No relatório sobre a Perspetiva Global do Crédito Soberano para o próximo ano, hoje divulgado, a Moody’s diz que “a previsão de evolução [‘Outlook’, no original em inglês] dos ‘ratings’ é negativa” devido à conjugação de vários fatores, entre os quais estão uma política orçamental expansionista que vai aumentar o já endividado setor público, aumento dos riscos políticos e geopolíticos e um contínuo crescimento económico baixo”.
O relatório revela que, a nível global, a Moody’s prevê rever em baixa 26% do crédito soberano avaliado em 134 países, ou seja, mais de 30 países, uma percentagem que está ao nível mais baixo desde o final de 2012, e que compara com os 17% de há um ano.
“A percentagem de países com uma Perspetiva de Evolução Estável caiu de 75%, no ano passado, para 65%, enquanto 9% têm um ‘Outlook’ positivo, semelhante aos 8% do ano passado”, lê-se no relatório hoje enviado aos investidores.
“Um dos constrangimentos mais importantes para a maioria do crédito soberano analisado é o ambiente de persistente crescimento baixo”, disse o diretor geral da área do risco soberano, Alastair Wilson, acrescentando que “a capacidade de a política monetária sustentar o crescimento nas economias avançadas está a diminuir, e em muitos mercados emergentes é limitada pela inflação acima da média e por pressões sobre as taxas de câmbio”.
Os estímulos orçamentais, geralmente caracterizados por um aumento da despesa pública, historicamente financiada por dívida barata, para impulsionar o crescimento económico, parece ser o caminho escolhido pela maioria dos governos, mas a Moody’s alerta para o perigo de sobre-endividamento.
“Isso pode sustentar o crescimento a curto prazo e também ter efeitos positivos a longo prazo se o investimento aumentar o crescimento da produtividade, mas uma mudança para uma política orçamental mais expansionista implica riscos para a qualidade do crédito de muitos países, já que têm atualmente níveis de dívida elevados”, alerta o relatório.
“Qualquer aumento da dívida para financiar despesa corrente sem grande benefício para as perspetivas de crescimento económico é negativo do ponto de vista do crédito”, dizem os peritos da Moody’s.
Olhando para os maiores países ou uniões políticas, a Moody’s sublinha a “incerteza” do impacto das eleições norte-americanas e também a “falta de coesão e risco de subsequente ‘fragmentação'” na União Europeia, no seguimento do voto britânico a favor da saída do bloco.
Sobre a África subsaariana, onde está a maioria dos países lusófonos, a Moody’s diz que “os exportadores de matérias-primas já enfrentam substanciais pressões de liquidez”, o que contribui para uma avaliação negativa sobre a evolução dos ‘ratings’ dos países.
A Moody’s coloca a dívida pública de Angola (B1, Negativa) e Moçambique (Caa3, Negativa) abaixo do nível de investimento, geralmente referido como ‘junk’ ou ‘lixo’.
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