
"A resposta musculada da polícia moçambicana a estas manifestações pacíficas, incluindo espancamento de manifestantes com bastões, causando-lhes ferimentos, é um ato ultrajante de policiamento contra manifestantes indefesos", refere a diretora adjunta da AI para a África oriental e austral, Emerlynn Gil, num comunicado enviado às redações.
A Amnistia Internacional denuncia as "detenções arbitrárias", bem como a utilização de gás lacrimogéneo e as agressões aos manifestantes, verificadas na resposta da polícia com a intenção de "menosprezar o legado de Azagaia", constituem "uma violação ao direito de liberdade de reunião".
"Não há dúvida de que a polícia pretendia reprimir as manifestações, com a intenção de menosprezar o legado de Azagaia", afirma, considerando que a atuação das forças policiais, que podem ser vistas a espancar manifestantes nos "vários vídeos enviados à Amnistia Internacional e partilhados em várias redes sociais, são um padrão perturbador de táticas imprudentes e ilegais contra as pessoas" durante protestos.
Emerlynn Gil afirma ainda que a polícia deve abster-se de atacar os manifestantes e evitar envolver violência em manifestações pacíficas.
Neste contexto, a AI defende que as autoridades devem investigar "rapidamente" os polícias que detiveram e espancaram os manifestantes e garantir que sejam responsabilizados por violar os direitos destes e o direito internacional.
A polícia bloqueou este sábado os participantes da marcha na cidade da Beira, a meio do caminho, apesar de na sexta-feira ter garantido que a mesma tinha autorização para se realizar.
Fonte policial, sob anonimato, disse aos jornalistas que, entretanto, foram recebidas ordens para a marcha não se realizar.
Face ao bloqueio, os ânimos exaltaram-se e houve confrontos com agressões físicas, sem disparos, que resultaram na detenção de, pelo menos, três participantes, disse fonte da organização.
Os restantes grupos que iam integrar a marcha já não saíram do ponto de encontro, no cruzamento da Munhava, à entrada da Beira, de onde iriam descer para a praça 03 de Fevereiro, na Ponta Gea, zona nobre da cidade.
Além da Beira, estavam previstas marchas para outras cidades marchas em homenagem ao artista chamado "rapper do povo": Inhambane, Xai-Xai, Quelimane e Nampula.
Na terça-feira, o funeral em Maputo juntou milhares de pessoas, mas o cortejo foi bloqueado por blindados e polícia fortemente armada num ponto do percurso que passaria em frente à residência oficial do Presidente da República.
Houve momentos de tensão e chegou a ser disparado gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, que teve de recorrer a uma via alternativa.
Com mais de 20 anos de carreira, o 'rapper' ficou célebre pela crítica aberta à governação em Moçambique e por dar voz aos problemas da população, de tal forma que em 2008 chegou a ser questionado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
As rimas não passavam na rádio e televisão públicas e os deputados da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder desde a independência, apontavam-no como intérprete da oposição.
Azagaia, nome artístico de Edson da Luz, morreu na quinta-feira, aos 38 anos, em sua casa, após uma crise de epilepsia, segundo a família do artista.
LT (LFO) // VM
Lusa/Fim
Comentários