"Robin Fior -- Call to Action/Abril em Portugal" é, nas palavras da curadora, Ana Baliza, "uma exposição eclética", que dá a conhecer o trabalho de um autodidata com "uma linguagem bastante livre: como ele nunca se agregou em termos formativos a nenhuma linguagem, acabou por conseguir navegar entre vários estilos".

Robin Fior, que morreu em 2012, mudou-se para Portugal em 1973, para trabalhar na cooperativa de 'design' Praxis, fazendo "um corte bruto com um percurso de 20 anos [de trabalho] em Londres".

"Depois do 25 de Abril [de 1974] acaba por ficar, entusiasmado com a ideia de participar numa revolução a sério", recordou Ana Baliza, em declarações à Lusa, durante a montagem da exposição.

Quando se mudou para Portugal, Robin Fior não imagina que acabará por ficar 40 anos. Nessa mudança, "o trabalho que ele fez em Londres, fica em Londres" e foi necessário ir "buscar peças, para esta ocasião, à família e a outros arquivos e bibliotecas".

Das cerca de 100 peças que compõem a exposição, várias fazem parte do espólio do 'designer' doado à Fundação Calouste Gulbenkian depois da sua morte.

Trata-se sobretudo de cartazes, folhetos e panfletos, "materiais que era suposto terem desaparecido há muitos anos, que são sempre criados para terem uma vida curta", mas também há "uma seleção mais pequena de livros".

Objetos com "uma orientação política", mas que Ana Baliza acredita que "têm uma validade gráfica para além daquilo que é a orientação política".

"Falam de coisas que são completamente válidas de debater hoje em dia, mas acredito que a exposição se expande para além daquilo que é uma inclinação política de um ou de outro tipo", referiu, salientando que o trabalho de Robin Fior "tem uma capacidade singular de misturar o modernismo tipográfico com técnicas um pouco mais quentes e tradicionais de impressão, de produção e formas de pensar o design de forma linguística também".

Dar "um primeiro olhar público ao conteúdo do espólio" doado à Fundação Calouste Gulbenkian foi uma das ideias na base desta mostra, que, como Ana Baliza faz questão de sublinhar, "não é retrospetiva".

"É uma exposição de recorte", referiu, partilhando que "há imensa coisa que ficou de fora".

Robin Fior fez também muito trabalho comercial, "sobretudo em Portugal, depois do 25 de Abril a sua atividade passa a ser muito mais ligada aos organismos culturais governamentais".

"Ele acaba por ficar muito ligado a esta ideia de reconstrução, ou de um país em construção, ligado aos próprios sistemas de poder. E esse material ficou de fora porque o material que é mais forte, e mais livre e onde ele é mais apaixonado, é aquele onde ele liga o seu envolvimento emocional, afetivo, e o trabalho. No fundo, onde o trabalho é um pouco uma extensão dos interesses afetivos do Robin, como são a Política e a Cultura. E essa exposição tem esse foco, de facto", explicou Ana Baliza.

Nos primeiros tempos em Lisboa, Robin Fior desenhou, entre outros, para o Movimento Esquerda Socialista e o jornal Esquerda Socialista, para os movimentos de independência das então colónias portuguesas, e para o Centro de Arte e Comunicação Visual (Ar.Co), "onde foi professor durante três décadas e para o qual desenhou o programa de estudos de 'design' gráfico".

"Robin Fior -- Call for Action/Abril em Portugal", que estará patente até 03 de fevereiro de 2020, inclui uma programação complementar com visitas guiadas, uma mesa redonda, "com algumas pessoas que fizeram parte da história do 'design' português nas décadas de 1960/70", e conversas com, entre outras, os britânicos Robin Kinross e Robin Hollis, 'designers' e amigos de Robin Fior, e a professora Maria João Bom, "a única pessoa que escreveu uma tese de doutoramento sobre o Robin Fior e que trabalhou com ele".

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Lusa/fim