A cinco semanas do dia do apuramento de votos, há uma unanimidade: todas as sondagens continuam a dar folgada vantagem a Biden no voto no conjunto dos EUA. O avanço de Biden está estimado entre os 6 e os 10 pontos percentuais. Mas, há quatro anos, Hillary Clinton também tinha vantagem  (é facto que não tão clara) em quase todas as sondagens e saiu derrotada. Mais importante do que o somatório do voto nacional é o voto estado a estado. Não serve para nada ter, como é previsto, votação maciça na Califórnia e em Nova Iorque mas perder em muitos dos estados pequenos e médios.

Trump nem vai perder muito tempo em campanha, por exemplo, na Califórnia. Este é um estado, com 25 milhões de eleitores, com forte maioria democrata. Estão em jogo 55 delegados no decisivo colégio eleitoral. Não há proporcionalidade. Portanto, Trump já sabe que todos os 55 delegados da Califórnia vão para Biden. Também não adianta ao candidato vencedor arrebatar enorme maioria de eleitores no estado porque, mesmo que a vitória fosse tangencial, teria os mesmos 55 delegados.

Estados médios, na geografia e na população, como o de Minnesota e o de Wisconsin valem, cada um 10 delegados. Estados pequenos como o Iowa ou o Mississipi valem 6 votos. A vitória nesses estados, mesmo que por um voto apenas, pode ser decisiva para o resultado final.

É assim que o foco de campanha nestas últimas cinco semanas está nos eleitores de uns poucos condados de uns poucos dos 50 estados.

Florida, Carolina do Norte, Michigan, Iowa, Ohio e Arizona são estados onde Trump ganhou há quatro anos por pequena diferença (11 mil votos no Michigan) e agora em empate técnico com ligeiríssima vantagem de Biden. Tudo pode acontecer.

Trump venceu por 23 mil votos no Wisconsin (10 delegados), onde agora Biden está com 10 pontos percentuais de vantagem. Na Pensilvânia (20 delegados), Trump ganhou por 43 mil votos e agora Biden tem cinco pontos de avanço. As sondagens sugerem que Biden está mais perto de vencer a eleição, mas muito ainda pode acontecer.

Que influência podem ter os debates em formato de duelo frente a frente? A lenda de efeito decisivo vem do célebre debate de 1960 em que o jovem e telegénico John Fitzgerald Kennedy suplantou o cansado e suado Richard Nixon. Quem escutou na rádio, sentiu Nixon melhor preparado. Mas a imagem deu vitória a Kennedy na televisão. Nos tempos recentes nenhum debate trouxe diferenças substanciais às percentagens nas sondagens. Os debates   podem, isso sim, tirar apoiantes preguiçosos dessa apatia.

No debate desta semana, quanto a Trump, as expectativas são o que são. Vai fazer do palco do debate um ringue para box verbal. É capaz de voltar a agitar o argumento da senilidade de Biden, ainda que a separá-los haja apenas três anos de diferença (Biden, 77, Trump, 74). Biden vai apresentar-se como o candidato da sensatez. Há quem o aconselhe a não perder tempo a argumentar para desmentir Trump e, em vez disso, usar o humor e tentar explorar o ridículo.

Os debates são apenas uma etapa. O folhetim pode começar com a contagem dos votos em 3 de novembro. Trump quer exclui qualquer cenário que não seja a sua confirmação com reeleição. Já deu a entender que não tenciona reconhecer outro resultado. Prepara-se para, se necessário, utilizar recursos como o de questionar a fiabilidade do voto por correspondência.

Estamos perante uma eleição com importância transcendente mas rodeada de desconfianças. Este primeiro debate deve dar pistas sobre o que vai acontecer nas próximas cinco semanas, e também nas seguintes.

A TER EM CONTA:

Lei marcial em Erevan, recolher obrigatório em Baku. O regresso da escalada militar [https://www.bbc.com/news/world-europe-54314341] entre a Arménia e o Azerbaijão é uma ameaça inquietante nas montanhas do Cáucaso.

“Patria”: o pesadelo terrorista no País Basco tal como foi sentido pela mãe de um terrorista da ETA preso e pela mlher de um empresário assassinado pelos terroristas. É uma série que está a ser classificada como “obra de arte”.

Uma primeira página escolhida hoje.