Em declarações à agência Lusa no âmbito da comemoração do Dia Internacional do Café, na próxima segunda-feira, a secretária-geral da Associação Industrial e Comercial do Café (AICC) adiantou terem sido exportados por Portugal perto de oito mil toneladas (7.971.871 quilos) de café nos primeiros sete meses deste ano, contra os 7.753.051 quilos do período homólogo de 2017.
Segundo Cláudia Pimentel, “as exportações têm apresentado uma evolução bastante positiva desde 2006, tanto em quantidade como em valor, tendo baixado ligeiramente em 2017″ (-2,68% em valor e -5,50% em toneladas) devido a uma associação de fatores, desde as greves portuárias, “que atrasam envios”, ao crescimento do mercado interno, que esgota a capacidade de exportação dos produtores mais pequenos.
No ano passado, as exportações portuguesas de café ultrapassaram ligeiramente os 77 milhões de euros, face aos 79,2 milhões de euros de 2016, tendo o mercado interno ascendido a 511 milhões de euros, contra praticamente 484 milhões de euros em 2016.
“Em termos reais penso que as exportações vão continuar a crescer, assim como o mercado interno, que ainda está a crescer mais”, afirmou.
Espanha, Grécia e França destacam-se como os três principais destinos das exportações portuguesas de café: Espanha surge destacada, com vendas de 26,2 milhões de euros, enquanto a Grécia e a França apresentam valores muito semelhantes, em torno dos 5,4 milhões de euros (valores totais acumulados considerando as exportações de café verde, produtos já transformados através da torrefação e outros subprodutos de café).
De acordo com a secretária-geral da AICC, Angola chegou a ser o quarto destino das exportações portuguesas de café, “mas agora está muito mais abaixo”, em parte porque, na sequência da crise do petróleo, aquele país africano tem tentado reabilitar a produção interna (nos anos 60 chegou a ser o segundo produtor mundial de café), o que lhe tem permitido reduzir as importações.
Segundo Cláudia Pimentel, o crescimento do mercado internacional de café tem estado a ser dinamizado, nomeadamente, pelos mercados asiáticos, “que estão a crescer muito”, assim como por alterações nos hábitos mundiais de consumo de café.
“Se há cinco anos se bebia mais café de filtro, hoje em dia o café expresso está a subir no mercado mundial e como Portugal exporta mais café para expresso, é natural que haja mais exportações”, explicou.
Sustentando que o café “é um setor em crescimento, mas também em mudança”, a responsável atribuiu em parte esta situação ao ‘boom’ do turismo, que tem levado o mercado a “alargar a sua oferta” e a “diversificar as bebidas de café”: “Já não temos só a tradicional bica, mas temos também produtos à base de café que os consumidores começam a apreciar mais, desde o ‘capuccino’ (que há dez anos praticamente ninguém bebia em Portugal), ao ‘flat white’ (uma espécie ‘capuccino’ com menos espuma) e ao café frio”, explica.
De um consumo ‘per capita’ anual de café de 4,73 quilos em 2012, Portugal passou em 2017 para 5,5 quilos ‘per capita’, prevendo a associação “que este número continue a aumentar nos próximos anos”, beneficiando também do impulso dado pelos turistas, cujo consumo é contabilizado como interno.
Estes números colocam Portugal “no fim da tabela dos 20 países maiores consumidores de café” no mundo, um ‘ranking’ que é liderado pelos países nórdicos, devido à sua “diferente forma de consumo”.
“O consumo de café nos países nórdicos é feito por café de filtro, em que uma dose leva cerca de 27 gramas, quanto uma dose de expresso leva sete gramas”, explicou Cláudia Pimentel, apontando a Finlândia como o principal país consumidor de café (com 12 quilos ‘per capita’/ano), seguida da Noruega (9,9 quilos), da Islândia (9 quilos) e da Dinamarca (8,7 quilos).
No que se refere às importações portuguesas de café, aumentaram 4,72% em quantidade, para 37 mil toneladas, nos primeiros sete meses de 2018 face ao período homólogo, mantendo-se “há já muitos anos” o Vietname (sobretudo café da espécie ‘robusta’), o Brasil (café ‘robusta’ e ‘arábica’) e o Uganda como os principais fornecedores de Portugal.
Quanto à evolução mundial dos preços do café verde (matéria-prima), Cláudia Pimentel recorda que, “como produto agrícola que é, está muito dependente das colheitas anuais” — sendo que “a colheita de 2017 foi boa, mas 2018 vai ser provavelmente mais complicada” –, mas adverte que o aumento da procura global tem vindo a pressionar em alta os preços.
Ainda assim, diz, “os custos da matéria-prima têm sido absorvidos pelos torrefatores”, como prova o facto de “há vários anos o preço de um café rondar os 60 a 70 cêntimos” em Portugal.
Para assinalar o Dia Internacional do Café, a AICC anuncia na segunda-feira a realização, em março, do 1.º “Lisbon Coffee Fest”, um festival “dedicado inteiramente ao café que vai promover diversas experiências aos profissionais da área e aos consumidores”.
“A realização deste festival vem no seguimento da ligação que o nosso país tem à história do café e da enorme paixão do povo português por café”, sustenta a associação, adiantando que na segunda-feira será ainda lançado o livro “Portuguese Coffee — A Blend of Stories”, no qual está registada “a importância de Portugal no mundo do café e alguns mitos e factos do café na saúde”, entre outros temas.
“Este não é só mais um livro sobre café, é o livro que fala do café português e que tem como ambição mostrar a sua identidade e colocá-lo no ‘patamar de alta qualidade que é seu por direito’, dando-lhe o protagonismo que merece. Simultaneamente pretende dar ferramentas ao consumidor que lhe permitam conhecer melhor o seu café, de modo a possa seja mais exigente com o seu expresso e a forma como este lhe é servido, bem como proporcionar-lhe novos momentos e experiências com o café”, afirma a AICC.
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