A análise ao quadro de resultados sugere que muitos dos que em 2017 se empenharam no combate pela independência se cansaram da luta e nestas eleições ficaram em casa.

A esquerda republicana, ERC, de Pere Aragonés e Oriol Junqueras, que até agora liderava o governo catalão caiu de 35% para apenas 13%. Recebeu há dois anos 605 mil votos,  agora apenas 427 mil. 

É facto que os centristas independentistas do Junts,  com o líder Carles Puigdemont “exilado” e a fazer campanha do outro lado da fronteira captam quase 100 mil novos votos e recebem agora o apoio de 674 mil eleitores (21,6%).

Mas a maior subida (+220 mil votos) é dos socialistas, com 873 mil votantes (27,9%).

Os resultados confirmam as previsões das sondagens, exceto em relação à esquerda republicana ERC, que tinha previsão de baixa para 20% e cai ara 13%. A ERC passa da chefia do governo da Catalunha para a oposição, a liderança do partido está muto tremida, resta saber se vai viabilizar o governo do socialista Salvador Illa. 

Há no novo parlamento catalão números para o regresso da aliança “tripartido” de esquerda (PSC+ERC+Comuns), mas essa coligação parece muito difícil de concretizar, porque a ERC está chamada para uma cura de oposição. Há dentro da estrutura da ERC quem esteja a defender o mal menor e o apoio parlamentar ao governo das esquerdas, tal como acontece em Madrid. Esta negociação é de resultado muito incerto.

Carles Puigdemont, embora sem poder entrar em terra de Espanha vai para sete anos (se entrar é entregue à justiça espanhola), já anunciou que vai candidatar-se à investidura para presidente do governo catalão, e quer negociar com os outros partidos independentistas, a começar pela ERC. Não só lhe falta maioria parlamentar para formar esse governo como a forte rivalidade entre os partidos independentistas travaria esse entendimento.

O socialista Salvador Illa (foi ministro da Saúde no governo Sánchez no tempo da Covid) tem fama de bom negociador. Tem várias opções para formar governo, mas todas requerem muito engenho. Vai dar prioridade ao “tripartido” das esquerdas, está visto que é difícil juntar a ERC.  Pode negociar com Puigdemont, mas PSC e Junts parecem incompatíveis. Também pode negociar acordos pontuais com vários partidos e abstenções na investidura. Várias hipóteses, mas todas difíceis.

Paira a possibilidade de recurso à repetição destas eleições em outubro próximo – mas a probabilidade de repetição dos impasses é grande.

Para além de Salvador Illa há outro socialista vencedor nestas eleições, é Pedro Sánchez presidente do governo espanhol. A Lei de Amnistia que apresentou e que desencadeou tanta fúria das direitas espanholistas, tem o apoio de 80% do novo parlamento catalão. À direita, o voto catalão também dá algum fôlego ao líder do PP, Alberto Feijóo, mas ainda continua longe do que precisa conquistar na Catalunha para se impor em todo o Reino de Espanha.

Conclusão principal desta votação: a abertura ao diálogo recompensa o governo das esquerdas em Madrid. Mas a governação da ERC em Barcelona sai castigada.