Existente há 126 anos, o mosteiro de Santo Tirso, distrito do Porto, é o único em Portugal a produzir um licor feito a partir da destilação de diversas especiarias e ervas aromáticas, numa produção artesanal iniciada em 1945 a partir da oferta de uma fórmula pelo “senhor Botelho, um engenheiro químico”, disse à Lusa o responsável.

O padre Albino Nogueira, um dos 23 monges do mosteiro beneditino, explicou a produção do licor de Singeverga que seguiu a “tradição monástica de produção de licor caseiro” e que, entre outros produtos, combina a “mirra aromática, amêndoa amarga, baunilha, açafrão, canela, noz-moscada com plantas aromáticas”.

Durante 50 anos entregue ao monge José Laranjeiro, que para além da produção “tinha, muitas vezes, que sair para procurar mercados” a fim de escoar a produção, contou o padre, o facto de os utensílios já não serem os mesmos de 1945 “não alterou o método de produção”, confinado a um espaço onde se reúnem o armazém, o laboratório e a destilaria.

“Nós também podemos consumir”, confirmou o responsável de degustações que com o passar dos anos passaram a ser cada vez mais frequentes no mosteiro, deixando de ser apenas “nas datas em que se celebra o dia do santo com o nome do monge”, passando a incluir “aniversários, domingos e feriados”.

Habitualmente visitado por alunos da Escola Agrícola de Santo Tirso, o mosteiro produz em média, por ano, 7.000 mil garrafas de meio litro, 1.500 de 0,70 litros e 1.000 miniaturas, contabilizou o padre Albino Nogueira, confirmando que a produção “deu sempre lucro”.

Aos 19 anos, Francisco Ferreira mostrou cansaço pelo curso de Optometria e Ciências da Visão que frequentava na Universidade do Minho e a amizade da família com os monges fez dele, em maio de 2017, o fabricante do licor, sendo o único elemento externo ao mosteiro no processo.

Atualmente a estudar na Trofa, onde tira o curso de Tecnologia Mecânica, o jovem admite seguir novos caminhos, mas confessa que “por gostar do que faz”, quer poder “conciliar” no futuro as suas atividades e prosseguir ligado à produção do licor.

Sobre o processo artesanal explicou que dura “mais de um ano”, período em que o licor “permanece numa pipa de carvalho”, após o que se dá o engarrafamento.

“É um processo em que muita coisa pode correr mal”, disse, explicando que o “mais difícil” é o processo de destilação do álcool, “porque se for colocada muita lenha o fogo ficará muito forte e as especiarias presentes na essência alcoólica vêm por arrasto, quando o que se quer é que o líquido saia transparente”.

E quando convidado a contar com o que acompanha bem o licor de Singeverga, aconselhou a bebê-lo “com uma gotinha de uísque ou de aguardente”, devido a “ser muito doce”, numa degustação a que podem também “juntar-se umas bolachas”.

Com preços, para o mercado nacional, que oscilam entre os sete euros (miniaturas) e os 21 euros (0.70 litros), era a internacionalização do produto que o padre Albino Nogueira gostaria que fosse a próxima fase do licor.

Chegada do 'Brexit' impediu em 2017 exportação do licor de Singeverga para o Reino Unido

O licor de Singeverga viu a chegada do ‘Brexit’ ao Reino Unido impedir que fosse pela primeira vez em 72 anos exportado, disse à Lusa o padre Albino Nogueira.

O referendo que em 2016 ditou a saída do Reino Unido da União Europeia, e cujo processo de negociação ainda decorre, teve implicação na tradição portuguesa de exportação de bebidas alcoólicas para o Reino Unido.

Segundo o responsável pela produção do licor produzido no Mosteiro de Singeverga, o licor teve a primeira "boa oportunidade" de exportação, mas os "temores do empresário português interessado, devido ao ‘Brexit’", não permitiram a concretização do negócio.

"Em 2017 fomos abordados por um empresário das redondezas, mas que está radicado há muitos anos em Londres, onde negoceia vinhos e licores, para um eventual negócio com o nosso licor", relatou o padre Albino Nogueira.

E acrescentou: "ele veio cá, viu como produzimos o licor mas, depois, temeroso com os impostos que poderiam vir com o ‘Brexit’ acabou por abandonar a ideia e o negócio não se concretizou".

Segundo o monge, "por várias vezes recebeu propostas de exportação", contudo, "nunca concretizadas", devido a serem oriundas de mercados "que ofereciam pouca confiança".

Um desses casos, relatou, "surgiu de Taiwan, na Ásia, para uma loja que se dizia especializada na venda de produtos monásticos".