Na Volvo Ocean Race (VOR) “estamos a competir contra os melhores do mundo”, começa por afirmar Paulo Mirpuri, presidente da Fundação Mirpuri. Tendo por base esse ponto de partida, olha para a prestação da tripulação do Turn the Tide on The Plastic, barco ao qual a Fundação empresta a bandeira portuguesa e lança a deixa para uma conversa com o SAPO24 sobre barcos, competição e preservação de oceanos.

“Estamos satisfeitos com a participação no lado desportivo, ainda que não tenhamos estado no pódio”, refere. Apesar de ser uma “equipa bastante jovem” e “inexperiente na vela oceânica”, não impediu que a tripulação liderada pela skipper Dee Caffari tenha conseguido “liderar durante algumas regatas”, recorda.

Na etapa 7 (de 11), na chegada a Itajaí, Brasil, em que duas equipas (Vestas e Scallywag) desistiram, o Turn the Tide on The Plastic conseguiu a melhor classificação numa perna: 4º lugar. Ainda assim, não se livra do último lugar na regata à volta do mundo (a 3 pontos do Vestas e 6 do Scallywag). E é nessa situação que parte para Newport, Estados Unidos das América, dia 22, domingo.

“A componente desportiva não é, se calhar, o mais importante para a Fundação Mirpuri”, assume. “Olhamos para o impacto que a mensagem que o barco transporta tem nas pessoas que acompanham esta regata”, sublinha.

“É uma corrida de fundo. Não de 1 dia, 1 mês ou 1 ano. E não estou a falar só da regata”.

E nesse campo, a “luta pela sensibilização da preservação dos oceanos” e o “combate à poluição dos plásticos nos mares” tem tido resultados “bastantes positivos”, uma mensagem partilhada com as Nações Unidas, via Ocean Family Foundation, também ela parceira de Sustentabilidade da VOR, através da campanha ambiental – Clean the Seas –, um recado a que se junta 11th Hour Racing, Volvo, AkzoNobel e Stena Rcycling, os outros parceiros.

créditos: Volvo Ocean Race

“É uma corrida de fundo. Não de 1 dia, 1 mês ou 1 ano. E não estou a falar só da regata. É um caminho que temos que percorrer e que será seguramente transversal à nossa geração e seguintes”, antecipa o presidente da Fundação.

Paulo Mirpuri insiste, por isso, num ponto fulcral. “A mensagem tem chegado aos quatro cantos do mundo” e das mais variadas formas, algumas inesperadas. “As visitas ao site da Fundação - mirpurifoundation.org -, mais de metade vem de países fora da União Europeia, em especial da China, Japão e do Extremo Oriente. Não são os primeiros países que pensávamos que viriam a consultar o nosso site”, desvenda.

Para levar a sustentabilidade na proa, a associação a uma regata à volta do mundo surgiu com naturalidade. “Por muito grande que seja a nossa atuação é muito pequena pela quantidade de problemas que existem”, avisa. “Tem que ser ampliada”, sustenta. Era, por isso, “importante participar numa plataforma de comunicação”, ligada “ao mar”, a um “desporto não poluente” e com “impacto”, justifica. Nesse sentido, pela “duração e percurso”, com passagem por países com “problemas graves” ou que “querem ser verdes (Nova Zelândia), encontraram o que pretendiam na VOR.

Pescar plásticos e fazer bioplásticos, numa parceria entre o conhecimento e o capital

Nesta parceria com a regata de circum-navegação, que tem criado “ciclos positivos”, uma consequência, que “não é muito pensada”, tem sido “um conjunto de contactos que evoluem para uma parceria com entidades, universidades e instituições” que estão a trabalhar em programas para “resolver ou mitigar o problema”, adianta. “Não se chegava a estas parcerias de uma forma tão intensa se não fosse através da participação da Volvo Ocean Race”, admite.

Falando dos avanços dados na legislação de alguns países no “combate ao plástico (Inglaterra e França, por exemplo)”, a Fundação tem optado por um caminho de “diplomacia” e “projetos específicos”, que por vezes “não é tão visível”, reconhece.

Nesse sentido, decorrem “ações concretas no desenvolvimento dos bioplásticos (evoluir para um bioplástico com a mesma utilidade e 100 % biodegradável) no suporte a uma equipa de investigadores e investidores norte americanos”, num projeto que “teve origem na Califórnia”, frisa.

Dos bios para os microplásticos, a localidade brasileira recebe, tal como acontece em cada paragem da frota dois Seabin (Seabin Project for cleaner oceans – projeto Seabin para a limpeza dos Oceanos), aparelho flutuante para recolha de detritos marinhos, tendo capacidade para recolher, por dia, 1,5 kg de detritos, incluindo micro-plásticos até 2mm de tamanho. E todos os dias estes caixotes flutuantes que pescam o plástico são colocados nas docas onde estão atracados os barcos das equipas.

A Fundação Mirpuri “foi talvez a primeira a analisar a fundo os efeitos da poluição marítima na saúde humana”, alerta Paulo Mirpuri que anuncia a organização de uma conferência, no final do ano, em Portugal apadrinhada pelas Nações Unidas.

Por fim, na conversa sobre e à volta do mar, Paulo Mirpuri, deixa um lamento no ar que bem podia caber na introdução sobre o tema dos oceanos. A culpa é da praia de infância (praia de Quarteira, ao lado do Marina Hotel). “Recordo-me como era e como ficou. Hoje não consigo ir aquela praia”.

créditos: Pedro Martinez/Volvo Ocean Race

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