Os pedidos foram feitos ao secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, durante um encontro com membros da comunidade, que teve lugar no Centro Português de Caracas.

“Tive toda a confiança em Portugal e coloquei o dinheiro no Banco Espírito Santo [BES] e ficámos sem nada. Tenho que fazer uma operação ao joelho, estive mal do coração e da tensão arterial e não tenho dinheiro”, explicou Carminha dos Ramos.

Em declarações à Lusa, a portuguesa, de 79 anos, lamentou: “O Governo [de Portugal] não me soluciona nada, dizem-me que temos de esperar, porque é um problema que tem de ser resolvido pela justiça portuguesa”.

“Levei o meu dinheiro e depositei o meu dinheiro no BES, na Madeira. Não estou a pedir dinheiro, quero o meu dinheiro”, desabafou.

“Há quase oito anos que lutamos para recuperar o nosso dinheiro”, disse à Lusa Sara Freitas, presidente da Associação dos Emigrantes Lesados do BES na Venezuela e África do Sul (AELB).

“Em junho de 2020, os lesados do ‘papel comercial’ terminaram de receber o dinheiro do Fundo de Recuperação de Crédito que facilitou o Estado Português. Receberam entre 50 e 75% do seu capital, mas nós não”, afirmou, questionando se para Portugal há “cidadãos de 1.ª e 2.ª classe” e o porquê depois “de tantas promessas” ainda não terem recebido nada.

Segundo Sara Freitas, apesar de em dezembro último ter sido criado um grupo de trabalho, em Portugal, não se fazem reuniões.

“Temos tantas provas do engano que sofremos (…) de que foram vendidos produtos falsos a emigrantes na Venezuela e África do Sul, que não foram vendidos em Portugal. Fomos enganados. Prometeram que o nosso dinheiro estava em depósitos a prazo e estavam a colocar em empresas falidas sem supervisão de nenhuma instituição de Portugal”, frisou.

Segundo José Rodrigues, vice-presidente da AELB, entre os produtos em reclamação, cerca de um quarto diz respeito a “papel comercial que é exatamente igual ao que foi pago em Portugal, com entre 50 e 75% do capital, com a única diferença que esses documentos foram assinados numa sucursal financeira no estrangeiro”, mas com sede no Funchal, Madeira.

“Nós cumprimos com todos os passos, mas não conseguimos uma solução (…)  falamos de 142 contas, algumas das quais os titulares que as abriram já faleceram e agora ficam os filhos”, precisou, sublinhando que há ainda mais casos de pessoas afetadas.

Por outro lado, explicou que a partir de 2002, quando “começou a instabilidade na Venezuela, muitos portugueses estiveram na encruzilhada de ou deixar o dinheiro na Venezuela, continuar a investir localmente, depositar nos EUA, ou colocar as poupanças em Portugal para, mais tarde, passar os últimos anos onde nasceram”.

“Agora não temos o dinheiro, nem nada parecido (…) e há vários casos de portugueses que queriam comprar algo em Portugal, tinham o dinheiro e o banco recomendou que não o levantassem. Fizeram-lhes empréstimos argumentando que era um bom negócio porque pagariam 2% de juros e receberiam 4% do título de turismo”, explicou José Rodrigues.

Trata-se também, explicou, de uma “situação complicada” porque “hoje não têm o seu dinheiro, mas têm uma dívida para pagar e se está a aproximar-se os dez anos de prazo que lhes deram para pagar”.

Paulo Cafôfo iniciou na quinta-feira uma visita à Venezuela, enquadrada na iniciativa “Portugal no Mundo: Caminhos para a Valorização das Comunidades Portuguesas” e que tem como objetivo “reforçar laços” e aproximar os portugueses residentes no estrangeiro dos que vivem em Portugal.

A visita de Paulo Cafôfo termina a 17 de maio.

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