Cerca das 14:00 locais (12:00 em Lisboa), depois de quase uma hora a marcharem desde Hulene, nos subúrbios, um grupo de algumas dezenas que ia crescendo ao longo do caminho, manifestando-se pacificamente, encontrou a força policial a poucas centenas de metros da praça da Organização da Mulher Moçambicana (OMM), já no centro de Maputo.

Após vários apelos para não avançarem por parte do comandante da força policial no terreno, já com um blindando atravessado na rua, à entrada do bairro Polana Caniço, num minuto os manifestantes foram desmobilizados com vários lançamentos de gás lacrimogéneo.

Com os manifestantes a recuarem, de pronto a mesma ordem para cessar a ação policial, já com a maior parte daqueles afastados do local.

Antes da intervenção, Yassin tentava "negociar" com a polícia, explicando que os jovens estavam a manifestar-se pacificamente, mas em vão.

"Temos o direito consagrado, então temos que continuar a marchar, desde o momento que seja uma marcha pacífica. O que a polícia devia era vir para proteger, não vir para atacar, que é o que está a acontecer agora. Estou muito sentido, eu vinha conversando com o próprio comandante do outro lado e ele vinha controlando as operações até chegarmos ao Xiquelene, sem nenhum sobressalto (...) parece que a manifestação tem que ser lá na zona suburbana", lamentava.

Após a ação policial, os manifestantes regressaram e seguiram-se momentos de tensão no local, entre gritos de protesto e o hino de Moçambique entoando, por alguns em joelhos, enquanto outros insistiam na negociação com a polícia, para tentar continuar a marcha, o que não chegou a acontecer, sem que fossem avançados motivos.

Ao fim de uma hora, já com alguns pneus a arder no interior do bairro, como em protestos anteriores, a polícia acabou mesmo por desmobilizar o cordão de segurança que tinha feito no local, mantendo alguns meios na envolvente.

Ainda assim, Carlos Nhiancale não aceitava, garantindo que saiu de casa para se manifestar pacificamente: "Gostaria de perguntar à polícia porque está a disparar gás lacrimogéneo porque a população está a fazer uma manifestação pacífica. É para irmos até aonde? Eles é que estão à procura de problemas. Deixem-nos marchar à vontade".

O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou a uma greve geral de uma semana em Moçambique a partir de hoje, manifestações nas sedes distritais da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e marchas em Maputo em 07 de novembro.

Numa ronda feita pela Lusa pela capital é visível pouco movimento ou trânsito automóvel, com estabelecimentos públicos e privados, bem como escolas e outros organismos, encerrados, apesar de alguns transportes públicos estarem a funcionar.

É também visível um reforço policial nas principais artérias da cidade, mas sem registo de problemas, enquanto alguns cafés e supermercados também estão de portas abertas.

É possível constatar que serviços de Internet como a plataforma de mensagens WhatsApp estão a operar com limitações, pelo menos em Maputo.

A polícia moçambicana enviou esta madrugada mensagens escritas para os telemóveis (SMS) pedindo à população que se abstenha de "práticas criminosas", no primeiro dia de paralisação.

Mondlane designou esta como a terceira etapa da contestação aos resultados das eleições gerais de 09 de outubro anunciados há uma semana pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que se segue aos protestos realizados nos passados dias 21, 24 e 25.

Os protestos degeneraram em confrontos com a polícia, de que resultaram pelo menos 10 mortos, dezenas de feridos e 500 detidos, segundo o Centro de Integridade Pública, uma organização não-governamental moçambicana que monitoriza os processos eleitorais.

A CNE anunciou em 24 de outubro a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder desde 1975, na eleição a Presidente da República de 09 de outubro, com 70,67% dos votos.

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