“Desanuviamento político, desde logo, e depois disso espero que haja a assinatura do protocolo e, nomeadamente (…) um reforço da linha de financiamento para Angola, que seria bom para as empresas portuguesas que lá estão”, disse o presidente do conselho de administração da Mota-Engil, António Mota, em declarações à Lusa.

Para o empresário, o que as empresas portuguesas de muitos setores, e também do da construção, precisam é de estabilidade no mercado angolano.

Daí também a importância da visita de dois dias que António Costa realiza aquele país e que começa esta segunda-feira.

“A visita do primeiro-ministro a Angola e depois também, a confirmar-se, a do Presidente da República angolano a Portugal são positivas para os dois países. Portugal precisa do mercado angolano para muitos dos seus setores da economia e Angola sempre teve como referência o nosso país em termos de estabilidade, ligações familiares, cultura” afirma o empresário, e acrescenta: “atravessámos um período árduo”.

“Não é que não tivesse havido relações entre as empresas e os cooperantes que estão em Angola e os angolanos, mas houve algum virar de costas que, a meu ver, já está ultrapassado, e ainda bem porque tudo vai ser mais fácil”, diz o empresário.

António Mota defende que é preciso “movimentos de cá para lá e de lá para cá, empresários portugueses em Angola e (…) empresários angolanos em Portugal, num relacionamento político diferente e numa transparência também diferente”, que na sua opinião “verifica-se já hoje em Angola”.

“Há mudanças substanciais em tudo o que é criticável relativamente a Angola. É altura das pessoas começarem a dizer que Angola tem tomado medidas que anulam muitas das críticas que eram feitas ao país”, considerou.

Com as mudanças que estão a ser operadas na economia angolana, muito dependente da indústria petrolífera, o presidente do Conselho de Administração da Mota-Engil diz ter esperança que desta vez se criem as condições para que haja muita indústria estabelecida em Angola, seja de portugueses ou não, e para que a agricultura passe a ter a expressão que já teve no passado.

“Muita coisa mudou em Angola ao longo do tempo e mudou para melhor. Tem havido um desenvolvimento progressivo da economia angolana, mas não foi suficiente. É preciso dar mais força a esse desenvolvimento, é preciso dar condições à população, fazendo infraestruturas, resolvendo o problema da saúde e investindo na agricultura e na industrialização”, afirmou

Para a Mota-Engil, garante, Angola “continua a ser um mercado interessante. É um mercado onde se trabalha bem, onde as margens de rentabilidade estão bem, onde os pagamentos têm os seus períodos maus, e se demora muito tempo a receber, onde tem havido dificuldades na transferência das moedas para cá e para lá, mas tudo isto não é uma novidade, sempre foi assim nos últimos 35 anos”.

Contudo, admite que o volume de negócios do grupo este ano no México possa voltar a ser, tal como em 2017, superior ao de Angola, que até ao ano passado era o mais importante mercado a nível internacional.

O plano estratégico do Grupo Mota-Engil, em vigor até 2020, tem três pilares: África, Europa e América Latina. O objetivo traçado nesse mesmo plano é que cada uma destas regiões seja responsável por um terço do volume de negócios total do grupo.

Neste momento a região que está mais atrasada no caminho para o objetivo é a Europa, assegurou.

Em Angola, António Mota, diz que o Grupo vai continuar a investir e diversificar para outras áreas de negócio, mas não quis avançar quais. “Há muitas áreas em Angola que são interessantes”, afirmou.

Quanto a expectativas e consequências de eventuais regras impostas pelo Fundo Monetário Internacional no âmbito do programa de assistência já solicitado pelo governo angolano ao país, António Mota desdramatiza.

“Não sei se o FMI vai impor medidas, sei que o governo de Angola vai seguir medidas num setor que serão muito próximas daquelas que o FMI gosta de ver impostas. Se elas contribuírem para que a economia dê saltos qualitativos e melhore acho que tudo é positivo”, concluiu.

Angola anunciou no final de agosto que vai discutir com o Fundo Monetário Internacional (FMI) um programa de financiamento de 4.500 milhões de dólares (3.910 milhões de euros), no quadro do programa de assistência solicitada pelo Governo.

A Galp, outra das maiores empresas portuguesas a investir em Angola há décadas, quer na área da exploração e produção de petróleo, quer na da distribuição de combustíveis, não comenta a visita de António Costa a Angola, mas em resposta a questões enviadas pela Lusa por escrito, o presidente da comissão executiva, Carlos Gomes da Silva, assegura que o mercado angolano continua a ser estratégico para petrolífera e admite novos investimentos.

“Angola é, desde há décadas, uma geografia central na estratégia internacional da Galp. Aliás, foi precisamente em Angola que, em 1982, a Galp iniciou a sua atividade de exploração e produção”, afirma o gestor.

Carlos Gomes da Silva recorda também que a empresa participa hoje “no mais importante projeto em desenvolvimento no país, denominado por Kaombo, composto por duas unidades de produção de 150 mil barris diários cada uma, tendo a primeira dessas unidades iniciado produção no passado mês de Junho e devendo a segunda unidade entrar em operação já no próximo ano”.

Aprofundar a presença da empresa no país também está nos planos da petrolífera.

Nas respostas por escrito enviadas à Lusa o gestor afirma: “Temos a expectativa de que a reorganização em curso do setor energético abra novas oportunidades que permitam o aprofundamento da nossa presença no país”.

Questionado sobre o anúncio feito recentemente pela petrolífera angolana Sonangol de que irá alienar participações em vários blocos petrolíferos em Angola e se isso poderia representar uma oportunidade de negócio para a empresa, bem como sobre a possibilidade de concorrer às novas licitações de blocos também anunciadas, Carlos Gomes da Silva, diz: “A Galp está atenta, e avalia todas as oportunidades suscetíveis de criar valor, em todos os mercados considerados estratégicos para a empresa, e Angola é certamente um deles”.

Sobre a presença no negócio da distribuição e comercialização de combustíveis no mercado angolano, onde a Galp está através da Sonangalp, empresa resultante de uma parceria com a Sonangol e na qual detém 49%, o gestor refere que a empresa “está a seguir uma estratégia de crescimento endógeno”, tendo aberto quatro novos postos desde o início deste ano, contando assim com uma rede de 50.

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