebol de cadeira de rodas.
Esta edição dos Jogos Paralímpicos destinava-se apenas a atletas paraplégicos e similares, com a equipa lusa a incluir nove basquetebolistas do Hospital Ortopédico de Santana e do Centro de Medicina de Reabilitação do Hospital de Alcoitão.
Depois de um interregno de 12 anos, Portugal iniciou a sua participação continuada em Jogos Paralímpicos em Nova Iorque1984.
7. Quantas medalhas Portugal já venceu?
Portugal já conquistou 92 medalhas: 25 de ouro, 30 de prata e 37 de bronze.
O atletismo, com 53, o boccia, com 27, e a natação, com nove, são as três modalidades com mais pódios.
8. Quais os objetivos da Equipa Portugal em Tóquio?
Com uma comitiva mais reduzida e renovada em relação ao Rio2016 (37 atletas), Portugal estará representado em Tóquio por 33 atletas de 8 modalidades: atletismo, badminton, boccia, canoagem, ciclismo, equestre, judo e natação.
Entre os 17 estreantes, destaque para Beatriz Monteiro, representante no badminton, modalidade que fará a sua estreia no programa paralímpico, e para Norberto Mourão, campeão europeu na sua classe, juntamente com Alex Santos, marcará a estreia lusa na canoagem.
O contrato-programa de preparação para os Jogos Tóquio2020, celebrado entre o Comité Paralímpico de Portugal e o Governo, tem um valor global de 6,1 milhões de euros, verba que supera em cerca de 3,1 milhões a verba disponibilizada para o Rio2016.
E no que toca a objetivos? "O que temos contratualizado no contrato-programa são quatro medalhas e 22 diplomas, mas é preciso lembrar que esses objetivos foram estabelecidos antes da pandemia”, refere a chefe da missão portuguesa aos Jogos Tóquio2020, à agência Lusa.
Leila Marques estabelece como “primeiro objetivo a conquista de recordes pessoais e nacionais”, considerando que “tudo o que vier depois disso será muito bom”.
9. O valor dos prémios atribuídos aos atletas paralímpicos é o mesmo dos olímpicos?
Durante o ciclo paralímpico que agora termina, o valor dos prémios atribuídos aos atletas paralímpicos foi equiparado ao dos atletas olímpicos.
Os prémios a atribuir aos atletas portugueses pelo seu desempenho nos Jogos foi aprovado pelo Governo português em 2018, através da portaria n.º 332-A/2018.
Os campeões olímpicos recebem um prémio no valor de 50 mil euros, os atletas medalhados com a prata um prémio de 30 mil euros e os bronze um prémio de 20 mil euros.
De acordo com a portaria, estes prémios "em reconhecimento do valor e mérito de êxitos desportivos " são "um estímulo adicional de superação para os nossos melhores atletas de alto rendimento, de todas as modalidades desportivas com utilidade pública desportiva, que dignificam o País através da conquista dos mais altos patamares desportivos internacionais".
10. Os Jogos Paralímpicos terão público?
Os Jogos Paralímpicos, que começam a 24 de agosto e terminam a 5 de setembro, serão realizados à porta fechada, à semelhança do que aconteceu com os Jogos Olímpicos.
A decisão de realizar as provas à porta fechada foi anunciada a uma semana do arranque do evento, depois de Tóquio registar um número recorde de novos casos positivos do novo coronavírus.
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