“É urgente ter-se em conta um plano de redução efetiva da dívida, não é só relativa da dívida, mas efetiva, porque caso não o façamos esta vai ser a maior parcela da despesa em Portugal e, portanto, vamos criar o ministério dos juros”, argumentou o professor catedrático, numa intervenção numa conferência, em Lisboa.
João Duque sublinhou que, num cenário sem redução de dívida, “esse ministério vai absorver cada vez mais esforço dos portugueses sem qualquer retorno”.
O economista disse “não ser verdade que a dívida pública esteja a reduzir-se” e que o ministro das Finanças, Mário Centeno, está concentrado no seu reescalonamento.
“Este ano vencem-se à volta de seis mil milhões de euros de dívida em Obrigações do Tesouro, em 2021 estão a vencer-se 13 mil milhões de euros. A escalada vai ser seis mil, nove mil, dez mil e 13 mil e em cima disto é preciso fazer o ‘roll over’ [extensão de um contrato financeiro, para lá da sua data de vencimento inicialmente fixada] da dívida de curto prazo, mais o défice que se acumula”, referiu.
O economista acrescentou ainda a necessidade de levar em atenção o juro e algum desequilíbrio na economia europeia, o que levará a uma “maré em baixo” e à avaliação de “quem tem calções”. “E, muito provavelmente, os nossos calções não estão no sítio certo”, disse.
Para João Duque, o “ministro das Finanças está um bocado obcecado em reduzir, pelo menos, aquilo que é o esforço adicional de progressão deste défice e do ‘roll over’”.
Portugal vai este ano fazer um refinanciamento total de 40 mil milhões de dívida de curto e longo prazo, recordou o professor, e se “houvesse uma alteração de 1% no custo de financiamento” iriam somar-se 400 milhões ao “esforço atual” de juros que rondam anualmente 8 mil milhões.
O professor do ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão notou também que a procura interna fez crescer o Produto Interno Bruto (PIB) 1,2% em 2017 e a procura externa 1,5%, pelo que sem o benefício do turismo e exportações de outros bens e serviços “estava-se a crescer 1,2%”.
“E é curioso porque o foco da gestão política do país é feito praticamente todo a pensar no consumo, no consumo privado, na restituição dos rendimentos às pessoas e na reposição da capacidade do poder de compra. O foco é todo num lado, mas o crescimento é todo para outro”, disse.
Esta “curiosa dicotomia” é porque as “empresas não votam”, concluiu o economista, que recomendou atenção à concentração de mercados para evitar dependências.
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