“Há uma dificuldade tremenda de contratação de pessoas para a TAP, eu estou na TAP há quase 30 anos e lembro-me que toda a gente queria [trabalhar na empresa]. E agora não, porque as condições não são atrativas, a empresa está numa situação difícil, com cortes salariais que não se prevê quando poderão ser revertidos”, lamentou Maria Luís Martins, na comissão parlamentar de inquérito à companhia aérea.
A dirigente do STTAMP respondia a questões do deputado comunista Bruno Dias, sobre a falta de trabalhadores na TAP, após os despedimentos feitos após o início da pandemia, que têm provocado o cancelamento de vários voos.
“Realmente, não é uma empresa atrativa neste momento. É preciso criar estabilidade, paz social, para que as pessoas sintam que é um emprego seguro. Eu pessoalmente não iria agora trabalhar para a TAP”, sublinhou, acrescentando que o sindicato que representa trabalhadores de terra tem vindo a pedir o fim do corte salarial de 25% “para ontem”.
Já em resposta à deputada Rita Borges Madeira, do PS, a dirigente sindical disse que atualmente a comunicação com os Recursos Humanos da empresa “não é saudável” e é “praticamente nula”.
“A nossa desilusão ou tristeza é que a TAP sempre foi uma empresa muito preocupada com os trabalhadores, muito próxima dos trabalhadores. Neste último ano não há proximidade nenhuma, nem com a direção, nem com a [anterior] CEO [presidente executiva], nem com os funcionários”, apontou.
Já questionada pelo deputado Bernardo Blanco, da IL, sobre a Groundforce, que faz a assistência em terra (‘handling’) para a TAP, a também dirigente do STTAMP Catarina Silva congratulou-se pela solução encontrada para a empresa, que atravessa um processo de insolvência que passa pela venda à Menzies.
Em 2021, os trabalhadores da Groundforce chegaram a ter vários meses salários em atraso, tendo organizado manifestações na rua e levado o então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, a mediar o conflito entre os trabalhadores e o então acionista Alfredo Casimiro.
“Se não fosse encontrada essa solução, muito provavelmente hoje não haveria Groundforce”, apontou a dirigente sindical, acrescentando que se trata de uma empresa estratégica para o país, sem a qual a TAP “não sobrevive”.
Sobre o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, o STTAMP lamentou o desinvestimento da TAP no Porto, espaço que foi ocupado por outras companhias aéreas europeias, sobretudo as de baixo custo (‘low cost’).
Tal como os sindicatos ouvidos anteriormente pela comissão de inquérito, também o STTAMP disse não conhecer o plano de reestruturação da TAP, tendo-lhe sido apresentado pela administração um ‘power point’ com medidas a adotar, na altura da negociação dos acordos temporários de emergência.
“Sabemos agora, por esta comissão, que a Comissão Europeia exigia 20% de cortes e não necessariamente cortes nos salários dos trabalhadores. […] Na altura, a nossa perspetiva era de que não haveria outro caminho e, efetivamente, seria aceitarmos esse plano e os cortes e tentarmos salvar a companhia e futuramente passarmos a outra fase […] ou então a companhia entrava em insolvência ou regime sucedâneo, alternativas que não eram viáveis para nós”, explicou Maria Luís Martins, em resposta ao deputado social-democrata Hugo Patrício Oliveira.
Questionada pelo PS sobre a privatização de 2015, Maria Luís Martins disse que o sindicato não se revê naquele processo. "Esperamos que agora seja uma coisa mais pensada, mais séria, que se veja os parceiros, que percentagem do Estado é que poderá ficar [...], porque a privatização de 2015 foi feita um bocadinho à pressa", defendeu.
Para terminar a audição com uma "nota de alguma esperança", a dirigente sindical disse que as palavras do novo presidente da TAP, Luís Rodrigues, na apresentação aos trabalhadores, deixaram confiança de que "vai conseguir fazer uma boa gestão" da fase difícil que a empresa atravessa.
Da parte do sindicato, Maria Luís Martins garantiu que tudo será feito para que a TAP "volte a ser um motivo de orgulho para todos os portugueses".
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