Porém, nessa altura havia um misto de sentimentos em que ao desgosto do fim se aliava uma sensação de novidade e descoberta do que aí vinha: novos professores; novos temas para aprender; novas pessoas para conhecer. Depois de adulto e de entrar no mercado de trabalho fica só a angústia de “Para o ano há mais” e do “Já só faltam mais 30 anos até à reforma”. Somos a única espécie que vive para as férias e em que a maioria dos espécimes sobrevive durante 340 dias, para aproveitar 25, na melhor das hipóteses.

O conceito de férias laborais é relativamente recente, especialmente para as classes trabalhadoras. Na Roma antiga, os ricos chegavam a tirar dois anos de férias depois de árduo trabalho de fazer crescer o seu império. Agora, contentamo-nos com duas semanitas na Fonte da Telha, mas em contrapartida, não andamos todos a morrer de disenteria e de Malária. Quer dizer, em África anda muita gente a morrer disso, mas esses também não trabalham porque são crianças. Estou a brincar, muitas trabalham só que não lhes pagam.

Por falar em crianças, as férias vão mudando à medida que crescemos. Até aos três anos, éramos uns empecilhos para os nossos progenitores e as férias resumiam-se a uns dias de praia no Algarve em que os nossos pais só podiam ir apanhar sol às 20h com medo que nós fossemos vampiros e nos desintegrássemos à mínima exposição solar. Poucas ou nenhumas recordações destas férias ficam na nossa memória, a não ser as fotografias que a nossa mãe insiste em mostrar às namoradas que vão lá a casa. Fotos essas que são sempre na praia, nus e depois de vir da água fria o que pode prejudicar caso o namoro esteja no início da intimidade.

Vamos crescendo e ganhando mais independência. Já conseguimos regatear de três para duas horas o tempo de espera da digestão para ir ao banho e começamos a trocar os primeiros olhares com a vizinha do lado que frequenta a mesma piscina. Apaixonamo-nos platonicamente por ela e achamos que é a mulher da nossa vida. Depois de dois ou três a passar férias no mesmo sítio, temos, finalmente, coragem de lhe pedir o número e ela envia-nos uma mensagem a dizer «Hoje janta-mos juntos?». Uma facada no coração e a primeira desilusão amorosa da nossa vida, mas como ela é gira, acabamos por ignorar o homicídio ortográfico que ali foi cometido e jantamos na mesma, embora já não tenhamos intenções de casar.

Crescemos mais um pouco e começamos a abandonar os nossos pais nas férias. Queremos ir divertir-nos sem eles e só com os amigos. Interrail com mochila de quinhentos quilogramas às costas, dormir em estações de comboios, ao relento, em pé encostado ao móvel da sala numa qualquer casa de ocupas. Nada interessa a não ser aproveitar as férias que de ano para ano vão encurtando, seja porque começamos a trabalhar ou porque cada vez mais deixamos exames para recurso. Fazemos amizades com facilidade, mas sem a ingenuidade de que serão para sempre. Sabemos que algures no tempo se irão perder. Perder amigos para o tempo é de quem pensa que vai viver para sempre, característica de qualquer pessoa de vinte e poucos anos.

Crescemos mais um pouco, mas agora só para os lados e a idade já começa a pesar. Começamos a ficar cínicos com o mundo e transformamo-nos, aos poucos, naquilo que mais criticávamos nos nossos pais. Começamos a ficar picuinhas e o conforto que outrora era secundário passa a ser um dos principais requisitos. Talvez seja por, se tudo correr bem, com a idade irmos ganhando poder de compra, mas o que é certo que é que quem mais tem mais quer e acabamos por não estar satisfeitos com nada. Das vezes que fiquei em hotéis de cinco estrelas – sempre porque estavam com um grande desconto – dei por mim a reclamar com algumas coisas: a almofada podia ser melhor; o ar condicionado está muito direcionado para a cama; o chuveiro só tem dez modos e podia dar para regular melhor a pressão. Chamo nomes a mim mesmo e penso que antigamente aproveitava as coisas melhor. Quando era um petiz nunca vinha das férias a pensar «Ahh, devia ter aproveitado melhor!». Não. Era tudo ao máximo. Era não ter saudades do passado porque ele não existia e porque se vivia ao máximo o presente. As saudades iam sendo guardadas nos bolsos para mais tarde as sentirmos. No fundo, a vida é isso: a busca incessante por coisas que nos vão deixar saudades.

Ficou um clima pesado, agora. Ao menos não vim para aqui falar do quão espetaculares as minhas férias foram na Croácia, Montenegro e Bósnia só para vos fazer inveja, mas, já que perguntam, foram muito agradáveis. Obrigado.

Sugestões e dicas de vida:

Nunca vão a Bratislava. É tipo o Cacém depois de uma guerra onde só ficaram os feios e a única roupa que têm é um fato de treino.

Se tiverem medo de andar de avião como eu, aconselho vinho tinto. Muito.

Comecem já a fazer desporto que o Verão está quase aí outra vez.