Durante a manhã gélida, em que as temperaturas rondaram os -10ºC negativos, cerca de 50 pessoas, incluindo membros da organização ultranacionalista 'Proud Boys' e familiares de prisioneiros, pressionavam pela rápida libertação dos condenados pelo envolvimento no ataque ao Capitólio norte-americano de 06 de janeiro de 2021 e que na segunda-feira receberam o perdão do Presidente eleito, Donald Trump, logo após a tomada da posse.
Entre as pessoas que aguardam no exterior do Centro de detenção de Washington D.C. estava Robert Morss, que havia sido condenado a mais de cinco anos de prisão por vários crimes ligados ao ataque ao Capitólio, incluindo agredir polícias com uma arma, mas que foi hoje libertado.
Morss contou à Lusa que havia acabado de sair da prisão na Pensilvânia e viajado imediatamente para a capital norte-americana para pressionar pela libertação dos restantes "patriotas que continuam presos injustamente".
Para este ex-militar do Exército, o ataque à sede da democracia norte-americana "foi forjado" pela esquerda, "que infiltrou pessoas" violentas no protesto que visava travar a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden.
"Estou feliz por estar livre, mas há homens inocentes dentro deste edifício. Neste momento, são reféns. Estamos fartos desta caça às bruxas", advogou o homem que esteve preso três anos e meio.
Admitindo que esteve dentro do Capitólio no momento da invasão, Morss assumiu que não esperava as consequências com que teve de lidar: "Eu tinha uma entrevista de emprego no dia seguinte. A minha vida ficou virada do avesso", afirmou em Washington.
Entre os beneficiados da comutação de penas, aos quais Trump se referiu como "reféns", estão 14 membros das organizações de extrema-direita 'Oath Keepers' e 'Proud Boys', incluindo os seus líderes.
O grupo 'Proud Boys' foi um dos que instigou o ataque ao Capitólio em 2021 e vários dos seus membros, incluindo o seu líder Enrique Tarrio, condenado a 22 anos de prisão pelo crime de "sedição", foram posteriormente presos. Stewart Rhodes, dos 'Oath Keepers' havia sido condenado a 18 anos de prisão.
A decisão do novo Presidente, uma das primeiras, surgiu horas depois de cerca de 50 membros da organização ultranacionalista 'Proud Boys' terem marchado pelas ruas de Washington na segunda-feira, exigindo a Trump o perdão dos seus membros presos devido ao ataque contra o Capitólio.
Na aglomeração em frente à prisão podiam ler-se hoje cartazes com as frase: "Ninguém ficará para trás" e "Perdão já!".
Ao longo da manhã de hoje, a Lusa testemunhou a libertação de duas mulheres.
Uma delas foi a de Rachel Marie Powell, condenada a 57 meses de prisão e 36 meses de liberdade condicional pelo seu papel no ataque ao Capitólio, mas que deixou hoje a cadeia com um perdão total graças ao magnata republicano.
"Ar livre, finalmente", celebrou, ao falar com jornalistas.
O Departamento de Justiça norte-americano acusou cerca de 1.600 pessoas nos últimos quatro anos por estes atos violentos, das quais mais de 1.270 foram condenadas.
Quatro pessoas foram mortas no ataque ao Capitólio e mais de 140 policiais ficaram feridos, numa página negra da história do país e suscitando na altura condenação por políticos de ambos os partidos.
Do estado do Wyoming até à capital norte-americana viajou Patty, acompanhada pelo seu marido, Jimmy, para apoiar os prisioneiros.
"Quis estar aqui para os apoiar. Esperei por este dia muito tempo. Estou tão feliz por este perdão concedido por Donald Trump. Espero ver estes patriotas serem libertados", afirmou à Lusa a norte-americana de 65 anos.
Apesar do grupo ser dominado por apoiantes de Donald Trump, registou-se um momento de tensão quando uma mulher se dirigiu à multidão e gritou: "cumpram a sentença, ninguém está acima da lei", tendo sido duramente contestada pelos presentes: "Cala-te! Eles estão inocentes, são patriotas".
À Lusa, essa mulher expressou indignação com o perdão concedido por Donald Trump a cerca de 1.500 sentenças pelo ataque ao Capitólio.
"Quando as pessoas negras cometem crimes, elas cumprem a sua sentença. Quando as pessoas brancas cometem crimes, são libertadas e perdoadas. Isto é injusto", afirmou Renée, de 58 anos, que vive de frente para a instituição prisional de Washington.
"Não concordo com este perdão, porque os meus antepassados - sou uma mulher negra - construíram aquele Capitólio de graça. O Trump perdeu em 2020. Ele mentiu ao dizer que estavam a roubar-lhe a eleição e incitou a esta insurreição. Por isso, essas pessoas merecem estar na prisão onde estão. É lá que têm de estar", defendeu.
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Lusa/Fim
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