A Country Garden tinha cumprido até agora todos os seus pagamentos em yuan, apesar de ter entrado anteriormente em incumprimento nas suas obrigações emitidas nos mercados internacionais e estar a negociar uma reestruturação da dívida, após ter recebido um pedido de liquidação em Hong Kong.
A empresa prometeu “fazer o seu melhor para angariar fundos durante o período de prorrogação [de 30 dias]”, através de vendas, revitalização de ativos e corte de despesas administrativas desnecessárias, segundo o jornal local The Paper, que cita vários detentores das obrigações em causa.
A construtora conseguiu prolongar mais de 10 mil milhões de yuan (1,29 mil milhões de euros) em obrigações ‘onshore’ por três anos, em setembro, e desde então pagou várias parcelas da dívida, incluindo 800 milhões de yuan (103 milhões de euros) em dezembro, noticiou hoje a agência Bloomberg.
Ao explicar porque não pagou os juros da referida obrigação ‘onshore’, cujo prazo terminou na terça-feira, o ex-líder do mercado imobiliário chinês, entre 2017 e 2022, atribuiu a culpa a “fatores como a recuperação das vendas, que não correspondeu às expetativas” e à “pressão na alocação de capital”.
Na semana passada, em comunicado à Bolsa de Valores de Hong Kong, onde está cotada, a Country Garden revelou que as suas vendas caíram 85% em fevereiro, em termos homólogos, a maior queda em pelo menos cinco anos e um valor que coloca o volume de vendas a um décimo da média mensal dos últimos quatro anos.
Perante a situação, um credor apresentou no final de fevereiro um pedido de liquidação contra a empresa num tribunal de Hong Kong, abrindo um processo cuja primeira audiência está marcada para 17 de maio, embora o promotor tenha garantido que o montante devido ao queixoso (cerca de 204 milhões de dólares) é “uma proporção muito pequena” do seu passivo ‘offshore’ e não afetará as suas operações ou negociações de reestruturação.
Um mês antes, a justiça de Hong Kong tinha ordenado a liquidação de outro dos grandes nomes da crise imobiliária chinesa, a Evergrande, a favor dos seus credores estrangeiros, uma decisão que abriu um longo e incerto processo, uma vez que não se sabe se será reconhecida na China continental, onde se encontra a maior parte dos seus ativos, uma vez que o sistema judicial da antiga colónia britânica é distinto do da China, ao abrigo do seu estatuto semiautónomo.
A situação financeira de muitas empresas imobiliárias chinesas agravou-se depois de Pequim ter anunciado, em agosto de 2020, restrições ao acesso ao financiamento bancário para os promotores que tinham acumulado um elevado nível de dívida, incluindo a Evergrande, com um passivo de quase 330 mil milhões de dólares.
Nos últimos meses, perante a situação, o governo anunciou várias medidas de apoio, com os bancos estatais a abrirem também linhas de crédito a vários promotores, cuja prioridade era concluir projetos vendidos antes da sua conclusão, uma questão que preocupa Pequim pelas implicações na estabilidade social, dado que a habitação é um dos principais veículos de investimento das famílias chinesas.
No entanto, o mercado não está a reagir: as vendas comerciais medidas por área útil caíram 24,3%, em 2022, e mais 8,5%, em 2023, enquanto os preços das casas novas caíram em dezembro ao ritmo mais rápido em quase nove anos.
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