"Estas temperaturas só estão a recuperar aquilo que é habitual termos no verão. A realidade é que as temperaturas que temos tido até aqui é que têm sido atípicas. Os ciclistas estão perfeitamente preparados, sabem que os fatores climatéricos são de particular importância no seu desempenho desportivo, mas não é mais nem menos do que aquilo a que eles estão adaptados a fazer", disse à agência Lusa o diretor da Volta a Portugal, Joaquim Gomes.
Vasco Costa, um dos médicos da organização, garante que "o principal cuidado é a hidratação, antes, durante e após a etapa", mas feita de forma cautelosa. "É preciso ter o cuidado e a sensibilidade de não se exagerar na hidratação, porque se pode tornar mais complicada uma hidratação excessiva do que uma desidratação", referiu.
O clínico recordou uma morte recente de um atleta, numa prova, com edema cerebral, "exatamente por causa do excesso de hidratação", que pode provocar hiponatremia, uma diminuição da concentração de sódio no sangue
"Há sempre aquele incentivo dos diretores desportivos: 'hidratar, hidratar antes de ter sede'. É preciso cuidado com isso", alertou.
Vasco Costa, antigo ciclista até ao escalão sub-23, acredita que cada ciclista deve consumir numa etapa com muito calor "aproximadamente um litro por hora", sendo que "há atletas que destilam um litro por hora, como há alguns que chegam aos dois litros".
"Costuma haver mais problemas gastrointestinais [após etapas com muito calor]. No próprio dia talvez não, mas à ‘posteriori’ vai acontecer. Há uma certa dificuldade do organismo em fazer a digestão. Se a nossa pele está a precisar de mais sangue para hidratar vai retirar mais sangue do intestino, então o atleta vai ter mais dificuldade em fazer a digestão. Os problemas gastrointestinais aparecem quando há mais calor", afirmou.
Com temperaturas acima de 40ºC esperadas para os próximos dias, podendo mesmo ser batidos máximos históricos, Vasco Costa assume que as "etapas da Volta a Portugal são horríveis porque são na altura do maior calor".
"Recomendamos também o uso do protetor solar, sobretudo nas áreas mais expostas, porque estamos a falar de cinco horas debaixo de radiação solar", disse.
Outro problema poderá afetar os ciclistas nos próximos dias são as poeiras provenientes do Norte de África, com o médico a garantir que "não há muito a fazer" para prevenir problemas respiratórios.
"Nós, equipa médica, temos de estar apetrechados de medicação específica, para o caso de alguma coisa acontecer, como uma despneia súbita [falta de ar], uma crise de asma. Já vamos conhecendo alguns atletas e sabemos de antemão que têm problemas de alergias. Há atletas asmáticos e nós já vamos conhecendo alguns. É comum irmos dentro do carro e quando vemos algum atleta desses a ficar para trás dizermos: 'vê lá se ele não está com falta de ar'", assumiu.
A primeira etapa em linha da Volta a Portugal disputa-se hoje entre Alcácer do Sal e Albufeira, com a segunda a ligar Beja e Portalegre, distritos onde são esperadas das mais altas temperaturas nos próximos dias.
A temperarura coemçou a subir de forma acentuada na quarta-feira e, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), vai manter-se muito elevada até ao fim de semana, com os avisos laranja a passarem a vermelhos (o nível mais grave) a partir de hoje e até à manhã de sábado.
Os distritos abrangidos pelo aviso vermelho por causa da persistência de valores elevados da temperatura máxima são Bragança, Évora, Guarda, Vila Real, Santarém, Beja, Castelo Branco, Portalegre, Guarda, Lisboa e Setúbal.
O IPMA adverte que as temperaturas máximas vão estar "muito acima dos valores normais para a época", próximas dos 40ºC, com exceção da costa sul do Algarve, onde serão entre os 30 e os 35ºC.
No interior do Alentejo, Vale do Douro e do Tejo e Beira Baixa, a temperatura máxima deverá atingir valores da ordem dos 45°C, "podendo ser alcançados máximos absolutos em vários locais".
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