Os britânicos decidem em 23 de junho, num referendo, se "deve o Reino Unido permanecer como membro da União Europeia ou deve sair da União Europeia", como refere a pergunta a que terão de responder.
Caso a resposta seja pelo fim da pertença ao projeto europeu - o designado 'Brexit' (junção de ‘British' e 'exit’ em inglês, saída britânica em português) - as consequências serão de muitas ordens, mas também económicas, pois o Reino Unido é um importante parceiro comercial e investidor em muitos países.
A empresa de seguros de crédito Euler Hermes fez um estudo sobre o efeito nos Estados-membros da União Europeia (UE) e, no caso de Portugal, concluiu que, apesar de não ser dos mais afetados, que terá um “impacto significativo”. Os autores do estudo simularam o impacto em dois cenários: ‘Brexit’ mas com acordo de livre comércio, ou ‘Brexit’ sem qualquer acordo para a troca de bens e serviços entre Reino Unido e UE.
Assim, com acordo comercial, é estimado um impacto negativo no PIB português de 0,2 pontos percentuais no acumulado entre 2017 e 2019. Já caso não seja firmado qualquer acordo, o impacto será maior, estimando-se que o crescimento do PIB fique 0,3 pontos percentuais abaixo do que seria esperado por efeito do ‘Brexit’. “Em Portugal, os setores mais atingidos seriam o automóvel, os têxteis, o químico e o agroalimentar”, disse à Lusa Daniela Ordonez, economista da Euler Hermes que trabalhou os dados sobre o país.
Por rubricas, Portugal pode perder até 300 milhões de euros nas exportações, sendo 200 milhões de euros nas vendas de bens e 100 milhões de euros em serviços. Já a perda no Investimento Direto Estrangeiro (IDE) é estimada em 100 milhões de euros.
O estudo analisa ainda o impacto nas insolvências de empresas, estimando que estas podem aumentar em Portugal em um ponto percentual até 2019. A par de Portugal, com “impacto significativo” de um ‘Brexit’, o estudo coloca Alemanha, França e Espanha. Os países mais penalizados, que sentirão “alto impacto”, serão a Holanda (com -1,5 pontos percentuais no PIB), a Irlanda (-0,9 pontos no PIB) e a Bélgica (-0,7 pontos no PIB). Estes Estados-membros da UE têm relações comerciais muito próximas com a economia britânica. Os setores mais afetados serão o financeiro, o automóvel, maquinaria e equipamento, o químico e o agroalimentar.
Já no total da zona euro, o PIB total pode ser penalizado em 0,4 pontos percentuais com o eventual acordo de livre comércio e 0,6 pontos sem esse acordo.
No cenário com acordo comercial as perdas com exportações de bens e serviços podem chegar a 17,4 mil milhões de euros até 2019 e o IDE ser penalizado em 18,2 mil milhões de euros, além de um aumento de um ponto percentual das falências empresariais. Estas perdas agravam-se, como é de esperar, caso não haja o tal acordo comercial que permita menorizar os efeitos negativos nas trocas comerciais de um ‘Brexit’.
O maior impacto estimado é, contudo, no próprio Reino Unido, com uma penalização do PIB de 4,3 pontos percentuais, quebra de 23,5 mil milhões de euros nas exportações e 29,7 mil milhões no IDE e aumento 1,5 pontos percentuais do crescimento das insolvências de empresas. Aliás, a economia britânica já tem vindo a sofrer nos últimos seis meses alguma deterioração fruto da incerteza em torno de um ‘Brexit’.
O estudo da Euler Hermes, a que a Lusa teve acesso, analisa também efeito do 'Brexit' em economias fora da Europa, esperando um “impacto significativo” nos Estados Unidos, enquanto na China deverá ser "baixo".
Além dos efeitos económicos, um eventual ‘Brexit’ teria impactos em muito mais áreas, como refere também o estudo. Poderia alterar o modo como o projeto europeu está a ser construído, dando força a Estados-membros como os escandinavos, a Polónia ou a Áustria, que defendem menos integração política, ou, pelo contrário, poderia reforçar o caminho para o federalismo.
Sendo o Reino Unido fundamental na investigação científica europeia, a saída deste país da UE significaria que a I&D (Investigação e Desenvolvimento) seria muito afetada. As universidades britânicas coordenam um terço de todos os projetos financiados pelos 80 mil milhões de euros do Programa Horizonte 2020, refere a Euler Hermes.
Por fim, há que referir que em 2015 havia 1,2 milhões de estrangeiros a trabalharem no Reino Unido, muitos de países da UE, os quais deverão perder direitos e benefícios caso se concretize o ‘Brexit’.
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