Joe Biden, que assinalou na quarta-feira o 100.º dia como Presidente numa sessão conjunta da Câmara dos Representantes e do Senado, lembrou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê o crescimento da economia norte-americana a uma taxa de 6% já este ano, num discurso marcado pela ideia de que o país está a virar a página da crise.
"Os Estados Unidos estão outra vez em movimento. Não podemos parar agora", sublinhou.
Biden afirmou que o país está a emergir da crise sem precedentes provocada pela pandemia, aludindo ainda à fratura da sociedade e aos ataques à democracia impulsionados pelo antecessor, o republicano Donald Trump.
"Há 100 dias, os Estados Unidos estavam em chamas", disse o democrata, afirmando que as ações do seu executivo mudaram as perspetivas do país.
Ao lembrar que herdou o combate à covid-19 quando iniciou o mandato, em 20 de janeiro, Biden defendeu que a campanha de vacinação é "um dos maiores sucessos logísticos" na história do país.
"Prometi 100 milhões de vacinas [contra a] covid-19 em 100 dias", referiu o político, para salientar que esse número foi afinal mais do dobro, 220 milhões.
"Mais de metade dos adultos receberam pelo menos uma dose", disse Biden, acrescentando que "a morte de idosos baixou 80% desde janeiro".
O discurso ficou marcado pela defesa da classe média norte-americana, com propostas económicas para apoiar os mais afetados pela crise sanitária, aumentando os impostos dos mais ricos.
"Wall Street não construiu este país. A classe média construiu este país e os sindicatos construíram a classe média", disse Biden, exortando a combater o fosso entre os mais ricos e os mais pobres.
"Vinte milhões de americanos perderam o emprego durante a pandemia", recordou, frisando que, "ao mesmo tempo, cerca de 650 bilionários viram a sua riqueza aumentar mais de um trilião de dólares".
"É tempo de as empresas americanas e de os 1% mais ricos começarem a pagar a sua parte", instou.
O aumento de impostos que Biden propõe, de 39,6% para os que ganham mais de 400 mil dólares (329 mil euros) por ano, é o que estava em vigor quando o republicano George W. Bush "se tornou Presidente", indicou.
O democrata acrescentou que, durante os primeiros 100 dias do mandato, foram criados "mais de 1,3 milhões" de postos de trabalho, "mais do que qualquer Presidente" no mesmo período, e defendeu o programa de criação de emprego, apresentado no início do mês, que representa um investimento de 2,3 triliões de dólares (cerca de dois triliões de euros) em infraestruturas.
"É o maior plano de criação de emprego desde a Segunda Guerra Mundial", afirmou.
Biden voltou a defender o aumento do salário mínimo para 15 dólares (cerca de 12 euros) por hora, uma proposta rejeitada pelos senadores republicanos, durante a discussão do pacote de estímulo económico, e alertou ainda os legisladores para a necessidade de baixar o preço dos medicamentos.
Essa decisão teria impacto na prescrição de fármacos através do Medicare, serviço de seguros de saúde gerido pelo Governo norte-americano para cidadãos com rendimentos mais baixos, que atualmente está impedido de negociar diretamente o preço dos medicamentos com as farmacêuticas.
Enquanto candidato, Biden prometeu reverter este impedimento, mas a legislação ainda não foi submetida à apreciação do Congresso.
O Presidente dos EUA apresentou ainda uma proposta para um serviço pré-escolar universal e dois anos de frequência gratuita nas faculdades públicas, entre outras medidas.
O convite para o discurso partiu da líder da maioria democrata na Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, que desafiou o Presidente a "compartilhar a sua visão para enfrentar os desafios e oportunidades deste momento histórico".
As restrições por causa da pandemia colocaram o Presidente norte-americano a falar para uma sala com poucos ouvintes presenciais, numa sessão com um forte dispositivo policial à volta do Capitólio, devido ao receio de uma nova tentativa de insurreição, como a ocorrida em 06 de janeiro, quando apoiantes de Trump tentaram invadir o Congresso para impedir a confirmação da vitória de Biden nas presidenciais de 3 de novembro.
Os últimos seis presidentes dos EUA escolheram discursar perante uma sessão conjunta da Câmara dos Representantes e do Senado no primeiro ano de mandato. Nos anos seguintes, a intervenção perante o Congresso é referido como o discurso do Estado da Nação.
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