“Algumas pequenas e médias empresas [PME] têm sentido dificuldades, com quebras de vendas e de produção até 80%, sobretudo as que vendem no retalho tradicional e que têm clientes como restaurantes, cafés e hotéis”, indicou o presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes (APIC), Carlos Ruivo, em declarações à Lusa.

De acordo com este responsável, o impacto é ainda agravado pelo encerramento dos mercados tradicionais, uma preocupação que já foi transmitida ao Governo, embora a decisão esteja, muitas vezes, na mão das próprias autarquias.

Perante estas dificuldades, muitas empresas estão a considerar recorrer ao ‘lay-off’ simplificado (redução do horário de trabalho ou suspensão de contratos), medida, avançada pelo executivo, que a associação elogia, embora reconheça que não é suficiente.

A solução deverá passar pela criação de linhas de tesouraria pontuais que permitam, “assim que a economia começar a arrancar”, que as empresas tenham capacidade de “honrar os seus compromissos”, apontou Carlos Ruivo.

Questionado sobre a possibilidade de existirem ruturas no abastecimento de carne, o presidente da APIC afastou, para já, este cenário, notando que o principal problema que o setor deverá enfrentar prende-se com a falta de alguns equipamentos e elementos, como máscaras ou oxigénio para fazer o embalamento das carnes.

“Já utilizámos máscaras há muitos anos e agora estamos com mais dificuldade, o que obriga à procura de alternativas mais caras. Quando for necessário oxigénio para os hospitais, é claro que não o vão dar à indústria alimentar. As dificuldades têm que ser geridas quase dia-a-dia”, explicou.

A escassez destes produtos tem obrigados as empresas a recorrer a alternativas mais caras e, consequentemente, a reduzir as suas margens de lucro, uma vez que optaram por não fazer refletir a subida dos custos nos produtos comercializados.

No entanto, nem todas as empresas do setor foram afetadas pela pandemia. As de grande dimensão “não sentiram constrangimentos de maior” e algumas até aumentaram a sua produção, uma realidade que pode “mudar rapidamente”, ressalvou Carlos Ruivo.

Por outro lado, no que se refere aos procedimentos de segurança, segundo a associação, a indústria alimentar é uma das que está melhor preparada, utilizando, há muitos anos, máscaras e luvas para o tratamento dos produtos, em salas com temperaturas baixas e pressão positiva, que, para o presidente da APIC, têm condições comparáveis aos espaços cirúrgicos.

No âmbito dos planos de contingência, os trabalhadores do setor passaram a ser sujeitos ao controlo de temperatura à entrada paras as unidades de produção, foi imposto o distanciamento social, implicando, nomeadamente, a redução do número de trabalhadores nos espaços de refeição e a criação de mais turnos, e foram introduzidos mais pontos de higienização.

O responsável da associação dos industriais de carne disse ainda que a evolução do setor, após a pandemia, dependerá do desenvolvimento da própria economia, prevendo que, nos primeiros tempos, sejam registadas mais vendas para os clientes finais do que para os hotéis e restaurantes.

A APIC representa 85 empresas do setor, passando pelo abate, desmancha e indústria transformadora de carnes de suíno e bovino, que empregam cerca de 7.300 pessoas.

No total, estas empresas equivalem a 75% dos operadores da indústria da carne e produtos transformados e contribuem com mais de 70% do volume de abate de suínos e produtos transformados em Portugal.

Portugal, onde os primeiros casos confirmados de covid-19 foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.

Além disso, o Governo declarou no dia 17 de março o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.

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