Até agora, seis homens tinham sido executados em várias províncias do país, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).

Os quatro condenados por homicídio foram mortos a tiro perante dezenas de milhares de pessoas em três cidades afegãs.

Foi o maior número de execuções num só dia desde 2021, de acordo com a AFP.

As autoridades locais apelaram na quinta-feira aos funcionários públicos e aos cidadãos para que fossem "participar no evento", proibindo, como habitualmente, câmaras e telemóveis para evitar a circulação de imagens.

Dois homens foram executados perante cerca de 20.000 pessoas reunidas num estádio em Qala-I-Naw, capital da província de Badghis, no noroeste do país, em conformidade com o princípio islâmico das "qisas" ou lei da retaliação, anunciou o Supremo Tribunal.

O porta-voz da autoridade provincial, Matiullah Muttaqi, disse à AFP que um dos condenados matou três pessoas e o outro uma.

"Os familiares tentaram pedir desculpa e ofereceram uma indemnização financeira, mas as famílias das vítimas recusaram-se a perdoar-lhes", acrescentou.

Neste caso, são-lhes dadas armas e um homem de cada uma das famílias das vítimas pode disparar sobre o condenado.

"Os familiares das vítimas estavam atrás deles e dispararam contra eles com pistolas", contou à AFP Mohammed Iqbal Rahimyar, 48 anos, que estava entre a assistência, ao sair do estádio.

Zabihullah, 35 anos, que também estava nas bancadas, disse que teria "preferido que a família perdoasse".

"Mas como não era esse o caso, era uma ordem divina e tinha de ser cumprida", afirmou.

Javid, outro espetador de 30 anos, congratulou-se por "o Emirado Islâmico [nome dado pelos talibãs ao Estado não reconhecido por nenhum país do mundo] estar a mostrar a sua política e que é forte".

Um terceiro homem foi executado na cidade de Zaranj, capital da província de Nimroz, no sudoeste do país.

A quarta execução ocorreu em Farah, capital da província com o mesmo nome, a oeste.

Nos dois casos, as execuções também ocorreram em estádios cheios.

As ordens de execução foram assinadas pelo líder supremo dos talibãs, o emir Hibatullah Akhundzada, que vive em reclusão num reduto meridional de Kandahar e governa o país por decreto ou instrução, disse o Supremo Tribunal num comunicado.

Segundo a mesma fonte, os casos foram previamente examinados "em grande pormenor e em várias ocasiões" por vários tribunais.

Embora as execuções públicas tenham sido comuns durante o primeiro regime dos talibãs, entre 1996 e 2001, foram drasticamente reduzidas desde que regressaram ao poder em agosto de 2021.

Desde então, foram executados seis homens por homicídio: um em novembro, três em fevereiro de 2024, um em junho de 2023 e o primeiro em dezembro de 2022.

As autoridades têm efetuado regularmente flagelações públicas por outros crimes, como roubo, adultério e consumo de álcool.

Em agosto, por ocasião do terceiro aniversário da tomada de Cabul, o emir Akhundzada declarou que a aplicação da lei islâmica era "uma responsabilidade até à morte".

Pouco tempo depois, as autoridades anunciaram uma nova lei para a "propagação da virtude e a repressão do vício" que rege todos os aspetos da vida social e privada dos afegãos de acordo com uma interpretação ultra rigorosa da lei islâmica.

A lei de 35 artigos não especifica as penas para cada infração, o que os ativistas dos direitos humanos consideram ser uma preocupante "zona cinzenta".

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