"A verdade é que [quem ficar] tem de se adaptar a uma realidade que é muito diferente daquela em que muitas empresas tiveram a experiência, pelo lado positivo", afirmou Ricardo Gomes, numa entrevista à Lusa em que fala sobre os impactos para o setor da construção português da crise que Angola atravessa, num contexto de pandemia, que, entre outras consequências, fez baixar abruptamente o preço do barril de petróleo, fonte de receita que sustenta a economia angolana.
Na opinião daquele responsável, neste cenário, as empresas portuguesas têm de adaptar estruturas, desde logo tornando-as "muito mais baseadas em quadros e trabalhadores locais do que em expatriados", uma medida que permite reduzir custos, mas que também as deixará melhor preparadas para gerirem momentos, como estes, de depressões no mercado.
Segundo Ricardo Gomes, este processo de substituição expatriados por colaboradores locais já estava a ser feito por algumas empresas portuguesas, mas é "uma tendência" que agora "deverá ser acelerada”.
"Portanto, em certo sentido, nós, provavelmente, teremos não menos empresas portuguesas a trabalhar em Angola mas, se calhar, menos portugueses expatriados em Angola”, disse.
Ricardo Pedrosa Gomes, que há dois dias tomou posse também como vice-presidente da AICCOPN - entidade que resulta do processo de integração, ainda em curso, entre as duas grandes associações do setor da construção em Portugal, AECOPS e a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), e que será presidida por Reis Campos - considera, porém, que o principal desafio para as empresas portuguesas em Angola será a adaptação a outro "padrão de mercado", com "mais concorrência".
"É obvio que as empresas terão de pensar muito que (...) grande parte da capacidade de investimento em Angola virá de entidades externas” àquele país, afirmou, salientando: "virá de bancos de desenvolvimento, de agências de cooperação, de investidores internacionais".
Neste novo cenário, “vão ver muitas empresas de outros países, que não olhavam para Angola, mas que agora, porque alguns deles são financiadores de muitos dos investimentos e de muitas dessas agências de desenvolvimento que vão financiar projetos no país, vão passar a olhar”.
"Agora, o que vamos assistir, nesta nova fase do mercado angolano, é que o padrão dos grandes investidores em termos de infraestruturas em Angola, vão ser o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento, as agências de cooperação europeias, o próprio Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, que é um instrumento, que juntamente com os convénios dos países ACP [África, Caraíbas e Pacífico], a União Europeia usa muitas vezes para fazer investimentos em países terceiros e, neste caso, em África".
Com "as dificuldades que existem e vão continuar a existir, infelizmente, durante algum tempo, (...) o Estado angolano vai estar limitado nas suas capacidades de investimentos", referiu.
Assim, para as empresas portuguesas consolidadas naquele mercado “a estabilidade da manutenção da operação”, também dependerá muito de terem outros projetos em que “as garantias de pagamento e os fluxos de tesouraria sejam protegidos”.
Quanto às empresas portuguesas que poderão aguentar-se no novo cenário angolano, Ricardo Gomes não tem dúvidas: “As maiores. Aquelas que têm um histórico de permanência em Angola que não se resume aos bons momentos, mas que é permanente há décadas".
A 21 de abril, o Governo de Angola anunciou através de uma nota divulgada pelo gabinete da ministra das Finanças angolana, Vera Daves de Sousa, Angola, que vai “suspender a execução de todos os contratos no âmbito do Programa de Investimento Público, cuja fonte de financiamento não se encontre assegurada”, na sequência da pandemia.
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