Dia 13 de Maio, um dia especial para muitos portugueses, e não só, que celebra a vinda de Nossa Senhora à Terra para falar a três crianças portuguesas. Primeiro, devo afirmar que um jornalista sério nunca pode dizer “As Aparições de Fátima” já que nunca ficou provado que Nossa Senhora apareceu mesmo. Para não desrespeitar o código deontológico, a nomenclatura correcta para este evento seria “As alegadas aparições de Fátima” ou, mais honestamente, as “As alucinações de Fátima”.
No entanto, como a religião ainda está tão embrenhada na nossa sociedade, trata-se o assunto como se, efectivamente, se tivessem suspendido todas as leis da física e do bom senso naquele dia em 1917 em que uma senhora se materializou no ar e ali ficou a pairar. Os anos conferem à história um peso que seria impensável se ocorresse nos dias de hoje. Aliás, nos dias de hoje, Nossa Senhora teria de se materializar num vídeo de um Youtuber para as crianças darem pela sua presença, já que crianças a brincar no meio de um descampado seria impensável. Brincar, como quem diz, passear gado, hoje, seria considerado trabalho infantil, os pais dos pastorinhos seriam julgados e a Segurança Social sinalizaria as crianças e retirá-las-ia dos pais para irem para uma qualquer instituição amiga que recebe subsídios por cada acolhimento.
Mesmo que as crianças estivessem a brincar na rua e vissem Nossa Senhora, a primeira coisa que fariam era tirar uma selfie com ela para publicar no Instagram e toda a gente ia comentar a dizer que era fake. Chegavam a casa, transtornados, dizendo aos pais que haviam contactado com um adulto vestido de branco que lhes disse para guardarem segredo. Os pais, ou os levavam ao psiquiatra que lhes diagnosticava uma qualquer doença da moda e medicava-os, ou alertavam a PJ para um possível caso de pedofilia. Depois ainda se descobria que tinha sido um padre vestido de Nossa Senhora que tinha abusado das crianças, mas não acontecia nada e este era recolocado noutra paróquia a mando de altos cargos da Igreja, abafando o caso.
O que mais me choca é que Nossa Senhora escolheu os pastorinhos como mensageiros, mas depois matou logo dois, passado uns meses. Nos dias de hoje, isso dificilmente aconteceria porque a medicina já evoluiu e dificilmente morreriam de gripe espanhola. Nossa Senhora teria de se esforçar mais e dar-lhes um cancro agressivo para os levar tão depressa. A Lúcia ficou para freira, algo que não teria acontecido nos dias de hoje devido à existência do Tinder.
A sociedade vai evoluindo e vamos ficando menos permeáveis a novos milagres, mas continuamos a achar que os que aconteceram há centenas ou milhares de anos foram verdadeiros. Num país evoluído, já nenhuma mulher se safa com a história que engravidou virgem do Espírito Santo; já ninguém acredita numa criança com astigmatismo e miopia quando ela diz que viu uma senhora no cimo de uma árvore.
Moral da história: cada um acredita no que quer, mas os jornalistas e os media não podem compactuar com ficção, tratando-a como se fosse verdade. Hoje, é o aniversário das alegadas aparições de Fátima ou, se quisermos ser factuais e basearmo-nos em várias investigações já feitas: aniversário do dia em que crianças foram crianças e inventaram mentiras, mas das quais um grupo de pessoas decidiu aproveitar-se por motivos religiosos e económicos.
Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:
Fátima S.A., livro do Padre Mário de Oliveira.
Fátima: milagre, ilusão ou fraude?, livro de Len Port.
Aparição da minha pessoa num milagre de stand-up comedy em Peso da Régua, dia 19 de Maio. Bilhetes neste link.
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