O tempo político em Espanha está muito precário e todas as dúvidas sobre a solidez do PSOE de Pedro Sanchez para governar Espanha são legítimas. Está instalado em Madrid um governo transitório e muito minoritário, com apenas 85 deputados do PSOE. Sanchez chegou à presidência do governo de Espanha numa manobra ao mesmo tempo audaz e arriscada, mas assente em argumentos sólidos: a Espanha é um estado plurinacional que estava farto do centralismo autoritário do governo de Rajoy e da corrupção que minou o PP.
Os últimos anos tinham mostrado o PSOE a afundar-se, metido em lutas internas, com os chamados barões do partido a favorecer a líder andaluza, Suzana Diaz. As bases puxaram Pedro Sanchez para a liderança do PSOE. Quando a oportunidade surgiu, ele avançou: o tribunal ditou a sentença que mostrou a putrefação corrupta do aparelho do PP, Sanchez moveu-se rápido e pôs-se à cabeça da coligação para derrubar o governo de Rajoy e do PP. Conseguiu a convergência de, ao todo, 22 partidos, vários deles integrados em coligações.
A chegada de Sanchez à presidência do governo de Madrid traduz a magnitude do desastre de Rajoy. A margem de Sanchez para governar é muito escassa. Vai ser ferozmente combatido à direita pelo PP e pelo Ciudadanos. Vai estar sob alta pressão dos variados partidos nacionalistas. O Podemos, aliado para viabilizar alternativa, tem uma oportunidade para mostrar credibilidade e resistir à tentação de rasteirar o sócio desta fase política. Mas tudo é precário para Sanchez.
O novo chefe de governo em Madrid já tinha mostrado resiliência. Agora, revelou audácia. Para se poder colocar como pretendente sério à governação após as eleições gerais que terão de ser convocadas para os próximos meses – são a base para a legitimidade política -, Sanchez precisa de continuar a surpreender.
A Catalunha dá a Sanchez uma boa oportunidade para se mostrar estadista, assim ele saiba promover diálogo prático que conduza à recuperação da convivência. Tem o benefício de a saída de Rajoy, por si só, ter instalado uma atmosfera desanuviada. Tem a pressão de estar sob suspeita de ter distribuído cedências aos partidos nacionalistas para conseguir o apoio deles na censura que derrubou Rajoy.
Esta época pede espírito construtivo e audácia. A margem de Sanchez é muito escassa, mas tem a oportunidade para conseguir recoser a sociedade tão separada.
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