Em entrevista à agência Lusa, nas vésperas do debate sobre o estado da Nação, na quarta-feira, o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, disse que a central sindical faz “um balanço positivo” destes quase dois anos de Governo.
“Mas num balanço há coisas menos boas e coisas melhores. Os trabalhadores realmente precisam de mais, porque as expectativas estavam elevadas e nós não queremos que elas diminuam”, disse o sindicalista.
Para a UGT, o Governo não pode fechar a porta ao diálogo social “e tem que assumir os compromissos a que se comprometeu com os sindicatos e não está a fazê-lo”.
“Temos hoje situações que começam a despertar de uma certa letargia destes dois anos (quase) de governação. Temos os professores num estado pouco animado. Temos a Administração Pública num estado de algum desconforto, desagrado e alguma falta de esperança”, exemplificou, referindo-se ainda aos “grandes confrontos” que estão em cima da mesa nos setores da educação e da saúde.
“Se [o Governo] não cumpriu com as expectativas que abriu com o seu programa de Governo cabe aos trabalhadores tomar em mãos aquilo que são as lutas para reivindicar o seu destino e o que estavam à espera”, afirmou Carlos Silva.
E o que estavam os trabalhadores à espera, segundo a UGT, era de um mais rápido alívio da austeridade e de uma retoma de consumo que dê mais rendimentos as famílias.
“Foi importante 2016, em 2017 estamos um bocadinho abaixo das expectativas e não gostávamos que isto ainda fosse pior para 2018. O Governo tem aqui uma grande responsabilidade de conseguir injetar mais confiança nos portugueses para o ano que vem”, disse, lamentando que ainda não se vislumbrem aumentos salariais no próximo ano.
“Esperemos que 2018 seja um caminho de desenvolvimento e crescimento mais acelerado, mais rápido agora que saímos do Procedimento por Défice Excessivo. O Governo está na minha opinião obrigado a corresponder as grandes expectativas de ser um governo de esquerda, apoiado pela esquerda parlamentar que tem um discurso social e de sensibilidade social e que não pode deixar cair”, disse.
“Aguardemos pelo que o Governo vai fazer”, concluiu.
Já para o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, depois de ter conseguido travar a política de direita, de recessão e redução dos salários e das pensões, está-se “a entrar numa fase em que o Governo esta a dar sinais de falta de resposta em tempo útil a um conjunto de reivindicações e sobretudo confronto com problemas estruturais da nossa economia, do funcionamento do país”.
“Depois de se ter provado que era possível fazer diferente, agora estamos na fase que é possível fazer mais e melhor. O que é que nos queremos dizer com isto? Em relação a problemas estruturais, o Governo neste momento não está a dar resposta. Falamos concretamente da revogação das normas gravosas da legislação do trabalho”, disse.
Para a CGTP é, assim, necessário ter “uma outra visão sobre a renegociação da dívida e, simultaneamente, uma posição de confronto com o tratado orçamental e os constrangimentos que eles levantam, quer para os trabalhadores quer para os serviços públicos”.
É também necessário que o próximo Orçamento do Estado assegure uma política económica que coloque os trabalhadores e a população “como o centro de referência das atividades a desenvolver”, apostando num modelo de desenvolvimento que permita estabilidade e segurança no emprego e uma justa distribuição de riqueza através da melhoria dos salários.
“Para nós é importante que se verifique o crescimento da economia, mas tão importante como isso é necessário que a riqueza que está hoje a ser criada seja mais bem distribuída e isso passa necessariamente pela melhoria dos salários e das pensões, mas também por uma politica fiscal que reduza os impostos para os trabalhadores e aumente os do capital”, disse.
“O que sentimos é que há uma ausência de resposta do Governo a um conjunto de problemas laborais e sociais”, lamentou Arménio Carlos à Lusa.
Para a CGTP, o sinal do descontentamento dos trabalhadores já foi dado, com a entrega, até abril, de 190 pré-avisos de greve, 143 dos quais para empresas do setor privado.
“Isto quer dizer que há uma insatisfação que começa a crescer face a ausência de respostas e que se pode tornar numa contestação maior se, porventura, o Governo continuar a privilegiar a convergência com o PSD/CDS na Assembleia da República no que respeita à rejeição de propostas que visam revogar as normas gravosas da legislação do trabalho”, considerou.
Para Arménio Carlos, o Governo neste momento tem assim duas opções: ou dar sequência a um conjunto de expectativas que foram criadas para romper com a política que foi seguida pelo PSD/CDS e pela ‘troika’ ou, neste contexto, continuar a convergir com as questões estruturantes com a direita e isso, em vez de criar num sinal positivo, irá naturalmente transformar-se numa frustração e no aumento da contestação.
“Este é o momento para que o Governo possa refletir e, já agora, privilegiar a resposta aos problemas dos trabalhadores”, finalizou.
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