A praxe "é a tradição". Esse argumento funciona para as praxes e para a excisão do clitóris. As justificações da malta das praxes são muito semelhantes às dos amantes da tourada. Não é por acaso. Ainda vão dizer, como na tourada, que se não houvesse praxe não havia caloiros. "Ai, mas é bom para o salutar convívio". Isto parece a conversa sobre as mulheres que levam dos maridos — "Até é para meu bem. Ando desaustinada".

A praxe pode até ajudar à integração mas, se calhar, exageram, porque a maioria dos que praxam estão tão bem integrados, e gostam tanto do sítio onde estão, que frequentam o mesmo ano há mais de 5 anos. Nota-se, porque escrevem nos caloiros "Eu sou extúpido". Imagino quando eles chegam a casa, as mães todas contentes – "Ai que bom! És especialista em pintar pessoas com esferográficas, orgulho de filho. O meu filho já escreveu um Guerra e Paz em caloiros, que génio". Não, não é génio. É só um tipo parvo. Um Estaline da caneta de feltro.

"Foi graças à praxe que fiz amigos". Não há paciência. Esta gente que diz que tem amigos porque fez a praxe é o equivalente a dizer que tem namorada porque foi a uma casa de prostitutas. O mais irritante, são as pessoas que acham que os outros não sabem o que é a praxe como justificação para a sua própria estupidez.

A praxe não é tradição. Uma tradição, e isso sim é um clássico, é que metade dos tipos que estão a fazer praxe, vamos descobrir nos anos seguintes, são do pior que anda na faculdade. São os mesmos que tocam pandeireta e cantam a "Mulher Gorda"; o que dá para adivinhar do grau de humanismo destas criaturas. Em vez de "integrar" os caloiros, eu desintegrava os que fazem praxe. Tenho a certeza que melhorava a qualidade de vida do estabelecimento de ensino.

Li um artigo, a favor das praxe, onde um indivíduo se queixava do " histerismo anti-praxe". Grande maluco. "Histerismo anti-praxe", vindo de uns rapazes que andam aos gritos pelas ruas, a apitar, e a chamar nomes a um bando de putos pintados. Vamos lá ver, eu ainda aceitava quando eles faziam as suas praxes lá longe dentro das paredes do estabelecimento. Mas, agora, já não se contentam com isso. Andam pelas ruas a conduzir uma manada de caloiros, mal pintados, aos berros, a dar cabo do trânsito – mereciam ser soterrados por camiões TIR carregados de vergonha alheia.

Faz-me confusão como é que a polícia assiste àquilo e não faz nada. Grafittis nas paredes são 100 mil euros de multa, escrevinhar adolescentes no meio da rua, "tudo bem, siga". Estão 30 miúdos deitados em frente aos armazéns do Chiado, a gritarem que são umas bestas, e as pessoas olham para aquilo como quem olha para um tipo a assar castanhas – “Olha, chegou o outono". Com tantas coisas boas de natureza fetichista e de cariz ritualístico que vocês podiam estar a fazer — como por exemplo, hara-kiri — e andam a chatear os putos.

"Pois é, Quadros, mas se não aceitarmos a praxe depois não vamos poder usar o traje". Não é verdade. Mas e se fosse? Quem é que quer usar aquilo quando pode não usar?! Isso é o mesmo que dizer: "Se eu não aceito a praxe depois não me deixam pôr umas botas ortopédicas para fazer ginástica". Não compensa usar uma capa se nem sequer vos dão uma vassoura que voa, está bem? É parvo.

Sugestões do autor

  • David Fonseca, Jorge Palma, Márcia, Mazgani, Miguel Guedes e Samuel Úria fazem uma homenagem às canções de Leonard Cohen no dia em que completaria 83 anos. Dia 21 de setembro no Centro Olga Cadaval, em Sintra. Pode ser muito fixe.
  • A não perder o melhor festival de humor português, o The Famous Fest 2017, com gente que faz rir e eu. Dias 29 e 30 de Setembro, na Lx Factory, em Lisboa.
  • Uma Feira: XXIII Feira de Santo Astolfo em Cabeceiras de Orvalho, este ano dedicada às Hipérboles de Shakespeare, Luta de Galos e Tendas Impermeáveis – esta inventei porque não tinha mais recomendações.