A Tabaqueira, subsidiária da Philip Morris International (PMI), é uma das principais exportadoras portuguesas e está apostada na introdução de tabaco sem combustão (denominado Iqos).
"Desde a privatização, em 1997, a PMI investiu cerca de 360 milhões de euros, uma média de pouco mais de 15 milhões de euros por ano" de investimento, afirmou Miguel Matos, sendo que este ano deverá rondar entre "15 a 20 milhões de euros".
O negócio do tabaco aquecido, ou sem combustão, tem evoluído positivamente no mercado português, representando uma quota de 8,2%, o que corresponde a mais "de 200 mil portugueses que passaram para o Iqos", disse Miguel Matos.
"Em Portugal tem sido um caso de sucesso em termos de tabaco aquecido", acrescentou, sendo que esta área de negócio registou um incremento de 2,4 pontos percentuais no segundo trimestre, segundo dados da PMI.
"A nossa ambição é transferir os fumadores para Iqos" e "deixar de comercializar cigarros", disse.
Questionado sobre o desempenho das exportações no primeiro semestre e o impacto da pandemia, Miguel Matos disse que estas até subiram.
"A nossa expectativa é que este ano tenhamos mais exportações do que no ano passado [em 2019, a empresa exportou 600 milhões de euros]", avançou, explicando que a subida no semestre se deveu a "um esforço de constituição de 'stocks'".
A fábrica da Tabaqueira "nunca parou" e inclusivamente "trabalhámos aos sábados", salientou, referindo que a unidade opera cinco dias por semana e 24 horas por dia.
"Durante estes tempos mais incertos trabalhámos vários sábados seguidos para constituição de 'stocks' para fazer face a potenciais interrupções de fornecimento", acrescentou o responsável.
"A nossa previsão para o ano todo é subir as exportações", apontou o gestor, "entre 8% a 10%".
Mas este aumento não significa mais procura: "Os nossos principais países de exportação são a Itália, Espanha, França, Reino Unido. Não se trata de um aumento da procura nestes países", mas antes "de uma diminuição da oferta porque fechou uma fábrica na Alemanha em 2019 e, por isso, houve uma realocação do volume para outras" unidades.
"A Tabaqueira está a conseguir produzir mais, o que são boas notícias para nós", sublinhou o gestor.
"Agora o desafio aqui é continuarmos competitivos no meio da PMI. Quando comparamos com outras fábricas esta competitividade traduz-se em quê? Por um lado, sermos capazes de produzir a custos competitivos, com qualidade", disse.
Por outro, "a PMI tenderá em investir em países cuja regulação esteja mais alinhada com esta visão de transformação" do negócio, acrescentou.
"Por exemplo, sermos dos países onde o Iqos está a ser mais bem sucedido é obviamente muito bom sinal. Se quero por exemplo que a PMI invista na Tabaqueira para transformar uma das linhas de produção para Iqos é bom que o produto esteja a ser bem sucedido, é obviamente um fator, mas os aspetos de regulação, de fiscalidade, tudo isto interessa para a decisão" da Philip Morris International.
Miguel Matos destacou a decisão do regulador norte-americano FDA, que classifica tabaco aquecido como produto de tabaco de risco modificado: "Confirmam que não há combustão e por não haver combustão há uma menor exposição a constituintes nocivos", apontando que os "produtos de tabaco não são iguais".
Esta decisão é importante para a empresa devido à mudança de paradigma do negócio e pode servir de referência para futuras posições de outros reguladores nacionais.
O tabaco sem combustão em Portugal enfrenta algumas barreiras, quer fiscais, quer regulatórias.
Por exemplo, "para lançar uma marca de cigarro novo levo um mês, se for 'Heets' [tabaco aquecido] levo seis meses, não faz sentido esta diferença de tratamento se tenho um produto que não é tão mau", explicou.
Além disso, o tabaco aquecido "é a segunda categoria que paga mais impostos em Portugal", quando o "tabaco de enrolar paga menos", apontou.
Estas barreiras "são fatores a ter em conta" pela PMI, aquando da decisão de investir. Por isso, Miguel Matos defende "muito diálogo e interação com as autoridades" portuguesas, no sentido de haver "um alinhamento" e continuar "a atrair investimento da PMI para Portugal".
Sobre uma eventual conversão da fábrica da Tabaqueira para produzir a linha de tabaco sem combustão, o gestor não se comprometeu com uma data.
"Vivemos num mundo de incerteza, estamos num momento de grande transformação, 8% do volume vendido pela PMI é de tabaco aquecido. Portanto, 92% ainda são cigarros convencionais, para as nossas exportações é bom [estar a produzir cigarros convencionais] porque ainda é a grande fatia do bolo da PMI, não queremos dar um passo maior que a perna, fazer uma conversão da fábrica quando não existe a procura nos países para onde nós exportamos", disse.
"Há aqui também um ponto importante na competitividade da Tabaqueira na PMI: a Tabaqueira compete com outras fábricas para o investimento, para alteração do volume de produção. Temos tido de facto um grande sucesso, nós hoje em dia exportamos 82% daquilo que produzimos. Produzimos 26 mil milhões de cigarros no ano passado", adiantou.
Ainda em termos de atração de investimento para Portugal, o responsável destacou os cinco centros de excelência - onde trabalham cerca de 100 pessoas - e que prestam serviços a outras afiliadas, referindo querer atrair mais centros para o mercado português.
A Tabaqueira terminou 2019 com 935 trabalhadores (+30% face a 2016) e pretende continuar "a aumentar o emprego de forma sustentada" este ano.
Registou um volume de negócios de cerca de 1.500 milhões de euros em 2019, aos quais é preciso deduzir cerca de 1.150 milhões de euros de Impostos Especiais de Consumos (IEC) e IVA pagos pela Tabaqueira.
Por sua vez, Tommaso di Giovanni, vice-presidente mundial para a comunicação da PMI, referiu que ambição do grupo é que dentro de cinco anos entre 38% e 42% das vendas sejam provenientes de produtos sem fumo.
"A nossa visão é deixar de vender cigarros e substituir por outros menos nocivos" agora dentro de "10, 15 anos há países onde podemos conseguir" essa transferência de consumo, como eventualmente o Japão, mas não globalmente, afirmou.
A transição dos cigarros convencionais para outra tipologia menos nociva "depende muito do que os governos fizerem, dos cientistas, das ONG, não estamos sozinhos nesse desafio", afirmou Tommaso di Giovanni, salientando que esta é uma tendência que toda a indústria vai seguir, mais cedo ou mais tarde.
Atualmente o volume de tabaco sem combustão ronda os 19 a 20% na PMI, sendo que o volume de expedição de produtos sem combustão aumentou para aproximadamente 60 mil milhões de unidades, quando foram apenas 7,7 mil milhões em 2016; em 2025 o objetivo é chegar aos 250 mil milhões de unidades.
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