“A primeira coisa que queremos dizer é que nos espanta um bocadinho a velocidade com que todas as forças políticas reagem a um relatório que é tecnicamente denso e é muito extenso, tentando imediatamente encontrar armas de arremesso relativamente às culpas que cada um teve no mandato anterior ou neste, uma coisa que não nos faz grande sentido”, disse, em declarações à agência Lusa, o deputado único da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo.

Na perspetiva do liberal, “é preciso ter a certeza de que aquilo que tem vindo a público se trata de efetivas novidades”, ou seja, “se são prejuízos anteriormente registados ou registados de forma indevida ou se é uma explicação mais pormenorizada dos resultados financeiros que se têm conhecido do Novo Banco”.

Apesar de não haver “qualquer confirmação de que há aqui matéria efetivamente nova”, João Cotrim Figueiredo reiterou a preocupação do partido “com aquilo que é a defesa do dinheiro dos contribuintes, que no caso do Novo Banco se traduz nos contributos que o Estado faz para o Fundo da Resolução e também que a Caixa Geral de Depósitos faz”.

“Preocupa-nos evidentemente que a situação do Novo Banco se possa, de alguma forma, vir a mostrar mais difícil ainda do que se previa em virtude das informações que possam constar desta auditoria, que como digo não houve ainda oportunidade de ter essa confirmação”, admitiu.

Sobre a possibilidade de a auditoria vir a “ser ou não pública na sua extensão”, o deputado defendeu que pode “haver matérias de sigilo bancário e essas têm que ser acauteladas, mas o princípio tem que ser que estas informações, estes relatórios devam ser públicos”.

Quando o dinheiro dos contribuintes está envolvido, para o deputado liberal, os “relatórios devem ser públicos para que as pessoas saibam o destino que está a ser dado ao seu dinheiro e as garantias e as salvaguardas que essa gestão do seu dinheiro está a ter”.

A Iniciativa Liberal acompanha o pedido feito pelo CDS-PP para audição do Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, e do ministro de Estado e das Finanças, João Leão.

“Será interessante porque será a primeira ocasião em que o agora Governador do Banco de Portugal será confrontado com decisões suas tomadas enquanto ministro das Finanças, dando razão à Iniciativa Liberal quando dizia que rapidamente se ia entrar em situações de conflito de interesses, em que o Governador do Banco de Portugal vai ser instado a comentar uma decisão sua enquanto ministro das Finanças”, apontou.

O CDS requereu hoje, com caráter de urgência, a audição do governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, e do ministro das Finanças, João Leão, para darem explicações sobre as “perdas muito avultadas” do Novo Banco.

Hoje, de madrugada, o Ministério das Finanças anunciou, em comunicado, que recebeu o relatório da auditoria externa e que esse “será remetido à Procuradoria-Geral da República considerando as competências constitucionais e legais do Ministério Público”.

Segundo o Governo, o relatório revela perdas líquidas de 4.042 milhões de euros no Novo Banco (entre 04 de agosto de 2014, um dia após a resolução do BES, e 31 de dezembro de 2018) e “descreve um conjunto de insuficiências e deficiências graves” no BES, até 2014, na concessão de crédito e investimento em ativos financeiros e imobiliários.