A IA "tem "muitos desafios que obviamente temos que ter em consideração", desde a proteção de dados, ao impacto na educação, na saúde ou até numa forma que possa não ser correta, refere.
Por outro lado, há também o "tema da utilização da inteligência artificial nos negócios" e a forma como estes aceleram a produtividade das empresas.
"Vivemos num mundo global em que os Estados Unidos não tendem a ter restrições tão grandes como a Europa tende a pôr com este ponto de vista da legislação e da regulação, a China então menos ainda", sublinha o presidente da ACEPI, quando questionado sobre a aplicação da regulação europeia de IA (IA Act).
"Não estou a dizer que não tenhamos que ter legislação", agora "acho é que temos que ser só cuidadosos para não criar uma barreira à inovação e ao desenvolvimento da inteligência artificial na Europa e, concretamente aqui, em Portugal", salienta.
Há "áreas que ganham muito pela possibilidade de podermos ter a inteligência artificial a seu favor: estou a pensar na área da saúde, onde podemos aumentar e acelerar o diagnóstico de áreas como o cancro, os enfartes", prossegue, já que permite fazer a análise em grande escala de determinado tipo de exames "em que dificilmente com o olho humano se consegue detetar determinado tipo de variações".
A máquina "consegue verificar, combinar, extrapolar e tirar partido de tudo aquilo que a inteligência artificial pode oferecer para melhorar o diagnóstico", sublinha, defendendo que "essas áreas não devem ser travadas".
Contudo, "temos que ter o cuidado" com aspetos como a privacidade e os dados e "também ter atenção se depois não nos colocamos num patamar em que não andamos tão depressa quanto devíamos quando dois dos nossos maiores concorrentes mundiais, que são os Estados Unidos e a China, podem atrasar a Europa", adverte.
Agora, "a utilização da inteligência artificial do ponto de vista do trabalho deve ser incentivada e deve ser altamente promovida (...) porque o aumento da produtividade é aquilo que também vai acelerar a transformação do trabalho", acrescenta o responsável.
Alexandre Nilo Fonseca admite que a IA vai provocar a quebra de algum tipo de trabalho, mas "certamente também vai potenciar a existência de outro".
Por isso, é preciso "criar condições" para que os mais novos, que estão no secundário e no ensino universitário, aprendam "o que é que a inteligência artificial lhes pode oferecer e utilizá-la de uma forma que seja adequada".
Porque tal como em outras situações, as pessoas podem utilizar a tecnologia para "praticar crime", desde o 'phsishing' ao 'ransomware' (cibertaques).
"O crime existe sempre, pessoas disponíveis a praticar crime existem sempre e as ferramentas que estão à disposição vão ser utilizadas como com a desinformação", diz.
Agora, "o que nós não devemos é dizer que porque isso é possível, então vamos atrasar a sua implementação. Não. Temos é que (...) perceber e ter se calhar ferramentas para combater esses novos tipos de crime. Agora, isso não nos deve atrasar, até porque a Europa não está em condições neste momento de se atrasar em nada em relação aos Estados Unidos e à China", insiste.
Aliás, "já estamos muito atrasados em muitas coisas, se há uma que não podemos estar atrasados é, de facto, a inteligência artificial", defende.
Portugal, "pela particularidade" de ter uma língua que é falada "por milhões e milhões e milhões de pessoas" - o crescimento da população em Angola, em Moçambique, em particular no Brasil "só vai potenciar o crescimento da língua portuguesa" - tem de "ter a capacidade de falar com quem produz o 'software' e estas ferramentas para que estas sejam trabalhadas em português.
"Há aqui uma série de coisas que têm que ser pensadas e têm que ser estruturadas para termos uma estratégia para a inteligência artificial que torne não só Portugal num país ganhador dentro da Europa, mas a Europa também, no fundo uma região ganhadora no mundo", defende.
"Acho que a inteligência artificial é uma oportunidade que, de facto, não devemos perder", remata Alexandre Nilo Fonseca.
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