Em 30 de outubro, o grupo Global Media (GMG), que detém o Jornal de Notícias (JN), Diário de Notícias (DN), O Jogo e a TSF, entre outros títulos, anunciou que iria iniciar um processo de despedimento coletivo que abrange 81 colaboradores, 17 dos quais jornalistas, em diferentes áreas.

"Tal como outras empresas do setor, é inevitável a empresa implementar medidas drásticas de redução de estrutura de forma a ter um plano de viabilidade a médio prazo o que implica a concretização do presente processo de despedimento coletivo na sequência do qual se estima uma redução de 7,8 milhões de euros nos custos salariais, em 2021", lê-se na descrição dos motivos invocados para despedimento coletivo, na carta de justificação enviado aos trabalhadores que são alvo deste processo.

A GMG espera reduzir os gastos operacionais, com todas medidas de reestruturação, em cerca de 15 milhões de euros já em 2021.

"Apesar das medidas de reestruturação implementadas nos últimos anos e face à queda tão significativa e contínua das receitas, a Global Notícias - Media Group necessita de implementar medidas adicionais que tenham um forte impacto na redução da estrutura de custos da empresa", explica o grupo, estimando que através de medidas de reestruturação "consiga atingir resultados líquidos positivos a partir de 2021, sendo que se prevê que essas medidas podem permitir reduzir os gastos operacionais" em "cerca de 15 milhões de euros" no próximo ano.

As medidas, que incluem redução de gastos com pessoal, visam também a melhoria da margem bruta de produção e redução de fornecimentos e serviços externos (FSE) contratados.

No que respeita aos custos de produção, a GMG pretende aumentar a eficiência através de redução e otimização do número de páginas e formatos de produtos, renegociação com fornecedores e otimização de número de tiragens impressas.

"Estima-se que o impacto resultante das medidas de redução de custos de impressão será consideravelmente inferior ao obtido com as restantes medidas, representando, no entanto, uma melhoria da margem relativamente à venda de jornais de 2,9%, quando comparado com o ano de 2018", refere a empresa.

"Em termos acumulados, estima-se que a conjugação destas medidas [sobre custos de produção] permitam uma poupança de 2,1 milhões de euros entre 2020 e 2024", salienta.

Já no que respeita às reduções em gastos de FSE, refere que nos subcontratos - um dos custos que "mais reduziu em 2019", a Comissão Executiva da Global Media "estima uma poupança total de cerca de 1,5 milhões de euros por ano, através da renegociação destes contratos".

Nos serviços informáticos, a "empresa encontra-se em processo de renegociação dos 'fees' do 'software' utilizado nas publicações, prevendo também diminuir custos com vídeo 'streaming', através de utilização de novas metodologias e reduzir o recurso a ITOutsorcing', estimando assim poupanças anuais com cerca de 600 mil euros".

Além disso, "estima-se uma poupança anual de aproximadamente 1,9 milhões de euros com a renegociação de contratos e com a contenção de vários outros custos ligados à atividade", lê-se no documento.

No que respeita à redução do pessoal, a GMG explica que a diminuição registada no ano passado, através de processos de rescisão negociados, foi insuficiente, uma vez que "a estrutura de pessoal é muito elevada face ao volume de negócios da empresa – o decréscimo constante de receitas dos últimos anos não tem sido acompanhado por um decréscimo dos custos fixos".

Com a redução estimada de 7,8 milhões de euros nos custos salariais do próximo ano, a dona do DN sublinha que "a importância dos custos com pessoal será reduzida de 56% para 41% do total de receitas geradas".

A Global Media "conta com dois dos quatro jornais mais relevantes de informação geral do país - Diário de Notícias e Jornal de Notícias e um jornal desportivo - O Jogo", salienta o grupo, apontando que "a circulação média paga das principais edições da empresa tem vindo a cair cerca de 10% ao ano, tendo as maiores quedas sido registadas nos últimos dois anos".
A circulação paga dos títulos da empresa "tem vindo a sofrer quebras significativas, nomeadamente em volume, sendo este efeito avassalador se considerarmos o período entre 2008 e 2019", prossegue a GMG, apontando que o JN passou de 101,2 para 44,5 mil unidades, o DN de 40 para sete mil unidades e O Jogo de 31,6 para 16,8 mil unidades.
"No que diz respeito às receitas de publicidade a queda ainda foi mais significativa que a relacionada com as receitas de circulação, uma vez que se verificou uma redução de 66,5% desde 2008", acrescenta.

"Realçamos que em 2008 a empresa apresentava receitas com a venda de jornais e revistas de 45,9 milhões de euros e receitas de publicidade de 51,2 milhões de euros", aponta a GMG.

A Global Notícias Media Group "apresenta, assim, um decréscimo no volume de negócios acumulado de 17,7% entre 2017 e 2019, influenciado pela queda de todas as linhas de receita, em especial da venda de jornais e revistas, com uma quebra acumulada de 21,4%", lê-se no documento.

No que respeita aos custos, "e apesar das várias medidas de reestruturação desenvolvidas em 2019, que resultaram numa redução de custos com pessoal e FSE de 17% face a 2018, a empresa continua a apresentar um rácio de custos operacionais/proveitos operacionais insustentável", acrescenta.

Global Media espera atingir resultado operacional positivo em 2021 e lucro em 2022

A Global Media espera atingir um resultado operacional positivo em 2021, com a redução de custos com pessoal, e atingir lucro em 2022, de acordo com um documento a que a Lusa teve hoje acesso.

A Global Media (GMG) estima que o plano de reestruturação em curso possa "permitir reduzir os custos operacionais (...) em cerca de 15 milhões de euros em 2021", dos quais uma redução de 7,8 milhões de euros nos custos salariais decorrentes do despedimento de 81 pessoas, segundo a descrição dos motivos invocados para despedimento coletivo, na carta de justificação enviada aos trabalhadores que são alvo deste processo.

"É estimada uma forte quebra do volume de negócios em 2020, em resultado do impacto da pandemia covid-19, e recuperações ligeiras, perspetivando-se, no entanto, a recuperação para níveis inferiores aos observados no histórico", refere a empresa.

"De notar que esta estimativa de redução é efetuada tendo em consideração as expectativas de evolução das vendas e prestações de serviços, e as medidas de reestruturação apresentadas anteriormente, sendo expectável que a empresa consiga melhorar progressivamente os seus resultados, atingindo um resultado operacional positivo apenas em 2021, após a incorporação da referida poupança com pessoal", salienta a Global Media Group.

"Não obstante, a empresa necessitará ainda de suportar os seus resultados financeiros e impostos, conseguindo apenas atingir resultado líquido positivo em 2022", sublinha.

No ano passado, a Global Media registou prejuízos de 7,5 milhões de euros, contra 9,1 milhões de euros negativos um ano antes, de acordo com a demonstração de resultados que consta da carta.

As vendas e prestação de serviços atingiram 35,3 milhões de euros, menos cerca de cinco milhões que em 2018, e o resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações (EBITDA) foi de 5,4 milhões de euros negativos (custos de reestruturação de 298 mil euros).

"Embora, o EBITDA (antes de custos de reestruturação) em 2019 - de 5,2 milhões de euros negativos – tenha representado uma melhoria na 'performance' em 37% face ao registado em 2018, mantém-se insustentável", constata a GMG, salientando encontrar-se, "por isso, muito distante de atingir um nível sustentável para a sua atividade operacional, tendo necessidade de uma maior redução de custos operacionais".

Além do EBITDA negativo registado, a GMG "apresenta ainda custos com amortizações e custos financeiros elevados, bem como valores a pagar de impostos, o que resulta em que o resultado líquido de 2019 ascenda a 7,6 milhões de euros negativos", prossegue.

"A Global Noticias tem vindo a apresentar 'cash flow' operacional negativo recorrentemente, em resultado da sua atividade deficitária e do peso da sua estrutura de custos quando comparado com o volume de faturação", aponta, destacando "o esforço efetuado pela gestão por forma a colmatar os sucessivos défices operacionais, tendo-se observado a alienação de ativos relevantes, nomeadamente do edifício do Jornal de Notícias em 2018 e do edifício do Diário de Notícias em 2016".

Para o ano em curso, a GMG estima prejuízos de 12 milhões de euros, vendas e prestações de serviços na ordem dos 24,6 milhões de euros e um EBITDA negativo de 10,4 milhões de euros, enquanto os custos de reestruturação rondam os 4,5 milhões de euros.

"Não sendo sustentável manter fluxos de caixa negativos no longo-prazo, é imperativo que a empresa consiga efetuar o 'turnaround' do negócio não só a nível de resultados, mas também de 'cash flow', através de uma boa gestão da relação com os seus clientes e fornecedores", salienta a Global Media.

O grupo refere que a dívida financeira tem sido "uma das principais fontes de financiamento" da GMG nos últimos anos, pelo que "esta não apresentou a evolução expectável face aos resultados operacionais negativos, em resultado, sobretudo, do esforço dos acionistas da empresa que foram obrigados a proceder a sucessivas injeções de capital nos últimos anos".

A Global Media acrescenta que o financiamento realizado pelos acionistas atingiu 70,7 milhões de euros em 2013, "após incrementos acumulados em prestações acessórias de capital de 59 milhões de euros desde 2009".

Em 2014, realizou-se um aumento de capital de 14 milhões de euros, conjugado com a conversão de dívida em capital de 11,4 milhões de euros por parte dos bancos, bem como o aumento de capital adicional de 15 milhões de euros em 2017, explica, no documento.

"Adicionalmente, no final de 2019, os atuais acionistas concretizaram três milhões de euros de injeção de suprimentos, o que permitiu cumprir com várias obrigações de tesouraria – em especial a liquidação de salários/vencimentos desses meses", detalha a GMG.

No que respeita ao financiamento bancário, "o saldo em dívida apresenta um decréscimo relevante, tendo este observado uma redução de 36,5 milhões de euros em 2017 para 13,5 milhões de euros em 2019, devido essencialmente ao financiamento junto dos acionistas da empresa".

No final de 2019, a dívida aos acionistas totalizava 21,9 milhões de euros.

"De realçar que o recurso constante a capital acionista e alheio, para financiar a atividade operacional deficitária da empresa, é uma situação insustentável no médio/longo prazo", alerta a empresa.

Em novembro, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) deu luz verde à entrada do empresário Marco Galinha, do grupo Bel, na Global Media, que fica com cerca de 40% da empresa.

O grupo, que detém uma participação na Lusa, tem ainda como acionistas a KNJ Global Holdings Limited e José Pedro Carvalho Reis Soeiro.

No documento, a GMG explica que "as necessidades de financiamento a curto prazo das várias empresas de media da Global Notícias - Media Group, decorrentes do défice operacional excessivo destas e da sua dificuldade de levantamento de novos fundos junto da banca, levou o grupo a efetuar uma profunda reestruturação, abrindo inclusivamente o seu capital a outros acionistas".

Por isso, "é agora imperativa uma implementação efetiva das medidas de reestruturação operacional nas várias empresas, não sendo previsível que, caso continuem a apresentar resultados operacionais negativos nos próximos anos, volte a ser possível um novo financiamento junto da banca, ou de outros investidores, o que resultará na falência/encerramento de publicações/marcas históricas e consequentemente, na perda de emprego de um número muito elevado de funcionários", salienta.

Na sequência do plano de reestruturação, a GMG prevê que em 2022 obtenha um lucro de 473 mil euros, com vendas e prestações de serviços na ordem dos 28,9 milhões de euros e um EBITDA positivo de 2,4 milhões de euros.

[Atualizada às 12:53]