Martins da Cruz, que abordou, numa conferência, em Lisboa, os limites, positivos e negativos, da CPLP, salientou que a importância da organização lusófona não se resume às cimeiras que se veem na televisão, e destacou a concertação político-diplomática.
“A nossa cooperação com a CPLP não é apenas uma cooperação entendida em sentido estrito, porque há vários setores do Governo, da Justiça, que se reúnem periodicamente para avaliar a situação e para tentar fórmulas de cooperação. A CPLP não se resume a cimeiras que nós vemos nas televisões”, acrescentou.
O diplomata, que intervinha no último painel da conferência internacional “Portugal na relação da Europa com a América Latina e África”, considerou ainda que a CPLP “tem uma atividade diária e uma atividade importante que não são limites”.
De entre os fatores positivos que abordou, deu relevo ao facto da CPLP representar atualmente 270 milhões de habitantes, ou seja, 3,7% da população mundial.
“E mais de 3% do PIB mundial e hoje os países da CPLP produzem 6% do petróleo produzido no mundo e um bocadinho mais de 1% do gás. E as projeções são, quando começare a ser explorado, por exemplo, o gás do norte de Moçambique, o petróleo que existe ‘offshore’ em São Tomé e as perspetivas que se abrem no Brasil e em Angola, em 2035, a CPLP vai representar entre 15 a 20% do petróleo e do gás produzidos no mundo”, adiantou.
Trata-se, defendeu, de uma “perspetiva económica muito importante e que nem sempre é falada”, salientou o antigo chefe da diplomacia.
Se no setor da energia se verifica esta relevância da CPLP, no domínio do comércio externo português, Martins da Cruz traçou um cenário negativo.
“Os países da CPLP, incluindo o Brasil, se retirarmos o aspeto de energia que representa, têm vindo a baixar na importância do comércio externo português, quer a nível de mercadorias, quer a nível de serviços. As nossas exportações para a CPLP não chegam a 4% do total. E isto é o limite da CPLP. Deviam ser mais. Nós temos um comércio externo orientado sobretudo para a União Europeia”, referiu, enumerando que a UE representa mais de 70% do comércio externo português.
“E este é obviamente um limite económico ao qual não podemos fugir e prejudica a CPLP. Angola já foi o nosso quinto mercado de exportação. Hoje não está nem sequer nos 10 primeiros, por razões que têm a ver com a situação económica mundial, que tem a ver com as guerras que atravessamos”, explicou.
Recuperando o que o embaixador Ribeiro Telles tinha afirmado antes, sobre Portugal não ser uma prioridade para a política externa brasileira, Martins da Cruz considerou que nem a CPLP é uma prioridade para o Brasil.
“O grande limite da CPLP são as fidelidades regionais. São países que estão inseridos em regiões. Estão inseridos em políticas regionais e estas fidelidades regionais podem, nalguns casos, diluir o denominador comum que a CPLP representa”, frisou.
Martins da Cruz intervinha no painel moderado pela diretora de informação da agência Lusa, Luísa Meireles, e que teve, ainda, como oradores, Luís Amado, ex-ministro da Defesa e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, ex-vice-primeiro-ministro e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, e Francisco Ribeiro Telles, antigo embaixador de Portugal em Cabo Verde, Angola e Itália e ex-secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP, de 2019 a 2021), atualmente, secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros português.
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