Esta votação no congresso do Partido Popular também vale para Mariano Rajoy como a aprovação de uma segunda moção de censura: depois de ter sido derrotado no parlamento pela maioria formada pelas esquerdas e pelos nacionalistas da Catalunha e do País Basco, agora o líder dos últimos sete anos de governo em Espanha também vê as suas linhas derrotadas no partido que dirigiu.
Com a eleição de Casado, o PP vira-se ainda mais para a direita, como fica evidente nas propostas políticas e sociais. Linhas mestras: defesa da família e da tradição na escola, recusa da eutanásia e do aborto livre, reservas sobre as políticas de género, para além de combate total aos independentismos e às esquerdas. Quer alterar o Código Penal para combater o independentismo. É o retorno às origens mais conservadoras do PP, no trilho antes marcado por Aznar, mas de que Rajoy se distanciou nas políticas sociais.
Casado assume-se como a voz da direita espanhola. Convidou os militantes a livrarem-se de complexos e a largarem a casaca do politicamente correto.
O novo líder tem uma vantagem essencial: não se conhecem histórias de corrupção envolvendo gente da equipa. Gente com esse mau cadastro, no topo do aparelho partidário do PP e do Estado espanhol, tem grande influência na queda brusca de Rajoy.
Espanha entra numa nova era política com uma nova geração de líderes. O socialista Pedro Sanchez, agora na presidência de um governo minoritário sustentado por apoios muito instáveis, também chegou ao poder através do voto das bases contra o aparelho. Também no PSOE, tal como agora no PP, venceu o voto contra os que estão instalados “em cima”.
A eleição de Casado, ao puxar o PP para a direita, oferece ao PSOE de Sánchez a oportunidade para ampliar apoios ao centro. Sánchez, com um mês de governo, está a surpreender ao conseguir baixar a crispação política que inflamava a Espanha. É notório o embaraço de Albert Rivera, líder do Ciudadanos que, subitamente se vê metido numa tenaz: de um lado, é o socialista Sanchez a causar boa impressão, do outro, Casado a prometer revitalizar o PP. Com uma curiosidade: a imagem de Pablo Casado tem semelhanças com a de Albert Rivera. Jovens e sorridentes. Aliás, tal como Sánchez. Fica mais estreito o espaço político para o Ciudadanos.
A nova era que está a começar na política espanhola tende a precipitar uma chamada às urnas para definir a recomposição do quadro político. Está como ninguém imaginaria há escassos três meses. Sendo que subsiste a questão das autonomias, com a Catalunha como o caso mais complexo. Sánchez tem sido muito hábil a conduzir o diálogo, mas não é de excluir que algumas das partes do lado independentista forcem nova radicalização.
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