“A recuperação mundial continua a progredir, mas perdeu ímpeto e está a tornar-se cada vez mais desequilibrada. Partes da economia mundial estão a recuperar rapidamente, mas outras estão em risco de ficar para trás”, alertou hoje a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) nas suas previsões económicas.
Os riscos estão situados “particularmente nos países de baixos rendimentos, onde as taxas de vacinação são baixas, e em empresas e trabalhadores em setores de contactos intensivos, onde a procura ainda está por recuperar totalmente”.
“O ímpeto da forte recuperação depois da reabertura está agora a abrandar em muitos países, por entre constrangimentos na oferta, aumento dos custos de produção e os efeitos continuados da pandemia”, refere a OCDE.
A OCDE menciona inclusive “pressões na inflação mais fortes e duradouras”, que “emergiram cedo em todas as economias, numa altura pouco habitual do ciclo, e está a aparecer escassez no trabalho, apesar do emprego e das horas trabalhadas ainda estarem por recuperar totalmente”.
Para 2022, a organização sediada em Paris prevê um crescimento de 4,5%, e para 2023 o aumento desce para 3,2%, esperando-se que “os esforços de vacinação globais […] permitam uma retirada total de restrições nas atividades transfronteiriças no final de 2022”.
A OCDE aponta ainda à manutenção de “políticas macroeconómicas de apoio, condições de financiamento acomodatícias e menor poupança das famílias”, fatores que deverão “fomentar a procura e compensar ‘ventos contrários’ vindos da retirada gradual de medidas orçamentais relacionadas com a pandemia”.
Quanto aos riscos para as previsões, estes estão relacionados com a evolução da pandemia de covid-19, com a inflação, com a reavaliação dos preços nos mercados financeiros, com as empresas, com a situação financeira dos mercados emergentes, com a China e com o comércio mundial.
“Um grande risco negativo é que a velocidade da distribuição das vacinas e a eficácia das vacinas existentes seja insuficiente para parar a transmissão de variantes preocupantes da covid-19, resultando na necessidade de vacinas novas ou modificadas, ou campanhas repetidas para dar doses de reforço”, considera a OCDE.
Quanto à inflação, esta “poderá surpreender em termos ascendentes”, forçando os maiores bancos centrais a “apertar a política monetária mais cedo e numa extensão maior que o projetado”.
“Tal resultado poderia vir de um número de fatores possíveis como disrupções prolongadas na oferta, um aumento nas expectativas de inflação, pressões no mercado de trabalho, ou caso os preços de uma larga gama de bens e serviços comecem a subir substancialmente”, alerta a OCDE.
A organização multilateral considera ainda que as condições favoráveis de financiamento verificadas em 2021, tanto em economias avançadas como em desenvolvimento, poderão aumentar as “vulnerabilidades a uma abrupta reavaliação de preços nos mercados financeiros”, mencionando ainda o caso da gigante imobiliária chinesa Evergrande, que pode “fazer disparar alterações no apetite pelo risco e abrandar o crescimento mundial”.
Nas empresas, a OCDE considera que “a dívida gerada pela crise de covid-19 poderá ameaçar a recuperação de várias formas”, lembrando que “uma grande parte da dívida mundial empresarial não-financeira ainda está avaliada como ‘especulativa’ ou BBB, o ‘rating’ mais baixo”.
“Um abrandamento inesperado do crescimento ou um forte aumento continuado nos custos de produção poderá ameaçar a capacidade das empresas pagarem os seus empréstimos e de renovarem a sua dívida”, alerta a OCDE.
Nas economias emergentes, “um recente aperto das condições de financiamento, dívida elevada e a deterioração dos balanços orçamentais tornam muitas economias de mercado emergentes vulneráveis a potenciais mudanças no sentimento mundial do risco”.
Na China, “os riscos de um abrandamento agudo aumentaram”, com eventos como a Evergrande a “salientarem os riscos continuados no mercado imobiliário chinês, com o potencial de grandes contaminações entre setores e fronteiras”.
No campo do comércio, “o aumento das tensões comerciais e pressões à volta de questões relacionadas com a soberania estratégica representam outro risco”.
A OCDE recomenda que a política monetária permaneça, “mas a tornar-se gradualmente menos acomodatícia”, e sugere que os apoios orçamentais devam “permanecer flexíveis e contingentes ao estado da recuperação”.
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