Cerca de sete milhões de meticais (90 mil euros) dos 15,6 milhões previstos (200 mil euros) foram pagos aos depositantes, abrangendo porém apenas 17% dos 5.116 elegíveis, avançou em conferência de imprensa Alberto Bila, administrador do banco central.

Segundo Alberto Bila, mais de um terço dos credores tinha depósitos abaixo dos cem meticais (1,2 euros).

Após ter determinado, a 11 de novembro, a inviabilidade e falência do Nosso Banco, detido pelo Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), o BM anunciou hoje a nomeação de uma comissão liquidatária, presidida por João Machado, da consultora Deloitte Moçambique, e que terá um representante dos credores e outro dos acionistas.

O BM considerou que a instituição financeira foi incapaz de cumprir o plano de reestruturação delineado em 2014, que implicou uma recapitalização e alteração da estrutura da administração.

Ao mesmo tempo, o banco central ativou o Fundo de Garantia de Depósitos, mas apenas para contas de pessoas singulares residentes em território nacional e em moeda nacional, num limite de reembolso de 20 mil meticais (253 euros ao câmbio atual).

O Nosso Banco nasceu em 1999 como BMI-Banco Mercantil e de Investimentos, tendo alterado a sua designação no ano passado.

Apesar de se tratar de uma entidade privada, a maioria de capital pertence ao INSS (77%), sendo também acionistas a empresa pública Eletricidade de Moçambique (15%) e a SPI - Gestão de Investimentos, uma sociedade ligada a figuras de topo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.

O administrador do BM referiu hoje que o processo de reembolso aos depositantes "está a decorrer de forma tranquila", com uma capacidade instalada de atendimento diário de 150 pessoas, e que deverá terminar até 09 de fevereiro.

Alberto Bila disse ainda que caberá à comissão liquidatária analisar o desempenho da administração anterior da instituição e encaminhar eventuais indícios de gestão danosa ou fraudulenta para a Procuradoria-Geral da República, mas escusou-se a confirmar se o BM já possui informações nesse sentido, alegando que os seus relatórios são internos e não partilháveis com o público.

A liquidação do Nosso Banco aconteceu dois meses apenas após o BM ter afastado o conselho de administração e a comissão executiva do Moza, para "proteger os interesses dos depositantes".

As duas intervenções do banco central lançaram uma vaga de incerteza sobre a solidez da banca moçambicana, mas hoje Bila reiterou que "a saúde do sistema financeiro é boa" e que notícias sobre recapitalização de entidades bancárias devem ser vistas como normais, porque as instituições "precisam crescer".

Na quarta-feira, o BM anunciou em comunicado que vai indicar uma comissão de avaliação com vista à recapitalização ou venda do Moza Banco, logo após a apresentação de um relatório da consultora KPMG.

Nesta fase, disse hoje Alberto Bila, "seria prematuro" avançar se o Moza está mais perto da venda ou da recapitalização pelos atuais acionistas.

Fundado em 2008, o Moza é detido em 50,9% pela Moçambique Capitais e em 49% pelo português Novo Banco.

Ao contrário do Nosso Banco, que mantinha apenas pouco mais de cinco mil depositantes particulares e 900 empresas e uma quota de ativos de 1% do sistema bancário, o Moza possui mais de 93 mil clientes particulares e oito mil empresas e uma quota de 7,71%, sendo o quarto maior banco moçambicano, com 48 agências em praticamente todo o país.

De acordo com o BM, à exceção do Nosso Banco e do Moza, os restantes bancos a operar no país mantêm uma média de rácios de solvabilidade de 14%, muito acima dos 8% exigidos pelo órgão supervisor.

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