Chega, assim, mais um ano ao fim. Já são 2018 desde que Jesus nasceu e muitos mais para trás desde que Deus criou o Universo. Estou a brincar, Deus não existe e Jesus, a ter existido, não nasceu no ano zero, mas sim uns anos antes, dizem uns; uns anos depois, dizem outros. Bom, não falo de religião só para arreliar alguns leitores do SAPO 24, pois isso seria demasiado fácil, mas faço-o porque é na religião que está a origem de um ritual que muitos fazem nesta data: as resoluções de ano novo.
As resoluções tiveram origem em coisas que se prometiam aos deuses como suborno para as pessoas terem mais sorte nas suas vidas. Como toda a gente via que não funcionava e que Deus não está preocupado com os humanos, decidiram começar a fazer resoluções que dependem mais de quem as faz. Por isso, esta é a altura do ano em que olhamos para o que tem sido a nossa vida e ponderamos mudar. Enchemo-nos de motivação e fazemos resoluções que, iludidos, todos os anos pensamos não quebrar. Juramos deixar de fumar e começar a comer bem, mas logo dia 1 de janeiro esquecemos a promessa e fumamos um cigarro a seguir a comermos os restos de comida de plástico que sobrou da passagem de ano. “É só hoje, começo amanhã”, dizemos a nós mesmos para apaziguarmos a consciência.
É nesta altura que decidimos tratar melhor o nosso corpo. Inscrevemo-nos no ginásio sem nos lembrarmos que, por algum motivo forte, deixámos de lá ir o ano passado. Motivo esse que é a preguiça. A passagem de ano devia ser no Verão, era mais fácil cumprir com algumas resoluções. No inverno apetece comida de conforto, cheia de calorias para aquecer, não temos tantas preocupações estéticas porque usamos várias camadas de roupa, e está frio para ir correr na rua ou para sair do ginásio todo suado ou depois do duche. Está mal pensado. Em vez de andarmos a discutir horário de verão e de inverno, todos picuinhas por causa de uma hora, devíamos era pensar em alterar as estações do ano.
Há estudos que dizem que quem faz resoluções de ano novo tem 46% mais probabilidade de as cumprir do que as que tentam mudar hábitos noutras alturas do ano. No entanto, se calhar esse estudo foi feito logo ali em fevereiro e não tem em conta que lá para maio já foram todas ao ar.
Outra coisa que me lembrei: será que os psicopatas também fazem resoluções de ano novo? E se as fazem, será que são para tentar ser melhores ou piores pessoas? Será que Hitler as fazia? Imagino as doze passas do Führer nas badaladas da passagem de ano de 1938 para 1939:
«Prometo invadir a Polónia.»
«Prometo ser menos coração mole e ser um ditador melhor e mais rígido.»
«Prometo ser vegetariano porque tenho muita pena dos leitõezinhos e cada vez gosto menos de churrasco, excepto daquele que estou a pensar fazer daqui a uns anos.»
Ou será que ele, todos os finais de ano, tentava ser uma pessoa melhor, mas tal como nós quebramos as nossas resoluções em pouco tempo, também ele não conseguia? Ninguém sabe, mas também não interessa, ele está morto e nós vivos. É mantermo-nos assim durante 2019 que já não está nada mau. A taxa de sucesso das resoluções é maior se formos realistas. Somos portugueses, não sonhamos alto, contentamo-nos com pouco, não vale a pena estarmos aqui a prometer demais que depois ficamos desiludidos connosco. Boas entradas a todos vós e um excelente 2019, mesmo para os que comentam em todas as minhas crónicas a insultar-me. Que 2019 vos resolva os problemas todos que assim já não precisam de vir aqui descarregar as frustrações.
Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:
Para ver: O meu primeiro espectáculo a solo de stand-up comedy, disponível no YouTube neste link.
Para ouvir: Podcast XLR Ligado.
Para ler: Quem vamos queimar hoje?, de Nelson Nunes.
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