"A OIM apela a um acesso humanitário total e a uma redução dos impedimentos burocráticos, incluindo a emissão de vistos [para especialistas da ONU], para garantir uma prestação oportuna e eficiente da ajuda humanitária", assim como "um maior e estratégico envolvimento com o Governo", referiu Laura Tomm-Bonde, chefe de missão da OIM em Moçambique.

A responsável falava em conferência de imprensa, em Maputo, ao lado do diretor de Operações e Emergências da OIM, Jeff Labovitz, o terceiro líder global das Nações Unidas a visitar Moçambique em três semanas para "intensificar a resposta" à crise em Cabo Delgado, em parceria com o Governo e autoridades.

Os apelos surgem numa altura em que o número de deslocados registados após o ataque de rebeldes a Palma (em 24 de março) continua a subir - hoje chega a 30.000, segundo dados da OIM - agravando uma crise de três anos e meio provocada por grupos armados que já originou 700.000 deslocados e mais de 2.500 mortos em Cabo Delgado.

A dirigente da OIM alertou: "O socorro não está a chegar a grande parte da população necessitada devido às restrições de acesso aos distritos costeiros da província de Cabo Delgado. Cinco dos distritos afetados [pela violência armada], que acolhem atualmente mais de 60.000 deslocados internos, não são acessíveis de todo e apenas quatro distritos estão parcialmente acessíveis".

"A cidade de Pemba e outros locais de acolhimento de deslocados estão num ponto de rutura há meses e é necessário apoio urgente", referiu, considerando "crucial" agir de imediato "para evitar que a crise e seus efeitos cheguem a províncias e países vizinhos".

A OIM está a enviar itens de ajuda humanitária para Moçambique, mas "é crucial que as autorizações alfandegárias se obtenham rapidamente, de modo a chegarem aos mais necessitados", detalhou Laura Tomm-Bonde.

Jeff Labovitz acrescentou que Moçambique está também a sofrer com as consequências da disrupção provocada pela covid-19 nas cadeias de abastecimento e que a urgência do apoio humanitário passa por repor 'stocks'.

Entretanto, tem de haver diálogo permanente com autoridades e parceiros para "pré-posicionar recursos" no norte do país.

"Neste momento não podemos apenas reagir", destacou.

Noutro apelo, dirigido aos doadores, Laura Tomm-Bonde referiu que o Plano de Resposta Humanitária a Moçambique, apresentado pelas Nações Unidas em dezembro, no valor de 254 milhões de dólares (210 milhões de euros), continua extremamente subfinanciado, abaixo de 1%, pelo que disse ser "urgente aumentar o financiamento para evitar uma deterioração significativa da situação humanitária no terreno".

"Não há fundos suficientes para ajudar todos os necessitados este ano", em todas as crises globais, e "isto é algo com que temos de nos confrontar", sublinhou Jeff Labovitz.

"Mas quando nos aproximamos deste nível de deslocamento [como em Cabo Delgado] em áreas já atingidas por pobreza, temos de dar o nosso melhor para priorizar [o apoio] e ver como podemos ajudar instituições governamentais e humanitárias a chegar às pessoas necessitadas", sublinhou.

A visita de três dos diretores da ONU para a área de emergência é sinal de intensificação dos esforços, concluiu.

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