Confidencia-nos o estudo, de forma suave como se de um arco-íris aparecendo no céu se tratasse, que muitos homens evitam levar sacos para os supermercados, preferindo comprar sempre novos, para não parecerem gay. O medo de parecer gay é perfeitamente legítimo, principalmente por questões alimentares, sendo mais que sabido que os homossexuais só vão ao supermercado comprar courgettes, pepinos, bananas, e quaisquer outros produtos fálicos como um rolo de carne ou um frango inteiro muito magrinho, e acabam por ter uma alimentação debilitada pela falta de variedade. Portanto, é um medo que, ao contrário do que se possa pensar, é extremamente revelador de uma masculinidade forte, segura e contemporânea. Homem que é homem moderno preocupa-se com essas mariquices da alimentação.

Mas dizia eu, então, que este estudo me ajudou a perceber o que se andava a passar comigo, nesta convulsão de emoções interiores que me fazem agora idolatrar a Lady Gaga e ter aulas de pole dance.

Com as crescentes preocupações ambientais, cuja responsabilidade é de todos menos do José Diogo Quintela que insiste em fazer pouco da Greta — porque onde é que já se viu uma criança preocupada com o futuro do planeta onde habita, ridículo —, tentei adoptar pequenas medidas no meu dia-a-dia que acho poderem contribuir, mesmo que em (muito) pequena escala.

Comecei a andar cada vez mais a pé ou de bicicleta, em vez de carro. E, de repente, comecei a sonhar com passeios pelo campo com o Brad Pitt, os dois nus a pedalar naquelas bicicletas para dois. Reduzi a quantidade de carne que como por semana. E, de repente, por amigos por quem antes sentia apenas uma inocente amizade heterossexual, comecei a imaginar-me a besuntá-los em pasta de abacate e sementes de chia para os comer numa tosta de pão integral. Mas a reciclagem já fazia há anos e anos, tal como há anos e anos que sempre que separava plástico de papel, dava por mim a trautear e dançar o 'I Want to Break Free', numa recriação do videoclip dos Queen, mas com separação de lixo em vez de limpeza da casa. Começou aí o descalabro. A reciclagem foi o início da homossexualidade. E como foi para mim, terá sido também para quase todos os homens do mundo com mínimas (mínimas!) preocupações ambientais. Fascinante. Quem diria que a consciência ambiental estaria ligada à sexualidade. Mas se assim é, também o reverso é possível. É só fazermos o oposto para voltarmos à heterossexualidade, com certeza.

Mais vale um planeta numa catástrofe ambiental, sem recursos e cheio de homenzarrões a sério, do que acharem que sou gay por reutilizar inúmeras vezes o mesmo saco para ir às compras.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Serotonina: Livro de Michel Houellebecq.

- Estremoz: Que vila bonita para se passear e comer bem.