"O Governo não pode tratar os trabalhadores de forma diferente da que trata os outros credores, nomeadamente internacionais. Por norma o Governo invoca que tem compromissos com credores internacionais para cumprir e nós alertamos o Governo que também tem de cumprir compromissos com credores nacionais que são os trabalhadores da Administração Pública", disse Arménio Carlos à agência Lusa.

O líder sindical lembrou que "entre 2011 e 2015, os trabalhadores da Administração Pública são credores de valores na ordem dos 10 mil milhões de euros que podiam ter recebido e não receberam".

"Não são credores de segunda, são credores de primeira", concluiu quando visitava esta manhã o Hospital de São João no Porto, numa ronda por vários serviços públicos.

Em causa, na greve nacional, está a falta de respostas às reivindicações da Frente Comum, como o aumento dos salários na função pública, o descongelamento "imediato" das progressões na carreira e as 35 horas semanais para todos os trabalhadores.

Esta é a terceira greve nacional dos trabalhadores da Administração Pública com o atual Governo e a primeira convocada pela Frente Comum de Sindicatos, segundo a listagem cedida pela estrutura sindical.

Convidado a fazer um balanço sobre esta greve, Arménio Carlos disse estar a ser "muito positivo" graças "a uma grande mobilização" e ao facto de "para além da participação dos trabalhadores também existir uma belíssima compreensão, e mesmo solidariedade, das populações e, particularmente, dos utentes com os objetivos desta luta".

"Os trabalhadores estão insatisfeitos e é possível fazer mais e melhor. É possível melhorar as condições de vida dos trabalhadores, assim se corte na despesa supérflua: parcerias político privadas, ‘swaps', juros da dívida. Se fizerem poupança aí, há dinheiro para aumentar os salários dos trabalhadores que continuam congelados", reivindicou o secretário-geral da CGTP.

Também o coordenador do Sindicato da Função Pública do Norte, Orlando Gonçalves, fez no São João, cerca das 10:45, um "bom" balanço desta greve por estar "até a correr acima das expectativas".

O sindicalista denunciou que têm havido pressões dos concelhos de administração dos hospitais, mas disse saber que em todo o Norte estão a ser assegurados "serviços mínimos e pouco mais".

De acordo com Orlando Cruz, o hospital de Vilanova de Gaia/Espinho, bem como o de Santo António, no Porto, "estão 100% em greve". Soma-se "com uma adesão superior a 90%" os hospitais de Penafiel, Famalicão, Guimarães, Viana do Castelo, Chaves, Braga e Barcelos.

"Os trabalhares querem mostrar ao Governo que é possível fazer mais e melhor com o orçamento de 2018. Em 2017 houve uma estagnação na Administração Pública. O Governo tem na Assembleia da República uma maioria que lhe dará condições para fazer mais e melhor. Não pode pensar só em canalizar 850 milhões para a Banca, mais 40 para as PPP e para aos trabalhadores dão migalhas", referiu o coordenador do Sindicato da Função Pública do Norte.

A adesão à greve no segundo turno dos hospitais e nas escolas estava, às 10:00 de hoje, próxima dos 100%, segundo a coordenadora da Frente Comum de sindicatos da Função Pública, Ana Avoila.

Os professores também estão a cumprir uma greve, convocada pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof) em defesa dos direitos, das carreiras, da estabilidade e dos salários.

A primeira greve com o executivo de António Costa ocorreu em 29 de janeiro de 2016 e foi convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos da Administração Pública, assim como a de 26 de maio deste ano, que teve como objetivo reivindicar aumentos salariais, o descongelamento das carreiras, o pagamento de horas extraordinárias e a redução do horário de trabalho para 35 horas em todos os serviços do Estado.