“Ainda temos caminho a percorrer”, “temos de ir mais longe”, “estamos numa longa partida”, foram várias as expressões usadas por Christine Lagarde, presidente do BCE, para passar a mensagem de firmeza do banco central, após a última reunião de um ano movimentado.

O BCE decidiu abrandar o ritmo e optou por uma subida de 50 pontos base nas suas taxas de juro, seguindo o que fizeram a Reserva Federal norte-americana, na quarta-feira, e o Banco de Inglaterra, hoje.

Este aumento faz com que a principal taxa de juro de refinanciamento fique em 2,5%, o nível mais elevado desde finais de 2008.

Após longos anos de dinheiro barato, a instituição começou em julho passado a subir as suas taxas de juro, na esperança de arrefecer a atividade económica e travar a inflação.

Com dois aumentos de 75 pontos base, em setembro e em outubro, este tem sido o ritmo mais rápido de subida das taxas de juro desde a criação do BCE em 1999.

O BCE indicou ainda que haverá outros aumentos “significativos” das taxas de juro, dado que a “inflação continua demasiado elevada e deve continuar acima do objetivo [de 2%] durante demasiado tempo”, segundo o comunicado divulgado no final da reunião.

Numa outra decisão que mostra a mudança na orientação do banco central, o BCE anunciou que a partir de março do próximo ano vai começar a reduzir o seu balanço, após anos de aquisição de dívida para apoiar a economia durante os períodos de crise.

A redução será em média de 15 mil milhões de euros por mês até ao final de junho e depois esse ritmo será ajustado.

Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião, Lagarde insistiu: “devem esperar que continuem as subidas das taxas de juro a um ritmo de 50 pontos base durante algum tempo”.

Lagarde defendeu que “as taxas de juro têm que subir significativamente e a um ritmo sustentado para alcançar os níveis suficientemente restritivos que assegurem o regresso da inflação a médio prazo ao objetivo de 2%”.

A presidente do BCE também explicou que houve consenso geral no Conselho do BCE sobre a estratégia e a orientação que deve ser seguida, mas disse que nem todos os membros estiveram de acordo quanto à tática.

“Alguns defendiam que se fizesse mais e outros menos”, disse Lagarde, precisando que nem todos estiveram de acordo, mas que deve haver perseverança na luta contra a inflação, que em novembro atingiu 10% na zona euro.

O BCE divulgou também novas previsões económicas, revendo em alta as de inflação e em baixa as de crescimento.

De acordo com as novas projeções divulgadas hoje, o Produto Interno Bruto (PIB) deve atingir 0,5% em 2023, contra os 0,9% previstos em setembro. Em 2024, o crescimento será de 1,9% e de 1,8% em 2025.

“A atividade económica na zona euro poderá registar uma contração no presente trimestre e no próximo, devido à crise energética, à elevada incerteza, ao enfraquecimento da atividade económica mundial e às condições de financiamento mais restritivas”, disse o BCE.

“Uma recessão seria relativamente curta e pouco profunda”, segundo o BCE.

Em relação à inflação, as previsões apontam para 6,3% no próximo ano, em vez dos 5,5% antecipados há três meses. Em 2024, as previsões do banco central indicam uma descida para 3,4% e para 2,3% em 2025, já perto dos 2% que o BCE define como objetivo.

O BCE, que há um ano era acusado de laxismo face ao aumento de preços, fez definitivamente a sua escolha e está pronto para “aceitar algum sofrimento económico, no curto prazo, para colocar a inflação no seu objetivo”, consideram os analistas do Berenberg, citados pela AFP.

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