No episódio de suspense que foi o dia de ontem, a equipa técnica de Jesus não terá sido suspensa, mas ter-se-á decidido o fim da linha para o treinador da Amadora em Alvalade. Se tal realmente acontecer, é uma assunção de derrota. Jesus era mais do que o treinador do Sporting, era a promessa de uma revolução na Segunda Circular. Jesus galvanizou os adeptos do Sporting, seduziu-os com a hipótese de serem campeões, pôs a equipa a jogar bom futebol, apesar de ter tido mais do que boas condições a nível de plantel.

A verdade é que o seu enorme ego, que não raras vezes reclama para si o mérito de reconduzir o Sporting ao caminho dos títulos, apesar dos números estarem longe de ser impressionantes, quase que contribuindo para uma lógica de Jesus ou caos, mina a relação de lealdade cega que hoje Bruno exigirá de alguém que trabalhe para ele, tal como exige aos seus apoiantes. No futuro, Bruno de Carvalho quererá alguém que trabalhe não com ele, mas para ele. Com Jesus existia uma certa paridade, uma certa igualdade de posição, que se terá tornado desconfortável em especial no último ano e que agora, em princípio, resultará na cisão.

No entanto, no caos recente que tem sido o futebol profissional do Sporting, Jorge Jesus terá tido um comportamento exemplar no caso da suspensão dos jogadores, após o jogo de Madrid, anunciada pelo presidente no Facebook. Contrariando o que dele se conhece, Jesus conseguiu parecer um homem avisado, de extrema ponderação e com o tacto diplomático para firmar compromissos. Contudo, após mais uma época a acabar em terceiro, agora o alvo da antagonização de Bruno de Carvalho é o próprio Jesus e a sua equipa técnica. Este tipo de balanços e decisões, tendo em conta que o projeto de ser campeão, mais uma vez, falhou, não seriam surpreendentes no fim da época. Agora, ocupar o espaço mediático desta forma e causar esta instabilidade em vésperas de disputar o segundo título nacional mais relevante, poderá resultar em mais um plot twist grotesco na história recente do clube de Alvalade.

Não nos esqueçamos, o Benfica falhou o objetivo do penta, no primeiro ano de vídeo-árbitro, segurou o segundo lugar com muita dificuldade, isto sem jogos europeus desde Dezembro e fora das Taças internas. Se falarmos de expectativas, o Benfica é o grande derrotado desta época. Obviamente que o segundo lugar se torna num elixir de vida, porque as verbas envolvidas num possível apuramento para a Champions alteram todo o planeamento financeiro da próxima época, mas na verdade o clube da Luz esteve muito abaixo do que se esperaria dele e Rui Vitória só não está debaixo de mais fogo porque é muito bem protegido pela direção (convém dizer que também é mais fácil proteger um treinador bicampeão sem grande propensão a fazer rants egocêntricas). Mas o problema do Sporting tem sido, ao longo dos anos, tornar-se no spin dos adversários. Para que é que os outros clubes têm departamentos de comunicação, se o Sporting se presta tão facilmente ao absurdo?

Recomendações

Esta série, na Netflix.

Este documentário, na Netflix.

Este evento criativo.