“A inflação está controlada. O Banco Central Europeu [BCE] tem de ser muito bom na comunicação, porque a inflação que temos como objetivo é a médio prazo. Tomamos decisões hoje para que daqui a dois anos a inflação seja de 2%. Estamos já muito perto dos 2%”, observou Mário Centeno, no segundo dia do Fórum La Toja, que se decorre em O Grove, Pontevedra, na Galiza, Espanha.
Centeno admitiu que é preciso “decidir dia a adia”, mas destacou a importância da previsibilidade para lutar contra a fragmentação, lembrando a forma como a União Europeia respondeu à pandemia de covid-19, não deixando “dúvidas sobre o sistema financeiro”.
“Com a covid-19, pela primeira num contexto de crise, o euro subiu. A Europa fez o seu trabalho e chegámos à crise da pandemia de covid-19 com níveis de risco mais baixo do que alguma vez tivemos na Europa. As finanças públicas estavam a ficar em ordem e isso era algo importantíssimo para criar confiança e criar a resposta que tivemos”, sublinhou.
Centeno defende, por isso, que a União Europeia tem de “baixar o nível de risco, aumentar a confiança, envolvendo as pessoas para que entendam” o que está em causa.
O governador do banco de Portugal falava durante o debate com o governador do Banco de Espanha sobre A união monetária perante os desafios da estabilidade, crescimento e competitividade da economia europeia.
Centeno fez uma apresentação intitulada What ever it takes: trust and integration in Europa, assinalando também a importância, para a recuperação económica, de subir o valor dos salários reais.
“A Europa sofreu a maior descida dos salários reais relativamente aos Estados Unidos da América. A maior ambição das pessoas é recuperar isso. Sem isso não vamos recuperar economicamente”, sustentou.
Centeno destacou os “avanços na arquitetura institucional da Europa”, como o “Mecanismo Único de Resolução monetária” ou o “Mecanismo de Estabilidade Europeia, que permitirá “melhorar o contexto de risco”.
“Ter uma previsibilidade maior da política monetária é algo que os governadores têm para oferecer”, afirmou.
O Governador do Banco de Portugal assinalou que “estamos sempre a querer ter previsões para todos os resultados que o mundo possa gerar, para ter pronta a resposta”, mas isso “não existe”.
“O resto gere-se com a cultura de risco”, explicou.
Para Centeno, “continuam a existir várias coisas por fazer” e é preciso “ter confiança de que o debate não pode parar”, razão pela qual os relatórios Letta e Draghi, sobre a competitividade da União Europeia, “são importantes”.
“O tema do crescimento na Europa é central. Não o podemos evitar”, sustentou.
Centeno indicou que se assiste a um arrefecimento do mercado laboral na Europa e isso deve preocupar.
“Em economia há que ter paciência e paciência em economia é liquidez”, disse.
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